No XIV Congresso da Ordem dos Médicos Veterinários, o Serviço de Urgência Rotativo Médico-Veterinário de Bragança recebeu o Prémio de Honra. Na próxima edição, a VETERINÁRIA ATUAL vai lembrar como tudo começou, perceber o que esteve na génese do projeto e as mais-valias que trouxe para clientes e para profissionais de medicina veterinária.
Estávamos no início de 2012 quando a VETERINÁRIA ATUAL noticiou que os centros de atendimento médico veterinário (CAMV) de Bragança tinham decidido unir esforços para otimizar recursos humanos e materiais na região no que dizia respeito ao funcionamento dos serviços de urgências. Na altura, com quatro CAMV a funcionar com horário integral na cidade transmontana, os clínicos pensaram que não fazia muito sentido estarem todos com o telemóvel de urgência ligado 365 dias por ano, sobretudo numa localidade de média dimensão.
No ano em que se assinalam 13 anos desde esta notícia, e a propósito do Prémio de Honra que receberam no mais recente congresso da Ordem dos Médicos Veterinários, em outubro passado, a VETERINÁRIA ATUAL decidiu voltar ao assunto para conhecer em pormenor a história do nascimento do Serviço de Urgência Rotativo Médico-Veterinário de Bragança. Para isso, falámos com os dinamizadores da ideia – Raquel Pereira, do VetCenter, Duarte Diz Lopes, do VetSantiago, e Luís Asseiro de Sá, da Clínica Veterinária de Vale D’Álvaro – e também com os profissionais que decidiram aderir ao projeto quando este já estava em andamento consolidado no terreno, Elisabete Gonçalves, do VetCantarias, e António Gonçalves, da AC.Veterinária.
Os fundadores lembraram como viviam assoberbados com a necessidade de dar resposta aos tutores dos animais durante o período laboral e fora desse horário, em qualquer altura do ano. Raquel Pereira recordou que ter sempre disponibilidade para os clientes “é muito duro, é algo que não nos deixa tranquilizar a mente, porque não podemos sair às oito da noite [do CAMV], fechar a porta e só voltar a pensar nisso [no trabalho] na manhã do dia seguinte. Temos de estar sempre disponíveis e isso é muito cansativo”.
Pela mesma bitola alinhou Duarte Diz Lopes, para quem, na altura, já era claro que “a questão da saúde mental dos profissionais está muito ligada a esta pressão da disponibilidade constante”.
O projeto começou devagar, mas como lembrou Luís Asseiro de Sá, “as coisas depressa cresceram” para o formato que têm hoje implementado. No início de cada ano é desenhada uma escala rotativa de urgências médico-veterinárias que junta cinco clínicas de Bragança e que já desenvolveu ramificações à comunidade local, através de parcerias com o Instituto Politécnico de Bragança e com o serviço médico veterinário da Câmara Municipal de Bragança.
Olhando para trás, os profissionais não podiam estar mais satisfeitos com os resultados alcançados. Raquel Pereira disse que, agora, tem “uma qualidade de vida que não tinha” e que hoje não a troca por nada, “nem pensar”, enquanto Elisabete Gonçalves sublinhou que “perder a saúde mental é pior do que perder um cliente”. A questão da rotação de clientes nunca foi um problema para os integrantes do projeto até porque, como explicou Duarte Diz Lopes, “numa emergência há sempre uma clínica disponível, que atende o animal numa situação crítica e que pode estar em risco de vida. Isto sobrepõe-se a tudo o resto”.
“A verdade é que nos olhamos como colegas e não como concorrentes”, acrescentou Luís Asseiro de Sá.
O balanço destes 13 anos do projeto é bem resumido nas palavras de António Gonçalves. “Realmente, é um projeto bonito e espero que possa continuar. Somos concorrentes, mas acho que há respeito e há uma relação muito saudável”, declarou o diretor clínico do AC. Veterinária.
Na próxima edição da revista VETERINÁRIA ATUAL, a sair no mês de abril, vai ficar a conhecer toda a história do Serviço de Urgência Rotativo Médico-Veterinário de Bragança e os impactos que teve na vida profissional e na saúde mental dos parceiros que integram a escala rotativa. Como frisaram, não será um modelo para implementar em todas as localizações ou que sirva a todos os CAMV do País, mas é uma história que pode servir de inspiração para os profissionais de saúde veterinária tomarem as rédeas do seu bem-estar profissional e pessoal.