Um aparelho que “permite um detalhe e uma resolução de imagem muito avançada”. É assim que André Pereira descreve a mais recente aquisição para o serviço de Imagiologia do AniCura CHV, um hospital que tem centrado a atividade na resposta diferenciada e especializada, tanto para os tutores de animais de companhia, como para os médicos veterinários com quem trabalha em regime de referenciação.
Em outubro passado, o AniCura Centro Hospitalar Veterinário (CHV), no Porto, recebeu o equipamento que faltava para completar a oferta no diagnóstico por imagem da unidade de saúde médico-veterinária: a ressonância magnética de alto campo.
Nos últimos seis meses, a equipa tem estado a “afinar protocolos” e a estruturar os procedimentos, conta André Pereira à VETERINÁRIA ATUAL, no sentido de enquadrar este novo equipamento na já bastante completa palete de meios de diagnóstico por imagem que o CAMV possuía, nomeadamente o raio X, a ecografia, a ecocardiografia e a tomografia computorizada (TAC).
O diretor clínico do AniCura CHV e responsável pelo serviço de Imagiologia conta que reforçar a área de diagnóstico era um dos objetivos a que a equipa se propôs no ano passado e a entrada em funcionamento da ressonância magnética de alto campo veio aumentar a capacidade do CAMV dar resposta às necessidades da população com animais de companhia do norte do País. Com maior definição imagiológica, a grande mais-valia deste equipamento, a ressonância magnética de alto campo “permite um detalhe e uma resolução de imagem muito avançada”, fundamental, sobretudo, para realizar diagnósticos de doenças nos tecidos moles e de patologias do sistema nervoso central. O grau de detalhe que é possível alcançar com um aparelho de ressonância magnética de alto campo na avaliação das diferentes áreas cerebrais, da medula, dos músculos e tendões “possibilita um diagnóstico definitivo de doenças que, sem a sua utilização, era mais complicado de obter”, explica o médico veterinário.
  “O balanço é muito positivo, apesar de [ser um equipamento] complexo em termos de funcionamento, o que obrigou a uma afinação de protocolos nos primeiros três meses de instalação, hoje já atingimos uma qualidade de imagem que nos tem permitido fazer diagnósticos de forma definitiva.” – André Pereira, diretor clínico do AniCura CHV do Porto
Embora os equipamentos mais convencionais, nomeadamente a TAC, consigam dar resposta a cerca de 80% dos diagnósticos de doenças em animais de companhia, especialmente nas doenças do sistema nervoso central, “há um número razoável de lesões que não são identificáveis na TAC e com este novo equipamento conseguimos encontrá-las”, acrescenta André Pereira. Além disso, reforça, algumas das alterações que eram identificadas com o recurso a TAC poderiam ser encaixadas em dois ou três diagnósticos e com a ressonância magnética de alto é mais fácil e mais rápido encontrar o diagnóstico diferencial correto. Essas diferenças na capacidade de diagnóstico dos vários aparelhos são mais evidentes no caso das doenças degenerativas cerebrais, das doenças inflamatórias cerebrais e das doenças da fossa caudal, estas últimas situadas “uma região onde a TAC tem uma capacidade de diagnóstico mais limitada”, esclarece ainda o diretor clínico do CHV.
Os cães e os gatos são os principais grupos-alvo na utilização deste equipamento, já que no CAMV não fazem seguimento de exóticos, mas André Pereira assegura que as portas estão sempre abertas aos casos referenciados por colegas para a realização de exames. Aliás, a referenciação representa cerca de 50% do trabalho que o CHV faz em matéria de meios de diagnóstico, sendo que nas consultas de atendimento permanente e nas de especialidade essa percentagem varia entre os 30% e os 40%.
Nestes cerca de seis meses em funcionamento, a ressonância magnética de alto campo trouxe novos desafios à equipa, mais-valias para a prática clínica e, sobretudo, novos horizontes para o tratamento e seguimento dos animais de companhia. André Pereira assegura que “o balanço é muito positivo, apesar de [ser um equipamento] complexo em termos de funcionamento, o que obrigou a uma afinação de protocolos nos primeiros três meses de instalação, hoje já atingimos uma qualidade de imagem que nos tem permitido fazer diagnósticos mais definitivos”.
