A distinção na área clínica dos Prémios Pfizer 2007 coube a uma investigação sobre "A avaliação dos marcadores bioquímicos de formação óssea e as suas correlações com os minerais séricos durante o processo de dimensão crítica ao nível da tíbia na ovelha como modelo experimental de investigação em ortopedia".
À longa designação corresponde, também, uma extensa lista de investigadores que recebeu o prémio pela mão do ministro da Saúde, António Correia de Campos, no passado dia 9 de Outubro, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Os autores foram Isabel Dias, Carlos Viegas, Jorge Azevedo, Paulo Lourenço, Emília Costa, Adriano Rodrigues, António Ferreira, Rui Reis e António Cabrita, ligados às Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Coimbra, Técnica de Lisboa, Minho e Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia.
A investigação centrou-se na cicatrização de facturas ósseas, muito em particular na tíbia de ovelhas. O estudo sugere que há indicadores bioquímicos que podem revelar a probabilidade de complicações futuras na regeneração dos ossos afectados.
Isabel Dias, a oradora escolhida pela equipa para apresentar o trabalho, considerou este prémio o reconhecimento de um trabalho «muito gratificante e moroso», que trouxe resultados «bastante significativos para a monitorização de fracturas a nível sérico», e que pode constituir «um bom complemento à monitorização radiográfica de fracturas que podem evoluir para um nível de não união ou de atraso de uniões».
Na opinião da professora auxiliar do Departamento de Ciências Veterinárias e responsável pelo Sector da Cirurgia do Hospital Veterinário da UTAD, este trabalho «permite extrapolar as conclusões directamente ao Homem». Isto porque «a ovelha é considerada um dos melhores modelos para estudos dentários e da traumatologia e regeneração óssea».
Explanando o ensaio, elucidou que «os processos de atraso de união e de não união óssea constituem complicações reconhecidas do processo de cicatrização das fracturas dos ossos longos no organismo adulto, muito especialmente da tíbia no Homem». Daí que saliente que este trabalho «abre uma porta no sentido do pseudo-complemento de uma regeneração óssea de fracturas com problemas de reabilitação, […] por monitorização de certas moléculas a nível da corrente sanguínea e que são produzidas pelas células do tecido ósseo».
A investigadora explicou ainda que, «no geral, quando uma fractura tende a regenerar, essas moléculas, neste caso a fosfatase óssea e a osteocalcina, estão mais elevadas do que em situações em que ocorre um atraso ou uma não união, onde os níveis séricos se demonstraram sempre mais baixos, ou seja, significativos de uma actividade osteoblástica expressiva».
Ainda de acordo com as palavras da membro fundadora da Sociedade Portuguesa de Ciências em Animais de Laboratório, devido aos resultados promissores, deverão ser realizadas investigações posteriores, «para determinar se as alterações verificadas neste estudo constituem respostas orgânicas específicas ao nível do local da fractura óssea, em conformidade com as células presentes e os tecidos formados a este nível e ao longo das várias fases de evolução do processo de cicatrização óssea».
Futuramente, a equipa irá trabalhar com o Grupo dos 3Bs, da Universidade do Minho, «que actua na área da regeneração óssea pela Bioengenharia, ou seja, biomateriais absorvidos por células autólogas».
Confiante na aplicação dos resultados desta investigação em humanos, Correia de Campos, ministro da Saúde, afirmou que, no futuro, «de certeza» será um dos utilizadores de alguns destes estudos.
100 mil euros para 3 equipas
Enaltecendo a decisão da Pfizer abdicar do jantar de gala na cerimónia de atribuição dos prémios, aumentando assim o valor dos prémios, num total de 100 mil euros – cabendo 60 mil à bolsa de investigação e 20 mil a cada um dos trabalhos na área da investigação -, Correia de Campos afirmou que a decisão «é uma prova de cidadania» e avaliou os prémios como «talvez os mais prestigiados da área cientifica nacional».
Resultado de uma parceria entre os Laboratórios Pfizer e a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, responsável pela avaliação e selecção dos trabalhos premiados, estes prémios nasceram em 1956.
Na edição de 2007 foram recebidas 53 candidaturas, tendo sido galardoado, na área da investigação básica, um trabalho sobre “A formação dos centrossomas: será preciso um molde?", elaborado por Ana Rodrigues Martins e Mónica Bettencourt-Dias, do Instituto Gulbenkian da Ciência, e atribuída a Bolsa Pfizer de Investigação em Envelhecimento e Geriatria Professor Xavier Morato ao estudo subordinado ao tema "Avaliação da resposta ventricular esquerda à estenose aórtica na população idosa antes e após tratamento cirúrgico: correlações clínicas, morfofuncionais e moleculares". Os autores são Adelino Leite-Moreira, Cristina Gavina, Inês Falcão Pires, Roberto Roncon-Albuquerque Jr., André Lourenço, Antónia Teles e Marta Oliveira, todos investigadores no Serviço de Fisiologia, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.