No dia 30 de setembro, a VETERINÁRIA ATUAL noticiou a publicação de um artigo da Universidade de Guelph, no Canadá, que sugeria que alimentar os gatos apenas uma vez por dia poderia ser benéfico para a sua saúde. A médica veterinária Maria João Dinis da Fonseca deixa a sua opinião sobre esta pesquisa dos investigadores canadianos.
Perante o artigo aqui partilhado, gostaria de reforçar que o estudo realizado deve ser contextualizado numa dinâmica de um contributo, muito interessante, para os atuais conhecimentos. No entanto, o estudo limita-se a oito gatos durante 21 dias, pelo que, tal como os autores afirmam, são precisos mais estudos que corroborem este regime como sendo adequado.
O regime alimentar dos gatos domésticos deve ir de encontro não apenas às suas necessidades nutricionais tão peculiares (carnívoros obrigatórios), mas também deve respeitar o seu comportamento predatório.
Disponibilizar alimento ao gato apenas uma vez ao dia contraria os atuais conhecimentos sobre fisiologia da nutrição do gato e não respeita o comportamento exploratório do tipo predador que os gatos apresentam. Atualmente, o respeito pelo comportamento predatório é mesmo considerado um dos cinco pilares da felicidade felina segundo o painel de especialistas da ISFM [International Society of Feline Medicine]. Por outro lado, providenciar numa toma única todas as necessidades calóricas do gato implica recorrer a um alimento concentrado e, como tal, na maioria das vezes, desidratado. Sabe-se que a ingestão de alimento exclusivamente desidratado, do ponto de vista dos conhecimentos atuais, não garante as necessidades hídricas do gato.
Assim, é importante lembrar que embora o estudo seja um contributo muito interessante e de cariz inovador, à luz do que sabe hoje, os gatos devem ingerir alimento várias vezes por dia. O combate à obesidade faz-se adequando o alimento, adaptando o modo como é administrado (privilegiando os comedouros interativos) e promovendo o exercício físico. Todos os regimes de perda de peso em gatos não podem esquecer as implicações que a restrição do acesso ao alimento implica em termos de bem-estar e devem por isso ser meticulosamente traçados.
*Maria João Dinis da Fonseca é médica veterinária, diretora clínica do Hospital do Gato, na Grande Lisboa, e mestre em Doenças Infeciosas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
1 – Hamper, Beth (2016). The Unique Metabolic Adaptations and Nutrient Requirements of the Cat. In August’s Consultations in Feline Internal Medicine, Volume 7 (pp.600-606); https://doi.org/10.1016/C2011-0-69693-0
2 – Vicky Halls (2018). JSFM Tools for managing feline problem behaviours: Environmental and behavioural modification. https://doi.org/10.1177/1098612X18806757
3 – Witzel, Angela (2016). Current Concepts in Preventing and Managing Obesity. In August’s Consultations in Feline Internal Medicine, Volume 7 (pp.612-620); https://doi.org/10.1016/C2011-0-69693-0