O ‘burnout, ou o síndroma do esgotamento profissional, afeta diretamente cerca de 17,3% dos trabalhadores portugueses e coloca em risco cerca de metade, de acordo com um estudo recentemente realizado no país. Segundo a Rádio Renascença, o estudo é da autoria de João Paulo Pereira, que entre 2008 e 2013 inquiriu cerca de 40 mil portugueses, e descreve o burnout como “um fim de linha” com algumas “reações menos naturais no comportamento de uma pessoa”.
Para além da falta de energia, a perda de prazer naquilo que se está a fazer, o sentimento de falta de recompensa e reconhecimento, o burnout caracteriza-se, de acordo com a Rádio Renascença, por um sentimento de “incongruência entre os valores da pessoa e aquilo que entende serem os valores da instituição em que trabalha”.
As áreas médicas são das mais afetadas pelo síndrome. De acordo com uma investigação do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), 47,8% dos médicos e enfermeiros revelavam níveis de burnout elevados e cerca de 21,6% mostravam sintomas moderados.
Carlos Cortes, presidente da Secção Centro da Ordem dos Médicos, ouvido pela Renascença, realizou um estudo alargado sobre o burnout entre os médicos da região, com visitas e várias reuniões junto dos médicos.
“Foram sempre reuniões com uma participação acima daquilo que era esperado. Recordo-me de uma onde talvez estivesse presente na sala 70% do corpo médico, ou mais, daquele centro hospitalar”, revela à rádio.
De acordo com o médico, os casos apresentados durante o estudo “são muito sintomáticos de um Sistema Nacional de Saúde (SNS) a braços com cortes financeiros, a falta de recursos humanos e materiais e a dificuldade em levar as pessoas a aderir às consultas, fruto da crise económica”.
Um dos médicos que participou nestas reuniões referia também a falta de motivação. “Hoje a medicina nada tinha a ver com a medicina de antigamente”, explicava. De acordo com Carlos Cortes, existem médicos que abandonaram o SNS por “terem a sensação de todos os dias estarem a lutar contra a adversidade”.
Mas afinal quais os principais fatores a contribuírem para o burnout? João Paulo Pereira explica à Rádio Renascença que o síndrome está ligado a três principais fatores: “a realização pessoal, a exaustão e o cinismo”.