O Royal Veterinary College (RVC), em colaboração com instituições indianas, conduziu um estudo sobre a proibição do uso de colistina na pecuária indiana, tendo identificado cinco fatores-chave que influenciaram esta decisão política e propôs um modelo para regulamentar o uso de antibióticos em animais de produção.
A colistina, considerada um antibiótico de último recurso na medicina humana, foi amplamente utilizada na pecuária até a descoberta, em 2015, de genes de resistência em suínos na China. Este evento impulsionou ações globais para restringir o seu uso em animais de produção, nomeadamente na Índia, país com elevados níveis de resistência antimicrobiana.
O objetivo do estudo passou por fornecer insights para a regulamentação de outros antibióticos na pecuária e apoiar uma abordagem One Health, que reconhece a interligação entre a saúde humana e animal.
A equipa de investigadores do RVC realizou uma análise de políticas públicas, examinando documentos oficiais, relatórios, literatura científica publicada e artigos de imprensa, tendo também conduzido 19 entrevistas com médicos veterinários em cinco estados indianos para recolher as suas perspetivas.
Os resultados identificaram cinco fatores-chave que podem orientar o desenvolvimento de novas políticas para os antibióticos:
- Eventos relacionados com antibióticos: A descoberta, em 2015, de genes de resistência à colistina em suínos na China deu início a uma mudança política global para restringir o uso desse antibiótico em animais.
- Narrativas consistentes sobre antibióticos para gerar apoio: A colistina passou a ser descrita como um antibiótico “de último recurso” para humanos, devendo ser reservado para infeções graves resistentes a outros medicamentos.
- Justificar a formulação de políticas antibióticas como um esforço válido: Quando as políticas sobre a colistina estavam em debate na Índia, a resistência ao antibiótico em humanos ainda era baixa, o que reforçava a narrativa de que era necessário preservá-lo para uso humano.
- Liderança na regulamentação como exemplo de mudança: Vários países implementaram políticas sobre a colistina entre 2016 e 2019, e a Índia expressou o desejo de se posicionar como um ator mundial no combate à resistência antimicrobiana.
- Ausência de oposição significativa à política antibiótica: Os setores avícola e farmacêutico apoiaram a proibição da colistina, o que foi crucial, já que ambos detinham poder suficiente para bloquear a legislação.
A investigação reforçou ainda a importância de manter um diálogo contínuo entre diferentes partes interessadas sobre quais antibióticos podem ou não ser usados em animais, com políticas que reflitam as informações científicas mais atuais e as necessidades das populações humanas e animais.
No entanto, restringir o uso de certos antibióticos implica que produtores e veterinários considerem métodos alternativos para manter os animais saudáveis, como melhorar as práticas de gestão.
No geral, o estudo concluiu que o desenvolvimento de políticas antibióticas nas áreas da saúde humana e animal é um processo complexo, que requer tempo e a participação de diversos grupos, mas demonstra que os governos estão dispostos a tratar a resistência aos antibióticos com seriedade. Os cientistas consideram esta realidade um “sinal positivo”, mas alertam que existe ainda “muito a fazer”.
Para Mat Hennessey, autor principal e investigador no RVC, “a nossa análise sobre a proibição do uso da colistina na pecuária na Índia em 2019 detalha os complexos passos que levaram a essa regulamentação. Apesar de ser uma resposta reativa a eventos globais importantes, esta ação foi construída através de um processo longo, para o qual o cenário político já estava preparado”.
E continua: “considerando que outros antibióticos críticos para a saúde humana continuam a ser amplamente utilizados na pecuária, apelamos aos Estados e decisores políticos que atuem de forma proativa no desenvolvimento de políticas antibióticas eficazes. Os fatores identificados na nossa revisão oferecem um modelo útil para essa ação tão necessária”.