Em Orange County, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América (EUA), a ‘veterinária de abelhas’, Elizabeth Hilborn, dedica-se a um trabalho quase único no país: cuidar da saúde das abelhas, que avança estar a ser afetada pelo impacto das alterações climáticas no planeta.
“A maior parte dos médicos veterinários não trabalha com abelhas. Muitas vezes, nem aprendem sobre elas na universidade”, referiu a cientista.
Apesar de ser ‘veterinária de abelhas’ em tempo parcial, a cientista não vê o seu trabalho como um sacrifício. “É um prazer e um privilégio trabalhar com polinizadores. São seres extraordinários e essenciais para a nossa sobrevivência”, refere Elizabeth Hilborn.
Com formação em saúde ambiental e mais de 25 anos de experiência, a cientista criou uma prática veterinária especializada para dar resposta à crescente procura por apoio técnico em apicultura, especialmente após mudanças, em 2017, nas regulamentações americanas no que diz respeito ao uso de antibióticos para colmeias.
Desde então, Elizabeth Hilborn tornou-se uma referência entre apicultores locais, atendendo chamadas de emergência quando os apicultores notam alterações preocupantes nas colmeias. A cientista explica que uma das doenças mais frequentes nas colmeias é a Loque europeia, uma infeção bacteriana que afeta as larvas e pode ser detetada pelo seu cheiro “adocicado e almiscarado”.
A cientista explica que o tratamento envolve uma espécie de “receita médica”, onde os antibióticos são prescritos para serem envolvidos com açúcar em pó e depois consumido pelas abelhas, “pois pensam que se trata de uma guloseima”.
No entanto, a ‘veterinária de abelhas’ alerta que os desafios que vão muito além das doenças infeciosas, sublinhando que o impacto das alterações climáticas está a criar “desequilíbrios cada vez mais perigosos” para estes polinizadores.
“Temos vindo a registar um clima terrível aqui”, referiu Hilborn. “As abelhas estão a sair da hibernação mais cedo devido aos invernos anormalmente quentes, e não encontram alimento. Esta disfunção no ciclo natural das abelhas é um dos maiores riscos para a sua saúde e sobrevivência”, enfatizou, explicando que as abelhas precisam de acesso às flores, mas as flores não estão a desabrochar e que este facto se tem vindo a tornar num “grande fator de stress para as abelhas e para as populações de animais em geral”.
A cientista ambiental reforça ainda que as abelhas desempenham “um papel crítico nos ecossistemas”, uma vez que são responsáveis pela polinização da grande parte das culturas alimentares e a sua vulnerabilidade “é um reflexo direto das pressões ambientais que se intensificam com as alterações do clima”.
“A forma como tratamos as abelhas e o ambiente que as rodeia diz muito sobre o nosso futuro. Se não cuidarmos delas, estamos a falhar a nós próprios”, concluiu Hilborn.