Quantcast
 

Desparasitação precisa-se!

Desparasitação precisa-se!

Desparasitar o animal de estimação é uma necessidade imperiosa. Não só por questões de saúde do animal, como do próprio dono e de todo o seu meio envolvente, dado que há o perigo de transmissão ao Homem. O médico veterinário tem consciência da importância desta questão, sendo que o “elo mais fraco” reside no proprietário, pois há vários factores que levam ao esquecimento de desparasitar o animal. A resolução pode passar por campanhas de prevenção de âmbito nacional ou mesmo soluções terapêuticas mais fáceis de administrar.

As patologias dos animais de estimação afectam sempre os seus donos. De uma perspectiva emocional há sempre uma angústia associada, pois aqueles que são considerados os “companheiros” estão a sofrer. Contudo, as doenças dos animais podem atingir, literalmente, os proprietários e aí estamos perante casos de zoonose. Os parasitas são um exemplo bem vincado de situações que podem terminar na contaminação do Homem.

Assis Costa, director-clínico da Clínica Veterinária João XXI, em Lisboa, considera que, nos dias de hoje, «cada vez mais os humanos coabitam com animais de companhia, seja por simples gosto e identificação pessoal ou mesmo como forma de ultrapassar e melhorar o quotidiano stressante».  A amizade e o companheirismo que um animal de estimação proporciona «faz com que estes assumam um papel de importância crescente na vida das pessoas», acrescenta.

 

Podendo então afectar a saúde dos animais e das pessoas que com eles convivem, os parasitas podem ser divididos, «de uma forma generalista, em endoparasitas ou parasitas internos (ténias, lombrigas, dirofilária) e em ectoparasitas ou parasitas externos (pulgas, carraças, piolhos e ácaros)», refere Maria João Vieira, do Clinicão – Hospital Veterinário, na Figueira da Foz. Posto isto, e uma vez que há uma «grande diversidade de agentes parasitários, os possíveis problemas que advêm do parasitismo são muito variados». 

Deste modo, relativamente ao parasitismo intestinal, «o grau de infestação é diverso, condicionando assim o tipo e a severidade dos sinais que possam evidenciar». No rol de sintomas mais comuns, segundo a médica veterinária, estão «a presença de vómito, diarreias, perda de peso, anemia, pêlo quebradiço, diminuição do sistema imunitário, entre outros».

 

No respeitante aos ectoparasitas, quando é caso de presença de pulgas «podemos observar irritação, prurido local e dermatite alérgica à sua picada. Como as pulgas são hematófagas podem originar quadros de anemia, principalmente em animais jovens». A também docente da disciplina de Clínica de Animais de Companhia, na Escola Universitária Vasco da Gama, salienta que «as pulgas são o hospedeiro intermediário da ténia mais comum em cães e gatos (Dypilidium Caninum) e que podem, igualmente, transmitir anemia infecciosa felina».

As carraças são outro tipo de parasita externo muito frequente, sendo que através da sua picada «podem transmitir agentes protozoários responsáveis por babesiose e erlichiose». Não obstante, a médica veterinária do Clinicão – Hospital Veterinário sublinha que um tipo de parasitismo com algum impacto regional é a dirofilariose, provocada por um nemátode chamado Dirofilaria immitis. A sua distribuição no país não é uniforme, havendo zonas de grande prevalência e áreas em que não existe. Este parasita instala-se na circulação sanguínea, nomeadamente nas artérias pulmonares levando a casos gravíssimos de insuficiência respiratória e cardíaca».

 

Porém, de acordo com Rodolfo Neves, «actualmente, acredita-se que muitos dos animais manifestam infecções subclínicas, ou seja, sem apresentação de sinais, mas contaminando o meio ambiente, pondo em risco outros animais e o Homem». O product manager de animais de companhia da Intervet Schering-Plough alerta ainda que «a giardia é um parasita que está a tornar-se emergente, tanto no cão e gato, como no Homem». Na verdade, presentemente é «o parasita gastrointestinal mais frequente nos humanos, mesmo nos países desenvolvidos, provocando sinais gastrointestinais e muitas vezes causa diarreia crónica». No campo das zoonoses, refere ainda a prevalência de «infecções de larva migrante visceral, larva migrante cutânea e hidatidose».

Num cenário destes, a desparasitação «é uma boa prática médico-veterinária fundamental para garantir um bom estado geral do animal de companhia», afirma Ana Leal Moura, product manager Frontline & Other Parasiticides da Merial, reforçando que, «não apenas por permitir que o animal se encontre no melhor estado sanitário possível aquando da realização de actos médicos, como por exemplo a vacinação (permitindo a melhor resposta do sistema imunitário), como também pelo carácter zoonótico que muitos destes parasitas possuem, podendo pôr em causa a saúde dos seus donos». Mas não se pode esquecer que, «naturalmente existem outros factores que influenciam o estado geral do animal, nomeadamente a alimentação e demais cuidados de higiene».

