Segundo o “El Mundo, a descoberta resulta de dois estudos de fase III, publicados no “The New England Journal of Medicine”, que confirmam os bons resultados verificados nas investigações obtidos na fase II, mas com a novidade de que o fármaco foi experimentado em mais pacientes e durante mais tempo. Com efeito, apurou-se que a sua eficácia se mantém a longo prazo.
Desde que se começaram a utilizar tratamentos antiretrovirais, um dos principais problemas assentava o facto de o vírus revelar-se resistente aos medicamentos.
O estudo envolveu 699 indivíduos com VIH/sida, sendo que 542 foram administradas com raltegravir (também conhecido como MK-0518) e 327 com placebo. Os autores analisaram o efeito do novo medicamento isolado e em combinação com a terapia à base de antiretrovirais já existentes.
Com efeito, os investigadores comprovaram que a resposta virológica ao fármaco passadas 48 semanas, era de 51% no caso dos pacientes que tomaram somente raltegravir, 61% para os que receberam em conjunto com outro fármaco e 71% quando ingerido com outros anti-retrovirais.
No que respeita ao nível de CD4 no sangue, os pacientes que receberam a nova terapia também apresentaram uma melhor reacção.
Face a estas percentagens, os investigadores salientam que «a monoterapia com raltegravir deve evitar-se sempre que seja possível, já que é muito mais eficaz quando tomado em conjunto com outro medicamento e também porque diminui o risco de se desenvolverem resistências ao novo medicamento».
Outra conclusão é que o sexo, a raça e a região geográfica não influencia, a priori, a eficácia do fármaco, apesar dos investigadores reconhecerem a necessidade de mais investigações.
Apesar da taxa de efeitos secundários ter sido frequente, de pouca importância e semelhante em ambos os grupos, os participantes que tomaram raltegravir apresentaram uma percentagem maior de tumores durante o período de tratamento. «Nenhuma evidência de carcinogenicidade surgiu nos dados pré-clínicos. Não obstante, é imprescindível uma vigilância contínua sobre a segurança do medicamento», afirmaram os autores.
Uma nova era no tratamento da doença
Diane Havlir, médica do departamento de Medicina do Hospital General de San Francisco e autora de um artigo, publicado também na mesma revista científica, assinala que alguns efeitos secundários averiguados no início da terapia com raltegravir «reflectiram uma resposta imunitária mais potente e poderia encobrir doenças ocultas».
A especialista sugere que os resultados do estudo «implicam uma nova era para a terapia do VIH/sida (…) mas é fundamental que os novos antiretrovirais sejam sabiamente utilizados para maximizar os seus benefícios e minimizar as resistências. Também é importante repensar as actuais estratégias terapêuticas e estender a investigação destas terapias a outros grupos da população, como, por exemplo, os pacientes infectados com o VIH/sida e que nunca foram tratados».
Para a mesma responsável, o «raltegravir constitui uma arma poderosa no combate à infecção em pacientes com VIH/sida resistente a outros medicamentos».
Contudo, Diane Havlir assinala um ponto fraco da terapia. Para que o vírus se torne resistente ao fármaco apenas necessita de uma mutação e isto aconteceu em 64 pacientes em que o raltegravir não conseguiu diminuir a sua carga viral.
Contudo, salientou que se se observar com atenção «à evolução do tratamento e ao uso acompanhado de outros anti-retrovirais, este perigo pode minimizar-se».
O raltegravir, comercializado pela empresa farmacêutica MSD, integra a nova classe de agentes, conhecida como os inibidores de integrase, que actuam sobre esta enzima, uma das que utiliza o VIH/sida para replicar o seu material genético do ADN das células do paciente.
Os resultados do estudo irão ser apresentados na XVII Conferência Mundial da Sida que irá decorrer, entre os dias 3 e 9 de Agosto, no México.