Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Esta frase ainda é atual?
Sim, sem dúvida. Mudam-se os paradigmas, muitas vezes mudam-se as formas de fazer o mesmo. Ou seja, o objetivo das organizações continua a ser o mesmo – encontrar clientes que valorizem aquilo que elas têm para oferecer – o que vai mudando são as formas de lá chegar. Mas uma organização só existe porque existem clientes. Se não existir ninguém que valorize o que ela está a fazer, então deixa de existir. E se deixarem de ter clientes, em princípio morrem. A questão da sobrevivência é fundamental, as organizações são um organismo vivo, se deixarem de ter alimento, como qualquer organismo vivo desaparecem. E esta é que é a grande demanda das organizações: encontrar ao longo do tempo alimento e sobreviverem. O que é a crise? É a crise de alimento, de clientes. O primeiro sinal de crise é a falta de procura, e muitas empresas ficam enfraquecidas, outras vão à luta e criativamente encontram soluções. Mas o que as faz mexer é um princípio biológico, é a sobrevivência.
Esse clique de ver que a empresa não está a conseguir atingir os objetivos, que tem de se reinventar, parte do gestor?
Na maior parte dos casos parte da falta de clientes, ou seja, da crise. Habitualmente por detrás das grandes mudanças há um período de crise, o negócio que está a funcionar menos bem e que obriga a mexidas. São poucas as organizações que fazem aquilo que seria o indicado, mas que é muito difícil: identificar precocemente o que já está a mudar e agir antecipadamente. Ou seja, estar atentos a pequenas coisas e conseguir identificá-las antes de terem surgido de uma forma perfeitamente visível para o mercado. São pessoas que conseguem identificar tendências e que as agarram. Quando o mercado desperta para essa tendência, a empresa já têm muito know-how, pois é algo que não se aprende nos livros, aprende-se pela tentativa/erro.
E isso faz com que algumas empresas tenham mais sucesso que outras na mesma área?
Há muitas organizações que foram inovadoras, mas depois não conseguiram continuar com o projeto de forma consistente e até são outras que se aproveitam dos erros que se cometeram. Mas habitualmente a inovação é amiga da sobrevivência, porque a inovação é tentar encontrar novas formas de encontrar soluções e que tornam obsoletas as anteriores. Uma boa inovação vai colocar a concorrência de lado e isso é sobrevivência.
Mas hoje em dia vemos que a mudança é cada vez mais rápida.
Sem dúvida! Atualmente achamos que está tudo a mudar porque estamos a viver um período crítico, mas o que acontece é que há mais velocidade e isso tem a ver com as novas tecnologias de informação, que permitiram que o conhecimento se tornasse algo acessível a todos. Tornou-se democrático, abundante e pode haver muitas sinergias de conhecimento. Há dados curiosos, como a quantidade de livros que se produzem por dia, ou de pesquisas que se fazem no Google. Isto acelerou a mudança e originou determinadas flutuações que acontecem, por exemplo, a uma empresa que estava há dez anos no Top 50 do Financial Times, e passados dez anos já não está. As coisas acontecem com uma rapidez superior.
Como é possível a adaptação à mudança?
As pessoas adaptam-se da mesma forma que se adaptavam no passado, aí o ser humano não mudou muito.
Mas algumas pessoas adaptam-se melhores que outras.
Sim, mas sempre foi assim. A história da evolução é essa, uns conseguem e não é por serem mais fortes que os outros. Conseguem é em determinadas circunstâncias encontrar melhores respostas. Uma determinada empresa até podia ter um defeito, mas se o mercado muda, aquele defeito pode virar um aspeto positivo. Podemos dizer que há pessoas que olham para o desconhecido de forma mais prazerosa e por isso ousam criar. Há pessoas com mais confiança e que não receiam tanto depois de terem vivido uma experiencia que correu mal, mas a mudança nunca é fácil. Implica uma maneira diferente de fazer algo, uma maneira de pensar diferente, de passar de algo que tínhamos como certo para uma outra forma de trabalhar. É como a morte e o nascimento de um novo paradigma e ninguém lida bem com a morte de algo. Nessa fase de transição, de uma maneira de fazer as coisas para outra, há uma certa entropia, em que se perde o significado do que se deve ou não fazer. Uma das principais características de uma empresa que lida bem com a mudança é ter muito respeito e medo dela, mas não ao ponto de bloquear e sim de tentar encontrar soluções. A mudança cria um certo medo e há uns que bloqueiam, resistindo até à última, e outros que mesmo com medo tentam encontrar a solução. Se tínhamos 100 clientes e passámos a ter 50 é necessário ver o que se passa, como resolvemos isto. Há outros que ficam a pensar que a culpa é deste ou daquele, há aquela ideia que o ser humano perante uma ameaça ou bloqueia ou ataca, e perante a mudança há quem fique paralisado muito tempo, ao ponto de depois não se conseguir soltar.
Nota: Ler a entrevista na íntegra na VETERINÁRIA ATUAL nº 63 Julho/Agosto