 

Os animais de companhia deverão, então, «ter uma assistência médica ideal, nomeadamente um bom planeamento de desparasitação, para que não contaminem os agregados familiares em que estão inseridos ou outros animais, ou seja, para evitar zooantroponoses e zoonoses», garante Assis Costa. Neste sentido, «é de fundamental importância que sensibilizemos os nossos clientes de que deverão cumprir consciente e escrupulosamente os planos de desparasitação que lhe são aconselhados». 

Prevenção é a estratégia

De forma a focar a atenção dos donos para a saúde animal, o director clínico da João XXI acredita que «dever-se-ia realçar que um animal que não seja correctamente desparasitado terá um sistema imunitário deficiente, pois o parasitismo intestinal causará alteração da mucosa intestinal onde são produzidos linfócitos T, linfócitos Helper e células NK, que constituem a base do sistema imunitário». 

Já relacionado com o programa de desparasitação, «é desejável que este seja traçado de forma a que os nossos clientes sejam capazes de cumprir o tratamento profiláctico por iniciativa e responsabilidade próprias».
Para alertar os donos sobre a importância da desparasitação, «o médico veterinário tem o dever de informar quais as consequências do parasitismo, tanto para os animais como para as pessoas e pode fazê-lo nas consultas de rotina», declara Maria João Vieira, acrescentando que outra forma de sensibilização para o problema é o «fornecimento de folhetos informativos sobre as diversas parasitoses, consequências e estratégias de prevenção».

Como as parasitoses são situações clínicas muito frequentes, a docente da Escola Superior Vasco da Gama assegura que «adoptam-se estratégias de incentivo à prevenção mais do que estratégias de diagnóstico e tratamento». Estão dependentes «do tipo de parasita em questão mas, de uma forma geral, como medidas preventivas temos as de carácter ambiental (sensibilizar os donos a recolherem as fezes dos animais da rua, antiparasitários de uso ambiental, entre outras) e as medidas de prevenção no animal com o uso de produtos tópicos ou por via oral (muitas vezes associam o efeito terapêutico a um efeito preventivo). Hoje em dia já existem no mercado inúmeros produtos com este tipo de indicações e de fácil aplicação».

Assis Costa corrobora a opinião de que «os actuais avanços técnicos, permitem o uso de fármacos bastante seguros e efectivos de forma a prevenir dirofilariose, parasitas intestinais, pulgas, carraças e outros parasitas», sendo que neste campo «nós, médicos veterinários, somos os únicos profissionais capazes de cabalmente escolher e desenvolver o melhor programa para os animais de estimação dos nossos clientes». Para o director-clínico da João XXI, devido aos constantes avanços médicos e à crescente informação disponível para os donos consultarem, a Medicina Veterinária Preventiva é cada vez mais importante». Deste modo, defende que «temos de acreditar que a aposta nos meios profilácticos é o caminho a seguir. Para além de focar os problemas que poderão surgir com a não desparasitação, devemos sempre referir as vantagens da medicina veterinária preventiva dando garantias de que os animais de estimação terão muito mais condições para viverem mais felizes e saudáveis».

A verdade é que os casos de prevenção eficaz «se traduzem na ausência de patologia associada a parasitismo», sublinha a médica veterinária da Figueira da Foz, acrescentando que «nesta zona do país, em que a dirofilariose é uma doença muito prevalente, a prevenção tem um efeito muito benéfico, não só no relativo ao desenvolvimento larvar no animal em caso de infecção, mas também porque leva a uma quebra no ciclo de vida do parasita com uma tendência a uma diminuição da incidência desta patologia».

Consequências da não desparasitação

O proprietário reage aos conselhos do médico veterinário de forma muito variável. No caso da desparasitação, «quase todos eles seguem os conselhos iniciais (no âmbito da primeira consulta)», informa a médica veterinária do Clinicão – Hospital Veterinário, que ressalva que «o número de proprietários que deixam de seguir estes conselhos aumenta durante o tempo entre as consultas».

Os factores na base desta situação são muito diversos, tais como: «mau aconselhamento por outros agentes (farmácias, lojas de animais, amigos, familiares, etc.); constrangimentos económicos; “má experiência” com desparasitantes utilizados (reacções adversas ou insuficientes, etc.) e dificuldade de percepção das consequências de uma má desparasitação».