Crucial em todo este processo de aumento da capacidade de resposta no diagnóstico por imagem foi, logo no início de 2022, a integração na equipa do AniCura CHV de Luís Mesquita, diplomado pelo European College of Veterinary Diagnostic Imaging, que trouxe os conhecimentos para a correta leitura dos exames e deu formação aos profissionais do hospital, o que “permitiu uma rápida utilização do equipamento e um apuramento da técnica de imagem”, conta o diretor clínico.
Especialização já é o presente nos cuidados médicos veterinários
O reforço do serviço de Imagiologia – com o novo equipamento e a integração do especialista europeu em Imagiologia – foi a mais recente aposta deste CAMV que nasceu em 2012 por vontade de quatro veterinários que já trabalhavam juntos: André Pereira, hoje diretor clínico, Hugo Gregório, Sara Peneda e Lénio Ribeiro.
“Quisemos criar um centro de serviços veterinários de excelência, que trabalhasse para os clientes particulares, mas também em colaboração com todos os colegas que procuram cuidados de excelência”, lembra o diretor clínico. Acreditando que “o foco na qualidade se reflete mais tarde na produtividade”, a equipa cimentou a atividade clínica cumprindo o objetivo de funcionar como centro de referência para “uma série de colegas que já confiavam em nós e conheciam o nosso trabalho”, uma confiança visível nas percentagens elevadas de casos referenciados que o CAMV recebe, seja para os meios de diagnóstico que possui, seja para as consultas de especialidade.
Nestes 11 anos a atividade clínica o hospital veterinário tem tido um crescimento sustentado que culminou no ano passado com a expansão arquitetónica do espaço. “Ampliámos em 50% a dimensão das instalações que tínhamos”, conta André Pereira, o que permitiu aumentar o número de consultórios de quatro para seis, passar de uma única sala cirúrgica para três salas de cirurgia e, neste momento, está a ser ultimada a área de cuidados intensivos, que será o próximo serviço a entrar em funcionamento.
A equipa é bastante jovem por via do foco que o AniCura CHV do Porto tem dedicado à formação dos jovens médicos veterinários (ver caixa) e tem crescido alicerçada na mudança de paradigma observada na medicina veterinária nos últimos anos: a especialização dos cuidados. Com várias formações especializadas, André Pereira tem-se dedicado à Imagiologia, à Cirurgia e à Neurologia, enquanto Sara Peneda tem como área de interesse a Dermatologia e Hugo Gregório dedica-se à Oncologia.
Nesta aposta na diferenciação, ao grupo dos sócios fundadores juntou-se há já sete anos Carlos Adrega, diplomado European College of Veterinary Surgeons (ECVS), em 2022 foi a vez de Pedro Malho, diplomado pelo European College of Veterinary Ophthalmologists (ECVO), que é hoje responsável pelo serviço de Oftalmologia e a equipa conta ainda com a colaboração externa de Ana Luísa Lourenço, diplomada pelo European College of Veterinary and Comparative Nutrition.
“Quisemos criar um centro de serviços veterinários de excelência, que trabalhasse para os clientes particulares, mas também em colaboração com todos os colegas que procuram cuidados de excelência.” – André Pereira, diretor clínico do AniCura CHV do Porto
O caminho nesta cada vez maior especialização na medicina veterinária tem feito também crescer a procura por este tipo de serviços, que já representa cerca de 20% da prática clínica do hospital veterinário. Os restantes 80% são ocupados pela procura no serviço de atendimento permanente – onde se realiza a medicina preventiva, profilática e as urgências – que está assegurado principalmente pelos restantes 12 elementos da equipa médico-veterinária, uma equipa que se completa com 10 enfermeiros, dois auxiliares e seis administrativos.
André Pereira está convencido que a medicina veterinária irá evoluir cada vez mais “no sentido de uma maior especialização, não só pelo crescente número de profissionais diplomados pelo colégio europeu que existe no País, mas também por termos cada vez mais pessoas que possuem um grau de experiência e de formação que permite oferecer serviços especializados”. O responsável reconhece que esta “é, sem dúvida, a maior evolução que a medicina veterinária teve nestes últimos 10 anos. Ainda estamos numa fase precoce, mas é esta especialização nos cuidados veterinários que nos vai permitir atingir graus de maior qualidade no tratamento dos animais”.
