Um estudo de investigadores australianos mostrou que os profissionais de veterinária podem ser uma peça importante na identificação, na resposta e no reencaminhamento para meios especializados de tutores que sejam vítimas de violência doméstica.
“Os profissionais veterinários têm um papel fundamental na facilitação do processo para prevenir e/ou responder a situações de vítimas de violência doméstica com animais, em que estes possam também estar direta ou indiretamente envolvidos”, refere a análise.
Nos últimos anos, tem crescido o número de estudos que se dedicam a investigar a ligação entre abuso de animais de companhia e violência doméstica. Tal como proposto por Phil Arkow, em 1996, “quando os animais são maltratados, as pessoas estão em risco; quando as pessoas são maltratadas, os animais estão em risco”.
No entanto, apesar da sua benéfica posição como potenciais pontos de contato com as vítimas de abuso, muitos profissionais veterinários não se sentem providos de ferramentas suficientes para agir sobre suspeitas ou revelações de situações de violência doméstica, conclui o estudo.
Em resposta a esta necessidade identificada, um serviço que opera em Melbourne, na Austrália, desenvolveu um programa piloto, intitulado Vet-3R (Recognize-Respond-Refer), já testado em 65 profissionais veterinários em Melbourne.
Trata-se de um estudo que investigou o efeito do programa Vets 3-R, que se baseia na confiança e na capacidade dos profissionais veterinários em reconhecer, responder e encaminhar vítimas de violência doméstica. Os participantes foram convidados a preencher inquéritos online antes e depois do programa, de forma a autoavaliarem-se em relação à sua compreensão sobre estas situações e às suas capacidades em apoiar possíveis vítimas com animais que se apresentem no seu serviço.
Além disso, receberam também sessões de treino e debate informal, que tiveram como intuito encorajar os profissionais veterinários a criticar ativamente os mitos comumente associados à violência doméstica, abordando a sua natureza e os principais factos sobre a ligação entre maus-tratos a animais e violência doméstica, bem como abordar como os profissionais podem responder e encaminhar vítimas humanas de forma segura e apropriada.
Os resultados da autoavaliação por parte dos profissionais de veterinária antes do programa começar indicaram que, embora a maioria dos profissionais veterinários estivesse ciente da ligação entre maus-tratos a animais e violência doméstica, mostraram não ter confiança suficiente para responder e referenciar indivíduos quando confrontados com suspeitas ou revelações de abuso, adianta a investigação.
No entanto, após a conclusão do programa, os participantes relataram melhorias significativas na sua capacidade de reconhecer, responder e referenciar vítimas de violência doméstica.
Assim, o programa de treino resultou num aumento da compreensão dos profissionais de veterinária no que toca à ligação entre maus-tratos a animais e violência doméstica, tendo este aumento sido também identificado na capacidade dos profissionais em aplicarem esse conhecimento na prática, ou seja, reconhecendo, dando respostar e encaminhando os seus clientes para mecanismos de suporte especializados na matéria, se necessário.
Embora os resultados sejam apenas indicativos devido à utilização de uma amostra reduzida, o estudo sugere que os profissionais veterinários podem ser um ponto de intervenção útil que identifica vítimas de violência doméstica com animais. O programa pode ser ainda uma ferramenta proveitosa para aumentar a eficácia deste ponto de intervenção, de forma a dar assistência e segurança às vítimas de abusos.