Actualmente, é docente de Imagiologia e Medicina Equinas na Faculdade de Veterinária de Córdoba. Diplomado em Medicina Interna Equina pelo European College of Equine Internal Medicine, faz também parte do corpo clínico do Hospital Clínico Veterinário da Universidade de Córdoba.
Apresentou um workshop prático sobre recolha de amostras biológicas para diagnósticos complementares em equinos durante as XXXII Jornadas Médico-Veterinárias, da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, em Novembro passado.
Para além do workshop, leccionou ainda três palestras, sobre a importância das ecografias na prática ambulatória e sobre o diagnóstico e tratamento da endotoxémia em equinos. Em entrevista à Veterinária Actual falou sobre a realidade do seu país e criticou a falta de preparação que os alunos têm para enfrentar a vida activa no mercado de trabalho.
Veterinária Actual : Pela sua experiência aqui, que diferenças tem notado entre o ensino português e o espanhol?
José Estepa Nieto: Não conheço muito bem a universidade portuguesa mas estive a falar esta manhã com um colega docente sobre como é que introduziram questões como Bolonha e o espaço europeu e pareceu-me que tomaram boas decisões.
Tiveram uma adaptação positiva e teoricamente bastante boa. Não conheço muito outros aspectos para poder opinar sobre eles, mas o impacto da experiência está a ser muito positivo.
Quais foram os pontos principais das suas apresentações?
Fiz apresentações na área de medicina interna equina, centrando-me basicamente no diagnóstico por imagem e ecografia. Esta manhã fiz uma apresentação mais teórica no campo da medicina interna, sobre o problema da endotoxémia. As apresentações de ontem foram mais teórico-práticas, houve mais interacções com os alunos porque, nestes assuntos, também é necessário que assim seja. Penso que a apresentação de ontem, por ser mais prática, foi mais interessante para os estudantes.
Os alunos de Veterinária portugueses queixam-se da saturação no mercado dos pequenos animais. Como é que se pode contrariar esta tendência?
Não sei que percentagem dos alunos aqui escolhe pequenos animais, mas os estudantes de grandes animais que estiveram presentes nas minhas apresentações pareceram-me entusiásticos e não tive de os “convencer” a prestar atenção. Fiquei convencido de que gostam da área de equinos. Claro que há mais desenvolvimento na área de pequenos animais e isso pode ser mais atractivo, mesmo a nível de metodologia. Mas eles pareceram-me muito receptivos e entusiasmados com a área de equinos.
Qual foi a situação ou caso mais marcante da sua carreira?
Bem, acho que não lhe consigo apontar uma em especial. Não há casos fáceis nem difíceis, há situações. Uma patologia muito comum pode revelar-se bastante problemática e causar muitas dificuldades de diagnóstico e de tratamento. Todos os casos têm uma parte interessante.
Em Portugal a luta pelos direitos dos animais é cada vez mais visível e isso nota-se na legislação. Como é a situação em Espanha?
Eu creio que a nível de cuidados o tratamento do animal é muito afectado pelo nível de possibilidades financeiras do dono. Estamos a evoluir a um nível bastante rápido e há cada vez mais movimento nos consultórios. Os donos começam a agir de forma profilática. Os clientes têm mais conhecimento e fazem-nos visitas mais regularmente, em vez de só virem quando o animal está muito mal. Em Espanha, no último ano, houve um nível de desenvolvimento muito importante neste sentido e penso que aqui se verifica o mesmo. A partir do momento em que as sociedades se desenvolvem, nós somos cada vez mais solicitados e, para além disso, cada veterinário tem mais formação, assiste a mais congressos e estuda mais.
Como encara a tradição dos touros de morte em Espanha?
Trabalhei muito como inspector durante o meu primeiro ano de experiência profissional (risos). Trabalhei mesmo na área da inspecção taurina. Se lá trabalhei, confesso que é porque não estava contra, mas a virtude está no meio, no equilíbrio. Estou tanto em defesa do touro como dos aficcionados. Creio que há coisas que são totalmente injustificáveis. Em geral, creio que não é uma situação correcta mas vivo numa sociedade em que isto não é visto como algo mau. O touro é algo muito popular, muito social e isso causa muita polémica mas, por outro lado, há outras coisas que estão mal, como os sistemas de produção intensiva. E não há nenhum grupo social que se oponha a isto abertamente. Não sou a favor nem contra, mas definitivamente não sou a favor de algumas barbaridades que se fazem nas praças de touros. É algo a que me oponho profissionalmente mas está tão enraizado socialmente que não se pode fazer nada.
O que se pode melhorar no ensino da Veterinária?
Apesar de isto estar a mudar, a relação sociedade-universidade não está fomentada tanto quanto deveria. Há muito a ser feito nas sociedades e nas universidades para que o aluno se possa integrar na sociedade e no mercado de trabalho mais facilmente. Penso que deveria haver uma disciplina que ensinasse ao aluno as melhores formas de se implementar no mercado profissional, quais as diferentes possibilidades que pode seguir. Seria interessante que dentro das instituições, dentro dos centros, se pudesse ensinar ao aluno não somente as questões meramente profissionais, mas também como sair para a sociedade, como montar uma clínica, quais as diferentes facetas que um veterinário pode exercer na sociedade, e não reduzir tudo à parte médica, cirúrgica e de produção animal. Ensinam-nos a ser bons com os animais e a sermos bons veterinários mas, para exercer medicina e para se fazer cirurgias, é necessário que haja uma clínica instalada. E sobre isso não temos nenhum conhecimento. É um lado mercantilista, mas de grande importância, porque grande parte do fracasso profissional se deve à falta de conhecimentos nesta mesma área e não à resolução dos problemas veterinários em si.
Quando escolheu o sector veterinário como profissão, que objectivos tinha em mente alcançar?
De forma ideal, quando alguém começa um percurso profissional tem que ter claro na sua cabeça onde quer chegar. Eu sempre tive em mente que gostava da área bio-sanitária e com 18 anos queria seguir Biologia. Mas naquela altura também gostava de Veterinária e foi o que acabei por seguir. Dentro da profissão, gostava muito de cavalos, mas ao princípio, devido a restrições económicas e sociais, entre outras, não me pude dedicar aos cavalos. É importante haver algo que gostemos de fazer mas por vezes as condições nem sempre o permitem. Felizmente, consegui reorientar o meu percurso profissional e consegui: primeiro, entrar em Veterinária e depois, o segundo objectivo, que era trabalhar com cavalos. Mas também fiz outras coisas dentro da Veterinária que não estavam relacionadas com o meu percurso original. Não podemos fazer só o que gostamos. Por vezes, as outras ocupações também nos ajudam a chegar ao nosso objectivo.