Um inquérito divulgado pela Compassion in World Farming e pelo Eurogroup for Animals mostrou que 91% das pessoas inquiridas em nove países da União Europeia (UE) acreditam que o bem-estar dos peixes em viveiro deve ser protegido de igual forma ou mais do que o dos animais de criação.
A investigação entrevistou mais de 9.000 pessoas com o intuito de avaliar as perceções do público em relação aos animais aquáticos, a sua consciencialização sobre as práticas de aquacultura e o consumo de produtos aquáticos.
De acordo com a comunicação do Eurogroup for Animals, anualmente, são criados até mil milhões de peixes na UE, não existindo atualmente legislação específica que tenha em conta as suas necessidades específicas, permitindo a persistência de práticas antiéticas. “Como resultado, muitos experimentam dor e sofrimento quando falamos em práticas intensivas”, remata o grupo de proteção animal.
“A superlotação torna os peixes mais suscetíveis a doenças, stress e lesões físicas, e a fome é comum nestas comunidades. Na UE, os peixes são frequentemente mortos de forma desumana e muitos sofrem mortes lentas e dolorosas por asfixia, ou mesmo sendo eviscerados vivos, apesar de extensas análises demonstrarem que os peixes são seres sencientes, capazes de sentir prazer e dor”, enfatiza o Eurogroup for Animals.
Desta forma, ambos os grupos do setor da proteção animal apelam à Comissão Europeia (CE) para que forneça normas de bem-estar específicas para peixes em aquacultura como parte da revisão das leis de bem-estar animal.
O inquérito também mostrou que muitos cidadãos da UE ignoram os métodos mais comuns de aquacultura e as suas consequências. Quase dois terços (63%) dos entrevistados em Espanha mostraram uma baixa consciencialização para as práticas atuais desta área, a mais baixa de todos os países inquiridos.
Neste sentido, apenas 30% do público espanhol diz estar consciente de que a percentagem de peixes que morrem durante a criação em viveiros é substancialmente maior do que a de animais de criação.
Já 71% concordaram que os peixes podem sentir dor. Na República Checa, 77% dos inquiridos concordaram com essa afirmação – a mais alta de todos os países participantes na iniciativa.
Menos de metade (39%) de todos os cidadãos da UE mostraram estar cientes de que a maioria dos peixes em aquacultura não é colocada num estado de inconsciência antes do abate e 70% afirmaram que deveria ser um requisito legal.
Relativamente a comprar peixe, 9 em cada 10 entrevistados referiram que gostariam de comprá-los sabendo que são criados em melhores condições de bem-estar, enquanto mais de dois terços (69%) disseram que gostariam que os produtos de peixe incluíssem uma rotulagem clara sobre bem-estar.
“Apesar de serem cultivados aos bilhões, com estudos aprofundados a destacar a sua senciência e a procura dos cidadãos por melhor proteção, os peixes continuam a ser esquecidos. Esperamos que a próxima revisão da legislação da UE em matéria de bem-estar animal inclua medidas específicas para proteger as necessidades destes animais, de forma a melhorar significativamente as condições de bem-estar na aquicultura da UE”, salientou Reineke Hameleers, CEO, Eurogroup for Animals.
“O nosso inquérito mostra que a esmagadora maioria dos cidadãos da UE inquiridos está preocupada com o bem-estar dos peixes em aquacultura. No entanto, muitos desconhecem a crueldade que pode ser infligida durante a criação e o abate dos mesmo e, além disso, que tudo isto ocorre dentro da lei”, explicou Natasha Boyland, Conselheira Sénior de investigação e Política de animais aquáticos, da Compassion in World Farming.
E continua: “os peixes, como todos os animais criados em terra, são seres sencientes, que precisam de proteção legal para minimizar o seu sofrimento. Instamos a CE a responder às preocupações dos cidadãos e a introduzir legislação específica para os peixes”.