A dar os primeiros passos na médica veterinária, Inês Milet Barros encontrou uma oportunidade de trabalho no Reino Unido e nem pensou duas vezes. Trabalha com pequenos animais numa clínica perto de Birmingham, mas não descarta a hipótese de voltar a Portugal.
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Após ter terminado o curso tive diferentes experiências profissionais. Fiz um estágio profissional de 12 meses na DGAV, na área de inspeção sanitária e trabalhei como formadora do curso de auxiliar de veterinária e delegada comercial. Neste momento trabalho com animais de companhia e alguns exóticos e é nesta área que pretendo continuar a trabalhar. De todas as especialidades veterinárias a que mais me fascina é a de Bem-Estar Animal e Medicina do Comportamento e é uma área em que futuramente gostaria de investir.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar no estrangeiro? Onde trabalha neste momento e qual a sua função?
A oportunidade surgiu após ter encontrado uma oferta de emprego bastante apelativa num grupo de Facebook de emprego veterinário na Europa. Enviei o meu CV, fiz uma entrevista por Skype e em 15 dias estava a caminho de uma nova aventura no Reino Unido. Trabalho numa pequena localidade, a cerca de 20 Km de Birmingham, a segunda maior cidade do Reino Unido. Neste momento trabalho principalmente durante a noite e fins-de-semana, sendo da minha responsabilidade a monitorização dos animais internados e resposta a urgências que surjam durante o período em que a clínica está encerrada. Também faço, durante as manhãs, algumas cirurgias de rotina e presto auxílio aos veterinários mais experientes em cirurgias ortopédicas e de tecidos moles.
O que a fez tomar a decisão de sair de Portugal?
A precariedade e fracas condições salariais, mas também a vontade de ter uma experiência de trabalho fora do meu país, após ter passado por uma ótima experiência de ERASMUS no último ano de curso.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal?
Uma das maiores diferenças que senti, pelo menos na clínica onde estou, foi o grande apoio prestado pelos veterinários seniores aos veterinários menos experientes e o facto de nos ser dada sempre a oportunidade de fazer tudo, mas com suporte e sem nunca nos sentirmos “sem rede”. Outra grande diferença está relacionada com o facto de uma grande percentagem de animais estarem cobertos por seguros, fazendo com que questões financeiras deixem de ser um entrave ao tratamento dos mesmos. O meu dia começa pelas 08h00, altura em que faço um exame físico aos animais internados e atualizo as suas fichas de internamento. De seguida passo os vários casos aos colegas que chegam para o turno da manhã. Quando chegam os animais para as cirurgias a realizar durante a manhã ajudo na sua preparação e realizo ou ajudo nas respetivas cirurgias. Por volta do meio dia é altura de descansar, sendo que regresso à noite para mais um turno.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
A minha vida aqui é bastante diferente da que tinha em Portugal, principalmente por estar longe de quem mais gosto, mas acho que as saudades se aprendem a controlar e em cada regresso a casa todos os segundos são aproveitados. Aprende-se também a valorizar pequenas coisas no nosso país que antes pareciam insignificantes, como a comida e o bom tempo. Consegui adaptar-me facilmente porque tive muito apoio por parte de todos os meus colegas da clínica e, como somos todos provenientes de diferentes países, percebemos bem as dificuldades uns dos outros. Até agora tem sido uma experiência muito positiva e enriquecedora tanto a nível profissional, como pessoal.
Quais os seus planos para o futuro?
Planeio investir mais na minha formação e, quem sabe, fazer um doutoramento ou especialidade. Tenho muita vontade de continuar a estudar e a evoluir na minha profissão, seja fora ou dentro de Portugal.
Equaciona voltar a Portugal?
Sim. Não sei o que o futuro me reserva, mas gostaria de trabalhar em Portugal levando alguns dos conhecimentos adquiridos durante o tempo passado no Reino Unido.
Que trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Gostaria de integrar um hospital/clínica que me permitisse focar e desenvolver as áreas que me despertam maior interesse no mundo da medicina veterinária e que desse uma grande relevância à formação contínua dos seus colaboradores.
Que conselhos dá aos recém-licenciados com dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Ainda estou numa fase muito inicial, mas acho importante explorar diferentes opções de trabalho, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto e tentar várias áreas diferentes até encontrarem aquela em que se sentem mais confortáveis. E, muito importante, nunca desesperar! Se se esforçarem nesse sentido vai chegar uma boa oportunidade. Só têm de a saber aproveitar.
Qual o seu sonho?
Trabalhar em Portugal, de preferência no norte do país, a fazer o que gosto e com um bom equilíbrio entre a vida profissional-pessoal. Não sou uma pessoa muito exigente.