Na maioria dos CAMV, reina a convicção de que existe uma equipa. Afinal, todos trabalham no mesmo espaço, partilham o mesmo calendário e servem os mesmos clientes. Mas olha com atenção: será que tens mesmo uma equipa… ou apenas um grupo de pessoas a trabalhar lado a lado, sem direção comum, sem comunicação eficaz, e muitas vezes sem sequer saberem o que o outro está a fazer?
A diferença entre uma equipa e um conjunto de colaboradores é brutal. E, quase sempre, invisível aos olhos de quem está a viver o caos por dentro. Se sentes que estás sempre a correr, a apagar fogos, a repetir as mesmas instruções e a resolver os mesmos problemas, este artigo é para ti.
Criar uma equipa não é só juntar pessoas
Talvez aches que tens sorte com a tua equipa. Eles aparecem, cumprem o horário, fazem o trabalho. Mas… quantas vezes já ouviste “isso não é da minha responsabilidade”? Quantas vezes entras numa sala e sentes o peso do silêncio, da desconexão, da falta de espírito de equipa?
E quando um colaborador falta, tudo desmorona. A receção não sabe o que comunicar, o auxiliar não conhece os procedimentos, o veterinário não tem apoio. A máquina para. O caos instala-se.
Se isto te soa familiar, não estás sozinho. Muitos CAMV vivem neste piloto automático, onde a produtividade esconde uma desorganização silenciosa. Onde o movimento constante mascara a ausência de direção.
Muitos donos de um CAMV confundem presença com colaboração. Ter quatro ou cinco pessoas a trabalhar no mesmo espaço não faz delas uma equipa. Equipa implica alinhamento. Significa que cada pessoa conhece o seu papel, compreende os objetivos do CAMV, sente-se parte de algo maior e contribui para isso de forma ativa.
Num CAMV verdadeiramente alinhado, não é preciso repetir tudo vinte vezes. As decisões são partilhadas. As informações circulam. Os erros diminuem. O atendimento melhora. Os resultados financeiros acompanham.
O problema é que a maioria dos CAMV funciona em modo sobrevivência: sem reuniões, sem processos definidos, sem comunicação estruturada, e sem espaço para desenvolvimento humano. O dono trabalha mais que todos os outros, toma todas as decisões, está esgotado — e mesmo assim sente que as coisas não andam.
E não andam mesmo. Porque o que falta não são mais mãos, mas sim mais estrutura, mais visão e, acima de tudo, liderança.
O que distingue uma verdadeira equipa?
- Objetivos em comum: Todos sabem o que o CAMV quer alcançar naquele mês, trimestre ou ano. Não andam só a cumprir tarefas, andam a caminhar na mesma direção.
- Papéis bem definidos: Cada um sabe onde começa e acaba a sua responsabilidade. Não há sobreposição confusa nem buracos por preencher.
- Rituais de alinhamento: Reuniões semanais, check-ins rápidos, espaços de comunicação informal. Nada de trabalhar no escuro.
- Cultura de entreajuda: Os membros da equipa apoiam-se. Corrigem-se sem julgamento. Sabem que estão do mesmo lado.
Dica: Faz uma reunião individual com cada pessoa
Senta-te com cada colaborador e pergunta três coisas:
- O que mais gostas de fazer aqui e o que ambicionas?
- O que te deixa mais frustrado no dia a dia?
- Como achas que podíamos trabalhar melhor em equipa?
Anota tudo. Vais sair dessas conversas com ideias práticas para melhorar o funcionamento do CAMV — e, mais importante, vais começar a construir uma verdadeira relação de liderança.
Ainda achas que trabalhar em equipa é natural?
Muitos donos de CAMV acreditam que as pessoas deviam saber trabalhar em equipa “por instinto”. Mas trabalhar em equipa é uma competência — e como qualquer competência, aprende-se, treina-se e exige liderança. A ausência de processos, de comunicação e de clareza não é natural. É negligência organizacional.
A diferença entre chefe e líder
Ao longo da última década, tenho acompanhado de perto centenas de CAMV e equipas de diferentes perfis. Mais recentemente, através da minha experiência pela Academia Pet Universal — onde dou formação e mentoria a dezenas de profissionais em gestão de empresas veterinárias — percebo um padrão: os CAMV que crescem de forma saudável são aqueles onde há liderança verdadeira.
O chefe está sempre a correr, cansado, a apagar fogos. O líder cria previsibilidade. Organiza. Define prioridades. Liberta-se do caos.
Muitos dos profissionais com quem trabalho têm equipas pequenas, mas, mesmo assim, conseguem transformar completamente o ambiente e os resultados do CAMV quando começam a implementar reuniões regulares, definir papéis claros e construir relações de confiança com os colaboradores. Pequenos hábitos, grandes transformações.
Começa a construir cultura. Cultura é aquilo que a tua equipa faz quando tu não estás presente. Define os comportamentos que queres ver repetidos, dá o exemplo e reforça-os todos os dias. É a cultura que transforma um grupo em equipa — e uma equipa num CAMV de excelência.
Liderança não é estar presente, é criar presença
Se queres transformar o teu CAMV, começa por aí: cria uma equipa. Define objetivos. Organiza processos. Estabelece rituais. E lidera.
Porque ter pessoas a trabalhar contigo é fácil. Ter uma equipa contigo é o que muda tudo.
*Luís Pinto, cofundador da Pet Universal
**Artigo de opinião publicado na edição 192, de abril, da VETERINÁRIA ATUAL