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Veterinários Portugueses pelo Mundo

Magda Teixeira: “As oportunidades não aparecem, criam-se”

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Médica Veterinária a fazer doutoramento em Biotecnologia em Reprodução Animal na Escola Nacional Veterinária de Lyon. Acredita que criar oportunidades é uma opção para encontrar trabalho na área que escolheu e não pensou duas vezes quando surgiu a oportunidade de fazer um estágio em Paris.

Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?

 

Estou a terminar um doutoramento em Biotecnologia em Reprodução Animal, em que o tema é o congelamento de embriões. Escolhi esta área pois venho de uma família de criadores de gatos e desde cedo me interessei pela reprodução animal, e por tudo o que envolve a gestação.

Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?

 

Na verdade a oportunidade não surgiu, fui eu que a criei. No 6º ano do curso de medicina veterinária fiz um estágio em reprodução de carnívoros, em Paris, que me agradou bastante. Após terminar o curso trabalhei em clínica de pequenos animais, em Portugal, durante um ano, e decidi que gostaria de aprofundar os meus conhecimentos em reprodução. Fiz as malas e mudei-me para Paris, para aprender a língua francesa, e ter mais possibilidades de encontrar um doutoramento nesta área. Após mais três meses de estágio, e um ano de clinica, a oportunidade surgiu na Escola Nacional Veterinária de Lyon.

O que a fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?

 

Durante o estágio apercebi-me que a reprodução animal estava bastante desenvolvida em França. Os criadores (de pequenos animais) procuram com mais frequência os centros de reprodução assistida, permitindo aos médicos veterinários aprofundar melhor os casos clínicos. Há assim um maior investimento na investigação na área da reprodução.

Como é um dia de trabalho normal? O que faz?

 

Tenho projetos de investigação em diferentes espécies (rato, coelho, cão e ovelha). Tento melhorar os protocolos de estimulação ovárica (para obter o máximo de embriões possível), recorro à cirurgia para recuperar esses embriões e de seguida congelo-os. Testo diferentes métodos e diferentes soluções de congelamento, e analiso quais os grupos que se desenvolvem melhor in vitro e in vivo (após transplante). Assim, um dia posso estar a fazer cirurgias no campo e, no dia seguinte, posso estar no laboratório da escola veterinária a analisar os embriões, ou a fazer cultura in vitro.

Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?

A cultura e a língua francesas são bastante semelhantes à cultura e língua portuguesas. Consegui adaptar-me sem problemas, os franceses são bastante recetivos a estrangeiros e posso dizer que aqui também me sinto em casa. A proximidade geográfica permite-me ir a Portugal e de receber família e amigos com frequência.

Do que mais tem saudades de Portugal?

Não há nada como a nossa comida! E só quando estamos longe é que nos apercebemos que o peixe fresco era um luxo, que o salpicão e o queijo fresco um mimo e a pastelaria portuguesa uma verdadeira riqueza! Da família e dos amigos, é claro! Mas felizmente as novas tecnologias e os voos lowcost vão diminuindo o peso da distância e da saudade.

Quais os planos para o futuro?

Gostaria de continuar a trabalhar em reprodução assistida, mas com uma vertente mais aplicada à clínica. Porém mantenho-me aberta a todas as oportunidades e a não fechar portas.

Equaciona voltar a Portugal?

Não excluo essa possibilidade daqui a alguns anos. Mas num futuro próximo pretendo continuar a evoluir e a explorar o meu potencial em França, pois existem mais oportunidades nesta área.

Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?

Aconselho-os a não aceitarem condições de trabalho precárias, que contribuem para a desvalorização da profissão, num círculo vicioso. As oportunidades não aparecem, criam-se. Aconselho-os a não terem medo de sair da zona de conforto e a atravessar fronteiras se necessário. E se a experiência não for um sucesso, todas as experiências são boas, a nível profissional, como pessoal. Se ponderarem uma experiência no estrangeiro procurem apoio e conselhos de colegas que tenham emigrado para o mesmo país, eles terão prazer em ajudar.

Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?

Temos uma excelente formação universitária e somos um povo humilde e esforçado. Acredito que podemos vingar onde desejarmos. Infelizmente, a medicina veterinária no sul da Europa começa a saturar e a crise financeira ainda veio complicar mais a situação. Para dar a volta por cima teremos de fazer uma grande reforma no acesso à profissão, e de melhor valorizar os atos veterinários.

Qual o seu sonho?

Trabalhar em reprodução assistida aplicada à conservação de espécies selvagens.

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