Não obstante, o diretor clínico admite que este não será um percurso profissional para todos os médicos veterinários. “Há médicos veterinários generalistas, se quisermos chamar de [médicos veterinários] família, muitíssimos bons, muitíssimos importantes no reconhecimento dos problemas e na orientação dos casos para o respetivo tratamento, mas a necessidade criada pela maior exigência dos clientes obriga, cada vez mais, a uma maior especialização”, frisa.
Consolidar é a palavra-chave de 2023
Depois de aumentar a área do hospital, de investir no serviço de Imagiologia e de Cirurgia e da integração dos especialistas em Oftalmologia e Imagiologia, André Pereira acredita que “neste momento foram criadas as condições para que estes serviços funcionem de forma eficaz e, neste momento, estamos numa fase de implementação de funcionamento, de aumento do volume de trabalho nestas áreas e esperamos que, rapidamente, possamos atingir o volume de trabalho que procuramos por parte da ressonância magnética de alto campo, da Oftalmologia e da Cirurgia”.
Consolidar é, assim, a palavra-chave para o que resta deste ano. Questionado sobre a influência do momento atual – com a saída do período mais crítico da pandemia causada pelo Covid-19, a guerra na Ucrânia e a crescente inflação – e de uma eventual crise na sociedade na decisão de não fazer mais investimentos a curto prazo, André Pereira acabou por sorrir e reconhecer: “Bem, se fizer bem as contas ao tempo, nós abrimos as portas durante a crise [de 2008 a 2013] e fizemos estes investimentos ainda durante a pandemia. Parece até que procuramos as alturas mais complexas para investir”.
A ideia é mesmo ter os investimentos realizados a serem utilizados em todo o seu potencial, pois os tutores “procuram cada vez mais respostas para os problemas dos seus animais, mesmo em períodos de crise”, assegura o diretor clínico. Assim aconteceu durante a crise de ocorreu há mais de 10 anos, altura em que se “assistiu a uma diminuição dos tratamentos profiláticos e eletivos, mas continuámos a ter sempre uma procura importante de tratamentos curativos para situações agudas”, acrescenta o médico veterinário.
O mesmo movimento aconteceu durante o período crítico da pandemia por Covid-19 – menos trabalho profilático e eletivo – “mas tivemos um grande volume de trabalho relacionado com patologias porque, cada vez, mais há uma exigência das pessoas para tudo o que estiver disponível no sentido de ajudar os seus animais”.
Nos momentos seguintes a esse período mais difícil entre 2020 e 2022, houve um aumento significativo do volume de trabalho relacionado com a profilaxia, “até para números superiores aos anteriores à pandemia”, relata André Pereira, uma situação relacionada com o crescimento das adoções de animais de companhia que ocorreu nesses anos. Depois desse expressivo crescimento de consultas para profilaxia, em virtude da vacinação necessária no primeiro ano de vida do cão e do gato, agora o trabalho tem-se voltado novamente para o seguimento e tratamento das patologias. “Mas estes animais estão no pool dos animais de companhia que existem na população e temos de pensar que agora temos mais animais de companhia em Portugal do que tínhamos no início de pandemia”, garante André Pereira.
Dar formação e fazer crescer a equipa
No AniCura CHV a formação dos futuros médicos veterinários tem sido uma aposta e tem funcionado como uma bolsa de recrutamento para aumentar a equipa médico-veterinária do CAMV. André Pereira conta que todos os anos o hospital recebe “entre 8 e 12 estagiários no primeiro semestre do último ano de curso” para fazer os quatro meses de estágio obrigatório das faculdades de medicina veterinária, muito embora no hospital o período mínimo de estágio seja de seis meses.
No segundo semestre, entre fevereiro e agosto, o número de estagiários é sempre menor, não ultrapassa os dois ou três alunos, alguns até vêm ao abrigo do programa Erasmus.
Para o diretor clínico esta é também uma forma de assegurar o crescimento da equipa com profissionais jovens, pois é destes grupos de estagiários que têm saído muitos dos profissionais que hoje integram a equipa fixa do hospital. “O estágio de final de curso é muito importante como parte da formação de um médico veterinário e, ao passarem por aqui para fazerem a formação, sabemos o que estes jovens aprenderam, as rotinas que ganharam, o que permite uma rápida integração na equipa”, explica o diretor clínico.