E o resultado: «debilidade na saúde do seu animal, o que poderá levar a novas consultas e despesas adicionais no futuro; transmissão de zoonoses do animal para o seu proprietário ou coabitantes; e contaminação ambiental, que pode afectar pessoas e animais no futuro e contribui para a eternização do problema». 

A médica veterinária ilustra a situação com um caso de parasitismo com complicação por obstrução intestinal que lhe passou pelas mãos. Um «cão jovem com sinais de obstrução intestinal (anorexia, dor abdominal e vómito fecalóide) que nunca tinha sido desparasitado apresentava sinais ecográficos de intussuscepção intestinal confirmados por laparotomia exploratória. A obstrução intestinal foi devida a intenso parasitismo por nemátodes (lombrigas), sendo que após a resolução cirúrgica, o animal foi desparasitado, havendo resolução completa do quadro clínico».

Agente sensibilizador

O papel do médico veterinário é preponderante para a sensibilização e educação do proprietário da importância da regularidade das desparasitações, de modo a prevenir em vez de tratar. «É igualmente muito importante o correcto levantamento dos riscos parasitários associados a cada caso, permitindo as escolhas mais eficazes adaptadas a cada situação», esclarece Ana Leal Moura, alertando que, «por vezes ocorre a tendência de, com vista a não onerar demasiado o acto da desparasitação/aconselhamento, optar por uma solução “tudo em um” que, no entanto, pode não coincidir com as soluções mais eficazes para cada um dos problemas». Neste sentido, argumenta que «será importante um trabalho de valorização da temática da desparasitação, na população em geral e veterinária em particular, para que se permitam as melhores combinações existentes no mercado, no que confere à protecção eficaz contra os reais riscos individuais».

Mas, de um modo geral, «existe uma consciência por parte da classe médico veterinária da importância da temática da desparasitação». Para a product manager da Merial, esta consciencialização tem sido «crescente, inicialmente muito direccionada para o tratamento, mas actualmente já mais numa perspectiva de prevenção, o melhor modo de efectuar uma luta eficaz no combate aos parasitas externos dos animais de companhia». E o tratamento e/ou a prevenção das doenças parasitárias nos animais de companhia «é actualmente uma prática integrada nas actividades dos médicos veterinários e de (alguns) donos dos animais».

Ana Leal Moura destaca ainda que «a permanente investigação e produção de novas moléculas e novas combinações na área das parasitoses, (área que os laboratórios têm vindo a apostar fortemente), e a consequente introdução no mercado desses novos produtos com as múltiplas acções associadas (acções de marketing, acções de sensibilização na clínica, ao médico veterinário e à sua equipa, colóquios temáticos, acções junto do grande público), permitem um aumento do reconhecimento desta questão». No entanto, ao nível do detalhe e das importâncias relativas de cada uma das parasitoses, «muito há ainda para desenvolver com vista a uma optimização das acções». Como exemplo, refere «a necessidade de um conhecimento profundo do ciclo de vida das pulgas para que se possa efectuar um controlo verdadeiramente eficaz, denominado controlo integrado de pulgas» e a «a grande relevância dada a alguns parasitas que, apesar de efectivamente presentes a nível regional, por vezes têm uma taxa de incidência consideravelmente inferior numa determinada região quando comparada com a importância dada, o que pode desviar o cerne da desparasitação efectiva».

Por outro lado, «a existência de estudos científicos locais, bem como todo o suporte técnico de que os médicos veterinários possam usufruir por parte das entidades responsáveis certamente ajudará no afinamento das escolhas verdadeiramente indicadas para cada animal, em função das cargas parasitárias potenciais na sua área de residência/deslocação», conclui.

Medicamentos mais fáceis de administrar

Rodolfo Neves defende «a necessidade de conseguir educar os donos dos animais a efectuar quatro desparasitações anuais, ao invés das duas que geralmente efectuam». Todavia, este ponto «não se deve ao desconhecimento dos médicos veterinários, nem à falta de transmissão de informação por estes aos donos, mas sim à dificuldade dos proprietários em se lembrarem ou conseguirem desparasitar os seus animais». Na sua perspectiva, uma acção correctiva passaria por «uma campanha nacional de esclarecimento aos donos dos animais».

Outra das necessidades que aponta está relacionada com a Indústria farmacêutica veterinária, na sua óptica, é preciso «desenvolver medicamentos que sejam mais fáceis de administração, pois uma das queixas mais frequentes dos donos é a dificuldade em administrar comprimidos aos cães e gatos». Na verdade, o product manager da Intervet Schering-Plough argumenta que, «resolvendo-se esta questão, reduzir-se-á, pelo menos em parte, as dificuldades em desparasitar associadas ao proprietário, pois a desparasitação passaria a ser um acto mais fácil e regular».

Este site oferece conteúdo especializado. É profissional de saúde animal?