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bem-estar animal

A parir de 2013 será interdita a experimentação animal para a maioria dos testes de toxicidade

A parir de 2013 será interdita a experimentação animal para a maioria dos testes de toxicidade

Os investigadores Teresa Cruz Rosete, Bruno Neves e Susana Rosa desenvolveram um teste que permite avaliar o potencial alergénico cutâneo e reduzir as experiências com animais na indústria de cosméticos. A VETERINÁRIA ATUAL esteve à conversa com uma das investigadoras que explica como chegaram ao Sensitiser Predictor, um passo importante já que a partir de janeiro de 2013 será interdita a utilização de experimentação animal para a maior parte dos testes de toxicidade.

Em que consiste o teste desenvolvido pela equipa de três investigadores do Centro de Neurociências (CNC) e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e como pode diminuir os testes de ensaios em animais?

O teste baseia-se na utilização de uma linha celular de células da pele que são cruciais para o desenvolvimento da alergia cutânea. Deste modo procurámos biomarcadores (proteínas e genes) neste modelo celular que fossem selectivamente modificados apenas por alergénios cutâneos. Dentro do painel bastante alargado de proteínas e genes que investigámos, cinco deles mostraram ter um potencial preditivo bastante elevado e foram por isso utilizados na elaboração do teste que permite detectar químicos com propriedades alergénicas cutâneas sem recorrer aos ensaios animais utilizados atualmente para este efeito.

 

Como partiram para a investigação que deu origem ao Sensitiser Predictor?

Porque constatámos uma necessidade premente no desenvolvimento de metodologias alternativas à utilização de animais, que é bem evidente no atual quadro regulamentar europeu, nomeadamente na sétima alteração à Diretiva Cosmética da União Europeia (Diretiva 2003/15/EC). Esta diretiva apela à eliminação gradual da experimentação animal para avaliação toxicológica de ingredientes de cosméticos, devendo as alternativas ser gradualmente introduzidas e validadas pela comunidade científica dando, para o efeito, um prazo que terminará em 2013. A parir desta data será interdita a utilização de experimentação animal para a maior parte dos testes de toxicidade, inclusive alergia cutânea.

 

A questão do bem-estar animal pesou na decisão de avançar com a investigação?

A razão principal foi a pressão legislativa, mas intrinsecamente, o fato de todos gostarmos de animais tornou o projeto ainda mais apelativo.

 

O teste já foi distinguido com vários prémios nacionais e internacionais. Pode indicar alguns desses prémios?

Em 2008 foi distinguido pela Indústria Cosmética LIERAC, Grupo Alés, Paris, para o melhor projeto de investigação básica ou clínica sobre a Fisiopatologia Cutânea. Em 2010 no Concurso de Ideias de Negócio Arrisca Coimbra, com o projecto “Teste in vitro para detecção do potencial alérgico cutâneo de químicos: uma imposição da nova legislação europeia”. Já em 2011 recebeu o prémio de empreendedorismo “Idea to Product”, promovido pela Cotec.

 

Estas distinções são importantes para dar ânimo e para responder a quem diz que não é possível viver da investigação em Portugal?

Claro que sim, são um estímulo fortíssimo até porque os investigadores são por natureza insatisfeitos e procuram sempre otimizar e aprofundar o trabalho desenvolvido.

Quanto tempo durou a investigação e quais as principais dificuldades encontradas pela equipa de investigadores?

Este projeto foi realizado ao longo de seis anos e envolveu investigadores ligados à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, ao Serviço de Dermatologia dos HUC e à Universidade de Aveiro, estando diretamente envolvidos no desenvolvimento do Sensitiser Predictor os investigadores Bruno Neves e Susana Rosa. Numa fase inicial, a principal dificuldade foi a falta de financiamento. A partir de 2009 o projeto foi financiado pela FCT o que permitiu desenvolver trabalho experimental conducente ao desenvolvimento do Sensitiser Predictor. Atualmente uma das dificuldades consiste na validação do teste pela ECVAM (European Centre for the Validation of Alternative Methods).

O projeto está a aguardar a validação do European Centre for the Validation of Alternative Methods para ser considerado teste de referência nos países da OCDE. O que pode significar esta aprovação?

Se o Sensitiser Predictor for validado pela ECVAM significa que o mesmo será considerado teste de referência nos países da OCDE, podendo esta validação ser posteriormente alargada aos EUA. Em termos práticos, sempre que a indústria Química, Cosmética ou Farmacêutica quiserem testar o potencial alergénico de um composto terão que obrigatoriamente utilizar o Sensitiser Predictor (ou outro teste validado pela ECVAM) para assegurar a segurança toxicológica do composto.

A investigação esteve na origem da empresa Toxfinder, em incubação no Instituto Pedro Nunes. Como surgiu a possibilidade de formar a empresa e quais os principais objetivos da mesma?

Para além do Sensitiser Predictor, a Toxfinder está focada no desenvolvimento e realização de testes de toxicidade in vitro que visam identificar o perfil toxicológico de substâncias químicas. A Toxfinder pretende fornecer aos clientes os perfis de segurança toxicológica de novos produtos, permitindo-lhes optar por aqueles que apresentam menor risco de toxicidade e, consequentemente, maior probabilidade de sucesso comercial.

Quais os próximos passos?

A empresa Toxfinder encontra-se em incubação virtual no Instituto Pedro Nunes e o passo seguinte será obter financiamento do Quadro Nacional de Referência Estratégico Nacional (QREN) de modo a conseguirmos passar do plano virtual ao plano empresarial.

Quem é quem

Teresa Cruz Rosete, docente da Faculdade de Farmácia, em Coimbra

Susana Rosa, investigadora do Biocant, de Cantanhede

Bruno Neves, docente da Universidade de Aveiro

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