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Doença Hemorrágica Viral: Existem relatos de que as mortalidades podem chegar aos 80%

Doença Hemorrágica Viral: Existem relatos de que as mortalidades podem chegar aos 80%

No terreno é bem visível a diminuição do coelho-bravo, mas pouco se sabe sobre o vírus da Doença Hemorrágica Viral, o grande causador das elevadas taxas de mortalidade. Falámos com a investigadora Joana Abrantes que explicou como uma nova variante do vírus pode colocar em causa as populações de coelho-bravo.

Como surgiu o interesse em investigar o vírus responsável pela Doença Hemorrágica Viral?

Durante a minha tese de doutoramento em co-evolução parasita-hospedeiro, o principal objetivo era o estudo de genes do hospedeiro (o coelho-bravo) envolvidos na resistência ao parasita (o vírus da Doença Hemorrágica Viral). A determinada altura surgiu a oportunidade de olhar também para o vírus e estudar a sua evolução e quais os mecanismos envolvidos. Os resultados obtidos fizeram-nos querer saber mais sobre este vírus, em particular na Península Ibérica, onde o coelho-bravo é considerado uma espécie chave do ecossistema.

 

Quais as principais conclusões do estudo?

Uma das principais conclusões do nosso estudo é que até 2011 a evolução do vírus na Península Ibérica era muito diferente da que se verificava em outros países. Nesses países, a evolução do vírus é marcada pela sucessão de diferentes grupos genéticos, isto é, genogrupos. Na Península Ibérica apenas verificamos a presença do grupo genético original, isto é, daquele que originou os primeiros surtos em finais dos anos 80 (genogrupo 1). Ou seja, a evolução do vírus na Península Ibérica é marcada por um forte isolamento genético que poderia estar relacionado com o património genético único do coelho-bravo relativamente aos coelhos do resto do Mundo de que dele derivam, ou pelo facto dos Pirenéus funcionarem como uma barreira geográfica para a entrada de estirpes virais pertencentes a outros grupos genéticos. No entanto, em 2012 constatamos que a nova variante do vírus da Doença Hemorrágica Viral, pertencente a um grupo genético novo e que foi detetada em França em 2010, começou a infetar e a causar mortalidade em Portugal (havia já relatos em Espanha desde 2011). Esta nova variante, ao contrário de estirpes de outros genogrupos, conseguiu chegar à Península Ibérica e dispersar-se. O que estamos neste momento a tentar perceber foi o que determinou este “sucesso” da nova variante.

 

O que está em causa?

As populações de coelho-bravo da Península Ibérica, embora continuassem a ser afetadas pelo vírus da Doença Hemorrágica Viral, estariam já a caminho duma situação de equilíbrio, isto é, o vírus continuava a provocar mortalidades, mas as taxas seriam muito inferiores àquelas verificadas nos surtos iniciais. Isto leva-nos a crer que as populações teriam já desenvolvido alguma resistência. Com o aparecimento desta nova variante, que apresenta mais de 15% de divergência relativamente às estirpes que estavam a circular na Península Ibérica, a resistência desenvolvida deixou de ser tão significativa, uma vez que foi desenvolvida em resposta a uma outra variante. Ou seja, as populações de coelho-bravo que se encontravam a recuperar estão agora a ser atingidas por um vírus que, não sendo totalmente novo, tem características novas que lhe permite contornar essa resistência.

 

Como descobriram esta nova variante do vírus e como afeta os animais?

Esta nova variante foi descoberta em França em 2010. Em 2011 começaram a chegar-nos relatos da presença desta variante em Espanha. Em finais de 2012 recebemos no nosso laboratório amostras de coelho-bravo encontrados mortos no campo com lesões típicas de Doença Hemorrágica Viral. A amplificação por RT-PCR de ARN obtido a partir de amostras de fígado e posterior sequenciação e comparação com sequências conhecidas permitiu-nos concluir que estavam infetadas com a nova variante.

 

Nota: Ler entrevista na íntegra na edição de dezembro da VETERINÁRIA ATUAL

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