Esta ideia que já é praticada noutros países europeus, foi defendida ontem, em Cascais, durante a conferência "Organização da Prestação de Cuidados", um projecto da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG) e da Fundação AstraZeneca, destinada à discussão e comparação da realidade nacional e os sistemas holandês, inglês, francês e dinamarquês.
No caso da Dinamarca, Tina Eriksson explicou que as tecnologias de informação funcionam como uma «ferramenta de partilha de cuidados», que possibilitam aos doentes e aos clínicos rever todo o seu historial, marcar consultas, informar-se sobre medicação e ver resultados de exames. «Também realizamos consultas via Internet em alguns consultórios, o que será obrigatório a partir do próximo ano», contou a médica de família dinamarquesa.
Contudo, de acordo com a profissional de saúde, a concentração de dados em sistemas informáticos pode acarretar alguns problemas, como a possibilidade de sobrecarga da informação, a susceptibilidade perante cortes de energia, a necessidade de garantir a segurança dos dados e eventual redução da avaliação médica, limitando-se ao registo armazenado.
Por outro lado, estas eventuais desvantagens não impedem que se reconheça a necessidade «fundamental» de cruzar informações da prática médica num só sistema.
Quem o diz é a directora do departamento de Clínica Geral da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e comentadora da conferência, Isabel Santos, que defende a inclusão desta medida na reforma portuguesa dos cuidados de saúde primários iniciada em 2005 e relativa à constituição de unidades de saúde familiar (USF) e de agrupamentos de centros de saúde (ACES).
«Temos um programa informático que não é meramente administrativo e já gere dados clínicos, mas há que melhorar este sistema e dar feedback dos resultados. É preciso que os profissionais saibam quem é o responsável e tenham acesso directo aos gestores do sistema», afirmou à “Lusa.”
Após a apresentação dos modelos dinamarquês e holandês, Isabel Santos defendeu ainda a «importação» de mais duas medidas que permitiriam combater a «falta de organização» nesta área, em Portugal, através de uma maior definição de normas orientadoras da prática de clínica geral e do reforço da componente académica e da produção literária científica.
O sócio fundador da APMCG e responsável pela Comunicação e Planeamento Estratégico da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, Vítor Ramos, apresentou uma visão semelhante ao considerar a montagem de um sistema informativo nacional e a criação de guidelines orientadoras constituiriam dois mecanismos importantes para o país.
Em declarações à “Lusa”, o médico e presidente da conferência distinguiu a autonomia dos profissionais dinamarqueses mas lembrou que esta é precisamente uma das linhas orientadoras da actual reforma.
«A reforma das USF visa dar às equipas a responsabilidade de organizar, de pôr a inteligência a funcionar. Os três conceitos-chave são proximidade, trabalho em equipa e autonomia, e como há esta vertente de individualidade, todos querem dar uma boa imagem e querem ensaiar formas inovadoras», disse.
Vítor Ramos salientou ainda a necessidade do actual processo ajudar a criar condições para que a medicina familiar seja valorizada pela população e se torne mais atractiva para as novas gerações de profissionais.
Cuidados primários: Médicos defendem concentração de dados clínicos
A criação de um sistema informático que disponibilize históricos de saúde a clínicos gerais e utentes é uma das principais medidas a integrar na actual reforma dos cuidados de saúde primários, noticiou o “Diário Digital”.