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Seis meses de Hospital Veterinário da Covilhã: Um sonho tornado realidade

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Passou a ser o único hospital veterinário do distrito de Castelo Branco. Após alguns meses de obras de requalificação, a clínica passou a hospital, apostando na diferenciação e qualidade. Agora, com horário 24 horas, 365 dias por ano, mais profissionais, mais serviços e mais qualidade.

A Clínica Veterinária da Covilhã, inaugurada a 22 de junho de 2002, passou por grandes novidades nos últimos dois anos. O crescimento foi solidificado com a integração no grupo VetPartners e a passagem para hospital em junho de 2024. Vinte e dois anos depois da sua criação, a clínica passou para Hospital Veterinário da Covilhã e, em dezembro último, foi aberto um novo edifício que complementa as instalações previamente existentes, “o que possibilitou passar de três para cinco consultórios, sendo três de cães e dois de gatos”, explica o diretor clínico Hugo Brancal. As novas instalações ocupam atualmente 800 m2 de área coberta.

Direitos reservados | Da esquerda para a direita: Carolina Silva, André Gonçalves, Cristiana Carriço e Hugo Brancal

 

Como outras novidades, o médico veterinário destaca “a sala de apoio ao tutor para acompanhamento de casos sensíveis, o centro de referência de imagiologia com o investimento na TAC, o centro de referência em cardiologia e a sala de formações”. A TAC mais próxima na região fica em Aveiro, o que significa que esta aposta vem colmatar algumas necessidades e melhorar a acessibilidade a este serviço de imagiologia assim como garantir serviços especializados essenciais para que os clientes tenham todas as opções nesta região do País.

Além do novo edifício e da passagem a hospital, foram ainda inaugurados dois centros de referência da Beira Interior, um na área de cardiologia e outro na de imagiologia. “Na cardiologia, temos um colega que dedica 90% ao seu tempo a esta área, nomeadamente à ecocardiografia. Adquirimos Holter e passámos a ter um conjunto de equipamentos e de know-how científico humano dedicado a estas duas áreas.” O Hospital Veterinário da Covilhã passa a ser assim o único hospital veterinário em todo o distrito de Castelo Branco.

 

“Caminhamos para uma melhoria e dignificação da medicina veterinária e dos cuidados que queremos prestar aos nossos animais ou queremos continuar ao nível de país de terceiro mundo, a contornar as regras, a achar que vai tudo correr bem?” – Hugo Brancal, diretor clínico

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Devido à existência de TAC, o corpo clínico está neste momento a fazer formação intensiva em neurocirurgia para que seja possível começar a realizar estas cirurgias, em breve. “Para fazer uma TAC ou realizar esta cirurgia, tínhamos de ir fora. E na cardiologia, deixámos de precisar que viessem colegas de outros sítios para realizar um ecocardio, um Holter, etc. o que é uma grande mais-valia”, explica Hugo Brancal. Adicionalmente todos estes recursos são também uma mais-valia para outros colegas da zona, alguns com quem o CAMV já colabora, mas também todos os demais que queiram requisitar os serviços do hospital. “A colaboração entre colegas é essencial para garantir uma melhoria dos cuidados prestados aos animais de companhia”, acrescenta.

 

A decisão de integração por um grande grupo derivou do objetivo de crescer de uma forma diferente, não só no que respeita ao apoio ao nível de investimento, como de formação da equipa. Uma das grandes vantagens diz respeito à formação para esta equipa que conta já com 25 pessoas “Estando inseridos num grupo, com milhares de veterinários em toda a Europa com a constituição de grupos de interesse ibéricos – onde estão diplomados e colegas com muita experiência em determinadas áreas – temos uma resposta e uma capacidade científica de resolver casos clínicos que nos sejam colocados no dia a dia, que não se limita aos veterinários da equipa”, diz o médico veterinário. E esse é um grande desafio lançado pelos grandes grupos, como a VetPartners.

Recentemente, foi realizada uma formação prática de ecografia e de ecocardiografia no hospital, vocacionada para os médicos veterinários do grupo, mas que foi também aberta a outros colegas veterinários da região, com quem a equipa tem trabalhado em conjunto. “Dessa forma, podemos ajudar na formação desses colegas e dessas clínicas. O objetivo é continuar a proporcionar a formação que nós próprios iremos desenvolver mensalmente a outros colegas de clínicas da região para que todos nós possamos crescer na área formativa, com a ajuda de colegas que vêm de fora”, salienta Hugo Brancal.

