A primeira menção ao burnout foi feita em 1974, mas só em 2010 é que a Organização Internacional do Trabalho o passou a incluir na lista de doenças profissionais. O síndrome do esgotamento profissional representa um custo anual de 300 mil milhões de dólares, só nos EUA, e tem feito somar cada vez mais casos de suicídios de profissionais na medicina veterinária, em particular.
Em Portugal, o Barómetro de Riscos Psicossociais publicado em 2017, revelava que cerca de 17,3% dos trabalhadores portugueses eram afetados pela síndrome, uma percentagem que sobe em profissões em que os profissionais estão expostos a situações de stresse, como é o caso da medicina veterinária, em que todos os dias se somam casos de suicídios.
O que é o burnout?
Além da elevada instabilidade emocional, o burnout caracteriza-se por sinais como:
– Alterações nos ritmos de sono (interrupções de sono, insónias ou sensação de acordar cansado);
– Alterações de apetite (aumentou ou perda);
– Dificuldades de concentração e de memória;
– Sentido de humor sarcástico e ‘corrosivo’;
– Perda de interesse em atividades que anteriormente davam prazer;
– Dores físicas
Um estudo publicado pela Merck em colaboração com a American Veterinary Medical Association (AVMA) no início deste ano analisa a prevalência da síndrome de esgotamento profissional na veterinária e mostra números preocupantes. Um deles é que a experiência de trabalho é tão impactada pelo stresse que, entre os médicos veterinários com 45 ou menos anos de idade, apenas 27% recomendaria a profissão a amigos ou familiares.
Segundo o documento, um em cada 20 médicos veterinários sofrem de stresse psicológico extremo, mas quando se segmentam os dados por idades rapidamente se percebe que este stresse tem mais impacto nos médicos veterinários mais jovens, que reportam stresse emocional e financeiro relacionado com a vida profissional. Além disso, a depressão (94%), o burnout (88%) e a ansiedade (83%) são as condições psicológicas mais reportadas por estes profissionais neste estudo.
Nos EUA, em particular, estas condições estão muito associadas ao nível de endividamento que os jovens profissionais enfrentam assim que terminam a sua formação. Os inquiridos pelo estudo da Merck e da AVMA dizem, inclusive, que os maiores problemas que os jovens profissionais enfrentam hoje em dia são os níveis de stress (53%) e as elevadas taxas de suicídio (52%), problemas de saúde mental associados também às excessivas horas de trabalho e falta de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
“Os veterinários hoje em dia lidam com uma profissão altamente exigente física e emocionalmente e que está a atravessar mudanças com a cada vez maior competitividade e incapacidade dos clientes para pagar pelos cuidados prestados. Além de tudo isso, os médicos veterinários muitas vezes têm que abdicar de áreas que poderiam melhorar o seu bem-estar e oferecer uma vida saudável, como a família, os amigos e o tempo para cuidarem de si próprios”, sublinha Jen Brandt, da AVMA.
‘Mente Sã, Vet São’
Em Portugal foi recentemente criado pelo Centro para o Conhecimento Animal (CPCA) e pela enfermeira veterinária Marília Domingos um projeto de comunicação que, além de prestar apoio a profissionais de medicina veterinária a sofrer de burnout, pretende consciencializar estes profissionais para um tema que “ainda é um pouco ‘tabu” na classe, dizem.
O ‘Mente Sã, Vet São’ quer, através da partilha de histórias e de informação, dar a conhecer os problemas que afetam os profissionais da medicina veterinária.
Fonte: dados do estudo da Merck em colaboração com a American Veterinary Medical Association (AVMA)