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Médicos Veterinários

“Somos a única universidade nacional a oferecer um curso de doutoramento em ´Uma Só Saúde`”

“Somos a única universidade nacional a oferecer um curso de doutoramento em ´Uma Só Saúde`” Direitos Reservados

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, vai acolher o primeiro Doutoramento em Saúde Integrada (One Health) já no próximo ano letivo, sendo este o primeiro curso nesta área a nível nacional e um dos poucos na Europa.

O conceito “One Health” não é novo, mas ganhou maior relevância depois da pandemia de Covid-19 se ter instalado a nível mundial, contribuindo para um maior diálogo em torno das infeções zoonóticas.

 

Esta abordagem explora a ligação entre pessoas, animais, plantas e o ambiente, com o intuito de descobrir e impulsionar o setor da saúde, assim como o bem-estar nestas vertentes.

O Doutoramento conta já com diversas parcerias nacionais e internacionais, nomeadamente a Universidade de Agricultura de Atenas, na Grécia, a Universidade Complutense de Madrid, em Espanha, e a Universidade de Perugia, em Itália.

 

Patrícia Poeta, médica veterinária e diretora deste curso de doutoramento, conversou com a VETERINÁRIA ATUAL e esclareceu a motivação da criação do doutoramento, a importância do conceito para o setor científico e para a comunidade e o papel do médico veterinário na promoção da saúde global e bem-estar das populações.

 – Qual a principal motivação para a criação do doutoramento?
A nível nacional não existia nenhum doutoramento em One Health. Tratava-se, portanto, de uma ideia pioneira e arrojada que iria permitir a formação especializada em áreas transversais e holísticas em saúde, englobando temas como as zoonoses, as doenças emergentes, a bioética, a economia, as alterações climáticas, entre outras que se relacionam com o conceito.

 

O caminho não foi fácil! Contudo, conduziu-nos a bom porto e temos muito orgulho em afirmar que, na atualidade, somos a única Universidade nacional a oferecer um curso de Doutoramento em “Uma Só Saúde”.

A ideia contou com a participação de vários colegas da UTAD que contribuíram para que alcançássemos o sucesso. Pensámos e desenhámos um plano de estudos em One Health, com várias vertentes e diferentes colaborações, que foi submetido à A3ES. Apesar de apreensivos em relação à decisão final, estávamos confiantes na nossa proposta, que acabou por ser reconhecida.

 

A UTAD reúne condições de excelência para oferecer um programa doutoral neste domínio, fruto da diversidade de competências desenvolvidas e das características unificadoras de um campus, que promove o trabalho interdisciplinar num ambiente de aprendizagem diferenciador. Neste sentido, pretende-se mobilizar múltiplos setores e comunidades, para fomentar o bem-estar e enfrentar as ameaças à saúde e aos ecossistemas, ao mesmo tempo, abordar-se-á a necessidade de água, energia e ar, alimentos seguros e saudáveis, tomando medidas sobre as alterações climáticas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável.

O caminho não foi fácil! Contudo, conduziu-nos a bom porto e temos muito orgulho em afirmar que, na atualidade, somos a única Universidade nacional a oferecer um curso de Doutoramento em `Uma Só Saúde`.

– Que plano curricular o compõe?
O plano de estudos proposto para o programa Doutoral One Health foi orientado de acordo com uma visão transdisciplinar. Foram integrados no corpo docente das unidades curriculares professores/investigadores com experiência nas diferentes áreas de conhecimento envolvidas na One Health, bem como diferentes laboratórios e estruturas especializadas da UTAD que realizam investigação e prestação de serviços nesta área, nomeadamente no âmbito das Ciências Veterinárias, Ciências do Desporto e Ciências da Nutrição. Para além disso, temos várias parceiras nacionais e internacionais que irão colaborar connosco em seminários, workshops, palestras, orientação de estudantes e até mesmo na supervisão de estágios nas respetivas instituições.

– Que saídas profissionais poderão proporcionar aos doutorandos?
A proposta apresentada é muito original e contemporânea, o que poderá servir como fator de atração para bons estudantes nacionais e internacionais, assim como de capital humano que permita aumentar a coesão territorial.

O ciclo de estudos estará, nesse sentido, particularmente bem posicionado para colocar no mercado de trabalho profissionais altamente qualificados com grande diferenciação que poderão preencher as necessidades de doutores que coordenem os complexos processos de adaptação e resposta aos desafios atuais da One Health.

A UTAD reúne condições de excelência para oferecer um programa doutoral neste domínio.

– Que parcerias firmaram, que tipo de cooperação esperam e o que conta que tragam ao curso?
Foram estabelecidas parcerias com instituições nacionais de grande prestígio, como a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, a Direção Geral de Alimentação e Veterinária, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e Centro Académico Clínico, cujos profissionais vão reforçar a componente de formação que engloba a área da saúde humana.

O programa conta, também, com parcerias internacionais de instituições de elevada reputação mundial em vários domínios como, por exemplo, no âmbito do diagnóstico e epidemiovigilância das zoonoses (Agricultural University Of Athens, Grécia), métodos de deteção de agentes patogénicos causadores de toxinfeções alimentares (Universidad Complutense de Madrid, Espanha) e avaliação de risco (Università degli Studi di Perugia, Itália).

