A Associação Zoófila Portuguesa (AZP), em Lisboa, é uma instituição que tem como finalidade promover a proteção de todos os animais e cumprir esta missão, o seu principal meio de atuação é através do hospital veterinário. No entanto, o percurso trilhado – que culminou na abertura do hospital há cerca de ano e meio – tem sido construído pedra a pedra.
Ana Fernandes, presidente da direção da AZP, conta que a associação “surgiu em 2001, na altura paralelamente à União Zoófila (UZ), com o intuito de prestar cuidados veterinários aos animais, em especial àqueles que precisassem de mais proteção”. Sendo, contudo, duas associações distintas “continuam a ser irmãs e parceiras”, explica. Assim sendo, com a finalidade de providenciar cuidados veterinários, a associação primeiramente montou um consultório, mas depressa percebeu que este não iria conseguir dar resposta às necessidades existentes, o que fez com que se desse o passo seguinte e se abrisse uma clínica veterinária. Também esta acabou por esgotar a sua capacidade (no espaço onde estava sediada) e nesse momento ganhou-se consciência de que era chegado o momento de batalhar para se reunir as condições necessárias para mudar de instalações e passar-se ao patamar seguinte: o hospital veterinário.
“Funcionamos como qualquer outro hospital veterinário”, adianta Ana Fernandes. A presidente explica que “tentamos prestar o melhor serviço veterinário a todos os clientes que nos procuram, ou seja, tentamos fazer medicina de qualidade, apostando todos os dias na melhoria contínua dos nossos serviços”. No entanto, sendo um hospital de uma instituição humanitária, de acordo com a responsável tem um desafio maior: “responder às expetativas dos nossos sócios, que esperam que tenhamos uma atitude onde a nossa centralidade seja o animal. Por isso temos um desafio superior ao dos outros hospitais porque esta centralidade leva-nos a dar resposta a todos os animais, independentemente de terem ou não pessoa responsável por eles. Cumprimos a nossa missão de dar apoio aos animais, sobretudo aos desprotegidos”.
A prioridade do hospital é “tratar o animal, sendo os custos associados secundários”, completa Inês Ribeiro, a diretora-clínica. “Por exemplo, numa situação de atropelamento de um animal sem tutor há sempre um esforço para que a pessoa que encontra o animal e o traz, de alguma forma, se responsabilize por ele e, pelo menos, por uma parte das despesas. Normalmente as pessoas são bastante solícitas nesse aspeto: ou custeiam parte do tratamento ou tentam mesmo arranjar-lhe uma família”. Porém, quando este ‘processo’ falha, ou seja, a pessoa que leva o animal não consegue prestar qualquer tipo de auxílio, aí a AZP “responsabiliza-se por ele e por tentar encontrar-lhe uma família, mas como é óbvio não podemos ser a primeira linha”, refere a médica veterinária.
Uma luta constante
Entre os clientes do Hospital Veterinário da AZP estão outras associações de proteção de animais, porém “não são o nosso público mais frequente”, aponta Inês Ribeiro. “O hospital está aberto ao público em geral e, por isso, qualquer pessoa nos pode procurar e, caso seja associada, tem algumas vantagens económicas, mas nem sequer é essa a filosofia base”.
O Hospital Veterinário da AZP acaba por se posicionar “numa margem do mercado complementar a todos os hospitais de Lisboa (que é a área onde atuamos), sendo que trabalhamos para a generalidade da população portuguesa que, como sabemos, tem níveis de rendimento médios ou baixos e acabamos por ter um grande volume de atendimento nesse sentido. Por isso nem somos concorrentes dos hospitais nossos vizinhos, com quem temos uma excelente relação profissional”, salienta a presidente.
A AZP depende essencialmente, no que à sua sobrevivência diz respeito, desta “prestação de serviços veterinários, até porque os donativos têm um valor insignificante nas nossas receitas”, revela a responsável. A subsistência da associação, a par da prática de uma medicina veterinária de qualidade, é uma batalha diária. Nesta luta constante e sem fim, Inês Ribeiro aponta como desafio a gestão de uma equipa grande, que só no respeitante a médicos veterinários é constituída por 15 elementos. Mas, por outro lado, o facto de uma percentagem considerável dos clientes do hospital ter baixo poder económico também é uma condicionante, pois “implica jogo de cintura para conseguirmos tratar o animal, manter a associação viva e capaz de conservar os postos de trabalho e fazer cada vez mais e melhor medicina”, corrobora a diretora-clínica, sublinhando que “esta é a minha luta: praticar uma medicina o mais perto possível daquilo que é considerado o golden standard atual”.
Tudo in house
Inês Ribeiro entrou para a equipa do hospital apenas em fevereiro, tendo sido posteriormente convidada a assumir a direção-clínica. “Quando comecei a trabalhar no hospital não conhecia o trabalho que se fazia aqui e, como me lembrava da existência da clínica antiga, achava que vinha fazer ‘medicina de clínica’, mas a verdade é que fazemos tudo o que se faz nos hospitais veterinários de Lisboa ou ainda mais”, relata a médica veterinária. Deste modo destaca, por exemplo, que “não há cirurgias que não façamos in house, fazemos ecografias e qualquer ‘especialidade’ que não consigamos dar resposta, que são raríssimas, temos colegas que, não fazendo parte da equipa residente, nos vêm ajudar”.
E o certo é que dada esta busca incessante pela prática de uma medicina veterinária golden standard por um lado e, por outro, “apesar de os nossos clientes terem menos poder económico do que acontece noutros hospitais da cidade, são pessoas com uma vontade muito maior que os seus animais sejam diagnosticados e tratados do que aquelas com quem me fui cruzando em todos os hospitais onde já trabalhei”, revela Inês Ribeiro. “Muitas vezes conseguimos avançar com diagnósticos que nem sempre se consegue noutros centros veterinários”. Daí que o Hospital Veterinário da AZP seja pródigo em casuística, o que permite aos seus médicos veterinários uma aplicação e desenvolvimento constante dos seus conhecimentos. A médica veterinária garante que, na altura, “fiquei surpreendida por aquilo que se fazia aqui porque essa ideia não passava para fora, mas esta situação está a mudar porque cada vez nos são referenciados mais casos”.
Quanto ao hospital propriamente dito, Inês Ribeiro refere que “é grande, está bem equipado e tem potencial para crescer. O seu funcionamento está cada vez melhor e mais bem ‘oleado’, chegamos a setembro e começámos a questionar-nos o que podemos fazer de novo e o que podemos melhorar”.
Mas chegar a este patamar não foi fácil. Ana Fernandes sublinha, por exemplo, que “mudámos para estas instalações com uma equipa reduzida e tivemos dificuldade em constitui-la, mas agora temos uma equipa extraordinária”.
O percurso da AZP para levar a cabo a sua missão de prestar serviços médico veterinários, que culminou no hospital veterinário, não está terminado. Pelo contrário. “Em termos de medicina veterinária evoluímos imenso e estamos muito orgulhosos de termos chegado a este hospital porque conseguimos socorrer milhares de animais por ano, mas é pouco face às necessidades”, alerta a presidente da direção. “Fazemos milhares de esterilizações por ano, mas é pouco, existindo ainda muito por fazer”.
Assim sendo, perante o facto de as “condições de vida dos animais serem dramáticas, não podemos de todo estar satisfeitos com o ponto da situação”, remata Ana Fernandes. E, por isso, o Hospital Veterinário da AZP vai continuar empenhado em tratar todos os animais que cheguem às suas instalações.