 

Por outro lado, o facto de a prática clínica ser sempre apoiada nas guidelines da medicina baseada em evidência é uma vantagem, para o diretor clínico. “Temos ainda um apoio na gestão que liberta os diretores clínicos a terem a sua função de veterinários e de diretores clínicos, e não tanto de gestores como era a nossa prática diária fora do grupo.” Foram estes fatores que levaram a equipa a aceitar este desafio e achar que era a aposta mais correta.

“Passando de clínica a hospital, com a obrigatoriedade de ter um médico veterinário em permanência durante 24 horas – ao que juntámos a obrigação de ter também um enfermeiro veterinário – impõe a que o corpo clínico e de enfermagem seja um pouco maior”, refere Hugo Brancal. Caso contrário, não era possível fazer as escalas respeitando o descanso e o bem-estar das pessoas. A equipa tem-se mantido relativamente estável ao longo do tempo, com alguns médicos veterinários a integrarem a mesma desde há cinco anos.

Depois de todas as novidades dos últimos dois anos, Hugo Brancal assume que 2025 tem como missão atingir o objetivo de “concretização, solidificação da aposta e amadurecimento”.

Um novo paradigma

O Hospital Veterinário da Covilhã tem como objetivo ser uma referência para outros CAMV. E à semelhança do que acontece em outras estruturas do país, a dificuldade de recrutamento de profissionais é desafiante. “É algo que não é exclusivo do interior, pois tenho colegas do litoral a queixarem-se do mesmo. Esta dificuldade em recrutar não é algo ligado à interioridade, mas sim à própria profissão, ao problema da emigração, e a outros fatores.”

Reconhecendo que outras estruturas do interior não têm o mesmo peso do que o Hospital Veterinário da Covilhã, nem ao nível de salários, nem de manutenção de instalações, Hugo Brancal considera que existe uma concorrência que pode ser intitulada de deslealdade pelo preço. “Acho que é um problema transversal à classe porque não há uma preocupação e uma dignificação dos serviços que prestamos e do próprio valor veterinário e de enfermagem. No interior vivemos este paradoxo de termos preços de consultas veterinárias e de cirurgias que, eu próprio me questiono-me como é possível.” Se não existir uma exigência do ponto de vista cirúrgico com os protocolos que a veterinária obriga, a situação vai agravando. “Há preços de consulta no interior que são irrisórios”, aponta. E, acrescenta: “Ao sermos um hospital, o facto de estarmos abertos 24 horas, de apostarmos na qualidade do serviço, dos profissionais e dos meios disponíveis permite-nos assegurar um serviço permanente, com maior capacidade de resposta e suporte clínico especializado.”

Hugo Brancal considera que a medicina veterinária está a passar por uma nova fase e aponta as suas críticas: “Caminhamos para uma melhoria e dignificação da medicina veterinária e dos cuidados que queremos prestar aos nossos animais ou queremos continuar ao nível de país de terceiro mundo, a contornar as regras, a achar que vai tudo correr bem?”. No interior, destaca, existem ainda “clínicas a realizar cirurgias e a manter os animais sem qualquer vigilância no pós-operatório”. E isso pode implicar a perda de qualidade do serviço, ao sofrimento do próprio animal ou até mesmo “à perda de vida”. A sociedade em geral não está ainda alertada para as grandes diferenças que devem existir entre estas estruturas e os perigos que determinadas práticas representam, defende o diretor clínico.

E, se na pandemia, o crescimento da veterinária foi transversal em todo o País, algo que é “indiscutível”, a tendência foi-se mantendo em seguida. “Se calhar a um ritmo mais lento, mas a crescer, e acho que o problema que se coloca agora é na quantidade de pessoas que requerem os nossos serviços versus a mão de obra que temos para os disponibilizar.” E isso coloca um novo problema. “Com o crescimento dos animais de companhia e do tipo de cuidados que as pessoas nos exigem, não temos mão de obra, porque os médicos veterinários estão a emigrar e muitos estão a desistir da clínica e a enveredar por outras saídas profissionais”, reforça Hugo Brancal.

Por um lado, existe uma maior exigência por parte dos clientes e tutores. Por outro, a remuneração e as condições de trabalho não acompanham essa realidade. “São muitas horas de trabalho e muito stress, as pessoas entram em desânimo e saem.” Mas a procura continua a existir, com mais clientes, a demanda de mais serviços e cirurgias complexas, e uma medicina veterinária “cada vez mais evoluída”. Para o diretor clínico, este vai ser o grande problema do setor nos próximos anos. “Isto porque não temos mão de obra para satisfazer as necessidades da medicina veterinária em Portugal atualmente. Isto obriga-nos a uma reflexão muito séria, sobretudo a quem tem esse poder, no sentido de entender para onde caminhamos porque a continuar com os preços que praticamos na medicina veterinária atualmente, em muitos sítios, não vamos conseguir aumentar salários, e isto vai levar os nossos jovens recém-licenciados para a emigração”, afirma.