Estas colaborações internacionais serão articuladas no programa doutoral sob a forma de residências técnicas e científicas realizadas pelos estudantes, com o objetivo de gerar investigação científica que contribua para a elaboração das teses de doutoramento.

A complexidade deste desafio tão atual requer uma preparação muito cuidada dos próximos profissionais a serem solicitados para intervir nestes domínios.

– A quem se destina e que procura têm registado?
Os candidatos devem ser titulares do grau de mestre em Ciências Veterinárias, Médicas, Químicas e Biológicas, da Nutrição, do Desporto, da Saúde, do Ambiente, ou áreas afins, que estejam envolvidos na intervenção nos domínios da saúde humana, animal e/ou ambiental. Destina-se também a titulares de um grau académico superior estrangeiro, conferido na sequência de um 2º ciclo de estudos organizado de acordo com os princípios do Processo de Bolonha por um Estado aderente ao Processo. Além disso, é também ideal para titulares de um grau académico superior estrangeiro que seja reconhecido como satisfazendo os objetivos do grau de mestre pelo Conselho Científico. Por último, podem inscrever-se no curso os titulares de grau de licenciado, detentores de um currículo escolar, científico ou profissional, que seja reconhecido pelo Conselho Científico.

A primeira fase de candidaturas ocorre de 7 de fevereiro a 22 de março. A segunda fase de 4 de junho a 16 de julho e a terceira fase de 17 a 25 de setembro.

– Visto ser um curso a acontecer em Vila Real, acredita que possa ter algum impacto no interesse?
Como já referi, este curso é atualmente único em Portugal. O programa doutoral pretende criar uma cultura académica diferenciadora que considere o direito do estudante de desenvolver competências que superem a especialização mais convencional; que problematize as informações e garanta a sua formação como cidadão e profissional, cientista comprometido com a transferência do conhecimento na procura da melhoria da qualidade de vida; que possibilite o desenvolvimento do pensamento autónomo, substituindo a simples transmissão do conhecimento pelo envolvimento dos estudantes num processo ativo que lhes permita consolidar o conhecimento elaborado e pensar criticamente; que procure a resolução de problemas, estimule a discussão, desenvolva metodologias de busca e de construção de conhecimentos; que confronte os conhecimentos elaborados e as pesquisas com a realidade; que aponte soluções aos problemas sociais.

Noutra dimensão, a presente proposta de programa doutoral contribuirá, igualmente, para fomentar a cooperação transfronteiriça e o desenvolvimento das regiões, que frequentemente são consideradas periféricas aos principais centros de decisão e atividade económica, pelo que apresentam desvantagens estruturais e carecem de estratégias de desenvolvimento específicas. Neste sentido, um programa doutoral desta natureza pode criar oportunidades para facilitadoras do intercâmbio de estudantes e de individualidades externas que contribuirão com o seu expertise em seminários e workshops desenvolvidos na UTAD dinamizando e reconfigurando alguns aspetos socioeconómicos da região.

É cada vez mais imperativo reconhecer que a “Uma só Saúde” deve ser pensada e executada de forma integrada e consciente.

Disse que o caminho para que a UTAD fosse a única universidade nacional a oferecer este curso não foi fácil. Que obstáculos foram levantados no processo de aprovação do Doutoramento?
Obviamente que um projeto desta envergadura implicava muita dedicação, entusiasmo, trabalho, mas também muita esperança no resultado. A ideia nasceu, mas foi crescendo com a ajuda de vários docentes da UTAD que contribuíram para que fosse possível a sua concretização. Temos um Departamento de Ciências Veterinárias, assim como outros departamentos, bastante vocacionados para a One Health com um corpo docente com know-how na área e nas diversas vertentes que a temática implica. A UTAD está bem posicionada na área da saúde animal, vegetal e ambiental sendo que, embora tenha expertise na saúde humana, através da investigação preconizada assim como nas colaborações nacionais e internacionais existentes, apresentava alguma fragilidade neste âmbito da One Health. Contudo, através das várias colaborações e protocolos estabelecidos com diferentes instituições diretamente relacionados com a medicina humana, conseguimos colmatar esse ponto, estando certos de que os obstáculos serão, no futuro, etapas a ultrapassar.

Obviamente que um projeto desta envergadura implicava muita dedicação, entusiasmo, trabalho, mas, também muita esperança no resultado.

– O conceito One Health é cada vez mais abordado pela sociedade. 4 anos após a pandemia, em que ponto acredita que estamos quanto à evolução e à consciência em relação a este conceito?
O conceito de “uma só saúde” – One Health – representa uma abordagem colaborativa e multissectorial que visa otimizar, de forma sustentável, a saúde das pessoas, animais, plantas e ecossistemas, que estão intrinsecamente ligados e são interdependentes. Ao vincular seres humanos, animais, plantas e meio ambiente, este paradigma pode auxiliar no controlo de um amplo espectro de doenças e problemas de saúde, desde o seu diagnóstico, prevenção, tratamento e mitigação. A complexidade deste desafio tão atual requer uma preparação muito cuidada dos próximos profissionais a serem solicitados para intervir nestes domínios, pois além de necessitarem de uma formação avançada, também será imprescindível terem uma visão transdisciplinar destes problemas.

