A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA) considera que esta medida irá aumentar o risco de contrafacção dos medicamentos sem que hajam garantias de uma maior poupança para o Estado e para os utentes.
«A dispensa de medicamentos em embalagens originais fabricadas pela Indústria Farmacêutica é hoje a prática comum em todos os países da União Europeia», afirmou a associação, citada pelo “Público”, lembrando que «até o Reino Unido, país em que o recurso à dispensa de medicamentos à unidade era regras, tem vindo, desde os anos 90, a abandonar este sistema».
Defendendo que a venda por unidose acarreta «riscos acrescidos para a segurança e qualidade dos medicamentos», a APIFARMA defende a promoção de uma utilização racional do medicamento e a adesão dos doentes à terapêutica no combate ao desperdício de medicamentos.
Também o farmacêutico e docente universitário Hipólito de Aguiar concorda que a unidose conduz a «uma insegurança acrescida para o doente, que deixa de dispor do suporte informativo presente nas embalagens e na literatura».
«Considerando os níveis de iliteracia da população portuguesa», o autor do livro “A Farmácia e a Comunicação”, editado pela AJE – Sociedade Editorial, acredita que é prematuro avançar com este sistema e deixa o aviso: «É bom que percebam que estamos a tratar de produtos que podem matar e que precisam de ser rigorosamente tomados».
Já a Ordem dos Farmacêuticos (OF) e a Associação Nacional das Farmácias (ANF) emitiram, segundo a “Lusa”, pareceres contrários.
Em declarações ao “Público”, João Cordeiro referiu que a ANF não se posiciona contra a venda de medicamentos por unidose e que as reservas constantes no parecer da ANF se prendem apenas com questões técnicas.
«O nosso receio número um é que a legislação seja de tal forma complexa que, no fundo, fique tudo na mesma», explicou o presidente da associação.
Ministério da Saúde não comenta
Sem comentar as posições de entidades ligadas ao sector farmacêutico, fonte do gabinete de Ana Jorge apenas confirmou a intenção do Governo em arrancar com a venda de medicamentos por unidose, em regime experimental, nas farmácias que serão criadas nos hospitais públicos de seis cidades, nomeadamente, Porto, Faro, Coimbra, Penafiel, Lisboa e Leiria, estando esta última já a funcionar.
A mesma fonte adiantou ainda que a venda em quantidade individualizada será limitada aos antibióticos, anti-histamínicos e paracetamol.
21,7% dos comprimidos prescritos não foram tomados pelos doentes
Prevista no “Compromisso para a Saúde” assinado em Maio de 2006, a medida pretende combater o desperdício de medicamentos.
O mais recente estudo da ANF, realizado em parceria com o Instituto da Qualidade em Saúde, revelou que 21,7% dos comprimidos receitados não foram tomados pelos doentes, sendo que, em metade destes casos, tal se ficou a dever à inadequação da dimensão das embalagens.
Este estudo, que abrangeu 1.600 pessoas e mais de 200 farmácias, concluiu também que por cada utente se regista um desperdício médio anual de 5,83 euros em medicamentos.