A quantidade de recém-formados em medicina veterinária não acompanha o aumento de mão de obra no país. “Produzimos imensos médicos veterinários, mas estamos a produzi-los para exportação. E estamos a exportar os mais dinâmicos, os mais qualificados e os mais empreendedores – são estes que têm a coragem de ir para fora –, ficamos sem mão de obra e continuamos a ter cada vez mais animais para tratar, cada vez mais exigência. Mas não temos pessoas.”

Estamos a passar por uma fase que Hugo Brancal considera um novo paradigma, mas também uma oportunidade. “Temos de nos recolocar no mercado e na sociedade afirmando que para prestarmos os nossos serviços com qualidade não podemos continuar a trabalhar como estamos a trabalhar, com salários baixos, com condições que nem sempre são as melhores – não respeitando o descanso e as horas de repouso que as pessoas precisam – e este vai ser, na minha opinião, o grande desafio dos próximos anos na medicina veterinária.” Por isso, a passagem de clínica para hospital teve também como objetivo respeitar o bem-estar dos que já faziam parte da equipa, mas também os que chegaram. “Como diretor clínico, essa é uma das minhas missões e também um dos meus desafios”, defende Hugo Brancal.

O facto de o setor ser regulado lá fora, como no Reino Unido, torna a prática da profissão mais atrativa para os mais novos. “Enquanto não mostrarmos à sociedade que todos trabalhamos obedecendo a protocolos – tal como acontece na medicina humana – nós vamos viver esta sangria de ver colegas a ir para fora e que se habituam a trabalhar de uma forma no estrangeiro, que não é equiparada em Portugal.”  A própria formação é muito cara e implica um esforço por parte dos médicos veterinários para se irem mantendo atualizados. “Se analisarmos os preços de empresas de formação certificada, é fácil perceber quanto custa uma pós-graduação ou um curso intensivo de oncologia, de medicina interna, de imagiologia. Estamos a falar de milhares de euros. E essa a fatia que temos de dedicar à formação é anual, pois só assim não somos ultrapassados e conseguimos ter atualização.”

Para o diretor clínico do Hospital Veterinário da Covilhã, estas são as típicas “dores de crescimento” que vão obrigar a que as entidades competentes e de fiscalização repensem os seus modos de atuação.

“Estando inseridos num grupo, com milhares de veterinários em toda a Europa com a constituição de grupos de interesse ibéricos – onde estão diplomados e colegas com muita experiência em determinadas áreas – temos uma resposta e uma capacidade científica de resolver casos clínicos que nos sejam colocados no dia a dia, que não se limita aos veterinários da equipa.”Hugo Brancal, diretor clínico

As novas tecnologias

Existe a preocupação de manter a proximidade com os clientes através das redes sociais. Esta área da comunicação pode ser também alavancada com a integração na VetPartners, uma vez que passam a existir pessoas dedicadas praticamente a tempo inteiro a este objetivo. “Isto permite que as mensagens sejam mais assertivas, coerentes e constantes porque não estão dependentes da disponibilidade dos veterinários ou diretores clínicos.”

Quanto à Inteligência Artificial (IA), Hugo Brancal considera ser uma mais-valia “no que respeita à realização de relatórios, de marcações, de preenchimento de fichas clínicas, etc., o que permite libertar meios humanos para se dedicarem às tarefas que as máquinas não podem”. Ou seja, a IA vai permitir libertar os profissionais para a prática clínica e auxiliar bastante nas questões burocráticas. Relativamente aos procedimentos propriamente ditos, o diretor clínico não vê qualquer risco. “Por muito que se queira, as máquinas na nossa área nunca vão poder substituir os médicos veterinários porque tem de haver uma relação humana entre o tutor e quem trata o animal.”

O balanço destes primeiros meses de mudança para hospital não podia ser mais positivo no que respeita à qualidade dos serviços. Depois de todas as novidades dos últimos dois anos, o diretor clínico assume que 2025 tem como missão atingir o objetivo de “concretização, solidificação da aposta e amadurecimento”.

 

*Artigo publicado na edição 189, de janeiro, da VETERINÁRIA ATUAL

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