– De acordo com um inquérito levado a cabo na área da saúde pública, apenas 30% dos médicos internos desta especialidade referem estar familiarizados com o conceito One Health. O que acredita estar em falta para dar a conhecer mais o conceito e o que pode ser feito?
Penso que o conceito está cada vez mais reconhecido pela comunidade médica, científica e mesmo pela comunidade. Dentro das várias formas que podemos utilizar para explicar a importância do conceito e divulgar estão as palestras e workshops educacionais para profissionais de saúde, estudantes e público em geral, destacando a interconexão entre saúde humana, animal e ambiental e ecossistemas; os media, utilizando plataformas sociais, blogs, podcasts e outras formas de comunicação para partilhar informações sobre One Health e os seus benefícios; a educação nas escolas integrando conceitos de One Health nos currículos escolares para aumentar a consciencialização; a colaboração interdisciplinar promovendo a colaboração entre profissionais de saúde e outras  áreas relacionadas para abordar problemas de saúde de forma holística; as parcerias governamentais, trabalhando com agências governamentais para desenvolver políticas e programas que promovam abordagens integradas de saúde;  as publicações científicas que demonstrem os benefícios e a necessidade da abordagem One Health; os eventos de sensibilização como feiras de saúde, para oferecer informações e serviços relacionados com a One Health para a comunidade.

O conceito de “uma só saúde” – One Health – representa uma abordagem colaborativa e multissectorial que visa otimizar, de forma sustentável, a saúde das pessoas, animais, plantas e ecossistemas, que estão intrinsecamente ligados e são interdependentes.

-Qual a importância e o papel do veterinário na promoção deste conceito e no desenvolvimento de ações para o concretizar?
O papel do médico veterinário na One Health é crucial, pois desempenha uma parte fundamental na interseção entre a saúde humana, animal, das plantas e ambiental. Os veterinários ajudam a prevenir e controlar doenças zoonóticas, promovem a segurança alimentar e monitorizam a saúde dos animais, contribuindo assim para a saúde global e o bem-estar das populações humanas, animais e do meio ambiente, representando igualmente um papel fundamental na investigação, educação e políticas de saúde pública relacionadas à interconexão entre essas áreas.

Adicionalmente, e de acordo com a OMS, existem mais de 200 tipos de zoonoses. Cerca de 60% das doenças infeciosas humanas têm a sua origem em animais; pelo menos 75% das doenças infeciosas emergentes do ser humano, incluindo Ébola, HIV e gripe, têm origem animal. Concomitantemente, cinco novas doenças humanas surgem todos anos e três delas são de origem animal, pelo que o papel do médico veterinário é fulcral.

O papel do médico veterinário na One Health é crucial, pois desempenha uma parte fundamental na interseção entre a saúde humana, animal, das plantas e ambiental.

– A nível global, que visibilidade traz a Portugal e à UTAD liderar a implementação deste curso?
Sem qualquer dúvida que é muito gratificante para uma Instituição de Ensino Superior Público ver aprovado um curso de doutoramento em saúde integrada – One Health. A abordagem One Health no ensino superior é fundamental porque reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. Ao integrar essas áreas, os estudantes desenvolvem uma compreensão holística dos desafios de saúde globais e estão mais bem preparados para enfrentar questões complexas, como doenças zoonóticas e saúde pública, promovendo uma abordagem multidisciplinar, colaborativa e holística essencial para lidar com os problemas de saúde atuais e futuros. Neste seguimento, colocámos a UTAD no primeiro lugar do pódio, nesta área, em Portugal.

– Enquanto diretora do curso e como médica-veterinária, qual o sentimento após a aprovação deste doutoramento?
Como médica-veterinária, docente e investigadora em One Health, sinto-me extremamente orgulhosa. Foi um processo longo, árduo, mas que espero ser um sucesso. É cada vez mais imperativo reconhecer que a “Uma só Saúde” deve ser pensada e executada de forma integrada e consciente. Temos um corpo docente e parcerias de topo na área. Enquanto diretora do curso e, juntamente com a restante direção, seremos responsáveis por selecionar os candidatos admitidos à matrícula e inscrição no curso de acordo com os critérios de seriação estabelecidos. Por outro lado, teremos de monitorizar, constantemente, o funcionamento do curso por forma a manter um nível de qualidade excelente.

Sem qualquer dúvida que é muito gratificante para uma Instituição de Ensino Superior Público ver aprovado um curso de doutoramento em saúde integrada – One Health.

– Na sua perspetiva, como irá evoluir o Doutoramento One Health e como o vê daqui a 5 anos?
Estou muito otimista no que concerne ao curso daqui a 5 anos, acreditando que este Doutoramento poderá contribuir, eficazmente, às demandas do mercado de trabalho, às oportunidades de carreira e à remuneração associada à profissão, aumentando o prestígio da nossa instituição de ensino.

 

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