Ajudar empreendedores em saúde é o foco de atuação de Ana Gonçalves. A falta de tempo, aliada às particularidades dos negócios nesta área, que colocam o proprietário frente a frente com a vulnerabilidade do cliente, pode comprometer o sucesso das clínicas. Em entrevista, esclarece os pontos-chave para a rentabilidade dos CAMV.
Fale-me do seu percurso profissional e o que a levou a enveredar pela área dos negócios em saúde?
Desde muito pequena a área da saúde fascinava-me e ajudar os outros também e, por isso, formei-me em fisioterapia com esse grande sentido de entrega que penso ser comum aos profissionais de saúde. Em 2007 comecei a trabalhar na clínica Fisiotorres e em 2009 fiz a proposta de ficar com a clínica. Nunca tinha pensado em ter o meu negócio, mas agarrei a oportunidade e, como já fazia a gestão da clínica, senti-me confiante de que este seria o caminho. E foi. Apaixonei-me pela gestão dos meus negócios (que aumentaram), das minhas equipas e continuei a estudar para aliar o conhecimento académico ao know-how que tenho adquirido.
A Ana ajuda a criar clínicas de sucesso. O que é, para si, uma clínica de sucesso?
A escolha do nome foi propositada por ser muito subjetiva. O sucesso é diferente de pessoa para pessoa. Para mim sucesso é não ser escrava do meu negócio, ter um negócio que não depende 100% da minha presença física, ter liberdade de escolha, liberdade financeira e liberdade de tempo. Os meus negócios têm que me servir a mim e à minha equipa. Não são o objetivo em si mesmo, mas o trampolim para eu realizar os meus sonhos.
Para mim sucesso é não ser escrava do meu negócio, ter um negócio que não depende 100% da minha presença física, ter liberdade de escolha, liberdade financeira e liberdade de tempo.
Que particularidades têm os negócios na área da saúde?
Por norma os negócios na área da saúde (excluindo os grandes grupos) são pequenas e médias empresas criadas pelo profissional de saúde. São empresas familiares que foram criadas para que o profissional de saúde desempenhe a sua atividade e crie a sua equipa. Têm um primeiro objetivo de subsistência, que afasta a ambição e o potencial de crescimento.
Isto acontece também porque na nossa formação técnica de base, não temos qualquer noção de gestão de um negócio ou da nossa carreira. Aliado a uma prestação de um serviço que atua sobre a saúde do cliente, que é uma área sensível, fica muito difícil ao gestor saber definir bem o seu preço, cobrar dinheiro ao cliente, etc.
De facto, outra grande particularidade do empreendedorismo na saúde é que o profissional que aconselha e presta o serviço é o dono do negócio. É este profissional que lida com a vulnerabilidade do cliente, que chega por vezes muito fragilizado. É este profissional que tem um maior conhecimento do cliente.
Por exemplo, quando compro um telemóvel, eu posso perceber mais do produto do que o vendedor. Aqui não existe uma grande assimetria do conhecimento entre prestador e cliente, como acontece quando falamos de um serviço de saúde. Contudo, acho que são fatores que podem ser favoráveis na criação de negócios de sucesso, nunca esquecendo a ética na saúde.
Quais são as maiores falhas/dúvidas reportadas pelos CAMV?
Falta de tempo e ter um negócio que depende da prestação dos serviços do médico. Ou seja, quando o médico veterinário não está, a rentabilidade do negócio diminui. A dificuldade em crescer equipa e gerir colaboradores; captar e fidelizar clientes; comunicar a sua marca, enfim, as áreas onde identificamos as maiores falhas e dúvidas são a área financeira, marketing, atendimento, equipa e, claro, o reflexo que isso traz para a vida pessoal do empreendedor.
Habitualmente, quais são as principais dificuldades reportadas pelos médicos veterinários na implementação de estratégias de gestão?
A maioria das vezes é falta de conhecimento e depois falta de tempo. Investimos tanto no nosso conhecimento técnico e esquecemos que, se temos um negócio, temos de aprender e dominar as estratégias de gestão. Não interessa ser o melhor médico, mais especialista, se depois não tenho um negócio viável.
*Leia o artigo na íntegra na edição 163, de setembro, da VETERINÁRIA ATUAL.