Veterinária Actual – A sua primeira opção profissional estava relacionada com a área da biologia e da genética. De que forma estas se ligam com a oncologia veterinária?
Joaquim Henriques – O cancro é das doenças mais estudadas actualmente, e tenta-se perceber-se não só o que se pode aplicar como terapêutica, mas o que provoca a doença e o seu comportamento biológico. Alguns mecanismos genéticos de certos tumores são muito conhecidos, por exemplo, há linfomas que sabemos que têm alterações genéticas ou cromossómicas características, e que algumas dessas alterações também podem estar relacionadas com a infecção por vírus.
No campo terapêutico também já se fala em terapêutica génica, em que se pode conseguir manipular as células e introduzir “promotores de morte”, programando-as para morrer.
Portanto, é fundamental conhecer os mecanismos biológicos da oncogénese e as alterações genéticas associadas para se poder entender e estudar novas abordagens diagnosticas e terapêuticas.
– O avanço no desenvolvimento deste tipo de tratamento é semelhante na área humana e na veterinária?
– As grandes investigações andam par a par nas duas áreas. Hoje em dia, uma das grandes mais-valias na área da oncologia é o recurso a cães e gatos como modelos naturais, nos quais os tumores surgem de maneira espontânea.
Isto é muito importante, porque estes animais estão sujeitos ao mesmo ambiente e factores de risco que os seres humanos e podem receber o mesmo tipo de terapêutica. Há estudos que apontam para um aumento da probabilidade de desenvolvimento de linfoma, em seis vezes, num gato que viva com um fumador.
Na veterinária temos é menos dinheiro, mas nos EUA o Instituto de Saúde lançou um programa nacional em que dá tanta prioridade à oncologia veterinária como à humana, o que faz com que, entre outras iniciativas, esteja a ser criado um banco de tecidos de tumores animais, porque se sabe que muitos tumores têm comportamento biológico semelhante aos desenvolvidos em pessoas.
Portanto, ao estudarmos factores de risco, alterações genéticas e opções terapêuticas num animal, podemos obter resultados muito mais rápidos do que numa pessoa. Por exemplo, o período de remissão de um linfoma num cão anda à volta dos 12 meses enquanto que numa pessoa rondará os 5 a 6 anos. Desta forma, é possível obter informações sobre a resposta ao tratamento e comportamento biológico num período temporal muito mais curto do que no caso de realização de testes em humanos. Além disso, é possível monitorizar as condições em que o tratamento é feito, porque o cão come sempre a mesma ração, vive praticamente sempre no mesmo ambiente, e sabemos exactamente ao longo desse ano o que o animal fez, enquanto que uma pessoa está sujeita a imensas variáveis e factores externos.
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