Será que os médicos veterinários sabem gerir equipas? Este foi o mote para mais uma edição do Vetbizz – o Encontro Anual de Gestão Veterinária – e a julgar pelos resultados foi um sucesso. 250 médicos veterinários responderam ao desafio lançado pela revista Veterinária Atual e reuniram-se no Hotel Crowne Plaza, no Porto, para discutirem como construir equipas de sonho, como estas podem aumentar ou diminuir o rendimento do CAMV ou como dar autonomia aos colaboradores.
O dia começou com a palestra de Filipa Herédia e Susana Fidalgo, da Mars Ibéria, que revelaram como é possível construir uma equipa de sonho. Segundo as oradoras, se tivessem de resumir a Mars numa palavra seria Humana. “Porque tudo na Mars gira à volta das pessoas”, resumiu Filipa Herédia, Corporate Affairs Manager na Mars Ibéria. A empresa dá formação aos seus colaboradores, dá a possibilidade de trabalharem a partir de casa e é um desafio diário. “Construir equipas não é fácil, mas é a base de tudo”. Segundo Susana Fidalgo, HR Business Partner, “todos os dias trabalhamos com diferentes perfis de pessoas e isso é complicado porque é um desafio para o gestor de equipas, que tem de obter um bom rendimento de todos. Temos de descobrir como trabalhar de forma mais eficiente em equipa”.
Seguiu-se o caso prático – Small is Beautiful: Quando o menos é mais – onde Pedro Pinho Lopes deu a conhecer o seu percurso e o que mudou na gestão das suas clínicas veterinárias. O médico veterinário já teve vários negócios, inclusive um hotel, que vendeu por “uma boa proposta”. Vendeu igualmente as três clínicas ao Grupo Onevet e optou por não seguir neste modelo de negócio por não se identificar. Hoje em dia tem apenas uma clínica veterinária e explicou como conseguiu ter mais qualidade de vida em família, o que passou por uma aposta na prática de triatlo. “Pior que tomar uma má decisão é não tomar decisão nenhuma. Vendi o meu negócio, abri outra clínica e ganhei mais tempo para mim. Não sou um líder de unidades muito grandes, o small is beautiful tem mais a ver comigo”.
Pedro Pinho Lopes aproveitou ainda para revelar a sua visão sobre o futuro dos CAMV: “o futuro vai passar por grandes unidades/hospitais e por unidades muito pequenas/muito especializadas. A especialização vai ser o futuro”.
A importância do Ato Médico Veterinário
A seguir ao cofee break Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, aproveitou o momento para falar da mais recente conquista que vai marcar a profissão: a aprovação do Ato Médico Veterinário. Para Jorge Cid, o futuro passa pelos médicos veterinários diplomados, ainda em número reduzido. As ofertas de trabalho são maiores, especialmente no estrangeiro, onde estes profissionais são muito procurados.
O bastonário referiu ainda a importância do cheque veterinário, que serve para ajudar as famílias realmente carenciadas e é uma forma dos médicos veterinários poderem assim mostrar o seu lado solidário.
Seguiu-se a palestra de Dilen Ratanji, onde o CEO da Vetbizz Consulting explicou a importância da clínica veterinária implementar um sistema de avaliação de desempenho (em vez de se falar em objetivos comerciais), para recompensar os colaboradores. Para o orador, os médicos veterinários não gostam de falar em vendas ou em clientes, mas é tudo uma questão de perspetiva: “a medicina veterinária não vende, ajuda o cliente a comprar”.
Com o mote ainda nas finanças, Ricardo Almeida, médico veterinário na VetPóvoa, desvendou quais as ‘cenouras’ que movem os nossos médicos veterinários. Estes incentivos podem ir desde mais tempo livre ou viagens, depende do que os colaboradores valorizarem. “O médico veterinário foge do dinheiro e tem medo do negócio”, logo é importante que exista uma pessoa dedicada à parte da gestão da clínica.
Sabe tudo sobre cultura digital?
O período da tarde começou animado com a palestra de Telma Lopes e Vanda Souto, que revelaram algumas tendências e conceitos ligados à cultura digital e às redes sociais. Se as clínicas aproveitarem os dados dos clientes, como a data de nascimento ou a raça do animal, podem fazer campanhas de marketing segmentadas e assim conquistar mais clientes, ou pelo menos clientes mais assíduos.
Já a mesa redonda debateu a importância do trabalho de equipa e de que forma podemos gerir as expetativas dos vários colaboradores numa clínica veterinária. Luís Montenegro, diretor clínico do Hospital Veterinário Montenegro, sublinhou a importância dos enfermeiros veterinários na sua equipa e como a pouco e pouco estes profissionais estão a saber conquistar o seu espaço, com mérito próprio, no seio das equipas. Adérito Ortelá, enfermeiro veterinário no Alma Veterinária, concorda que nem sempre foi fácil a integração destes profissionais nas equipas veterinárias, mas os tempos estão a mudar e são os próprios médicos veterinários que reconhecem a sua importância na organização dos processos internos.
Manuel Raposo, finalista de Medicina Veterinária, deu a perspetiva dos millenials que chegam agora à profissão a tentar conciliar a vida pessoal com a vida profissional. Segundo Manuel Raposo, os millenialls querem poder mostrar o que valem, sem contudo perderem qualidade de vida. Querem poder escolher onde trabalhar e quantas horas por dia. Para Luís Montenegro, esta questão nem se colocava quando começou a trabalhar como médico veterinário, mas entende as inquietações das gerações mais novas, que querem assegurar uma boa qualidade de vida. O mesmo referiu Ricardo Almeida, para quem o stresse de trabalhar muitas horas seguidas pode afetar a rentabilidade do negócio.
You need to let go
O final do dia foi preenchido com as palestras dedicadas à liderança. Nuno Gomes da Silva, do Hospital Veterinário do Atlântico, não teve qualquer problema em revelar o que correu bem, e o que poderia ter corrido melhor, na gestão do seu negócio e deu mesmo algumas dicas. “Recrutem com base num sistema e façam uma boa ‘job description’, que agora chamamos de perfil profissional. Também é essencial ter um guião de entrevistas, para garantir que recrutamos a melhor pessoa para o lugar que está vago”.
E outra dica: “evitem contratar amigos ou conhecidos. Pode criar problemas a nível de hierarquia e é complicado dar feedback negativo a amigos”. Nuno Gomes da Silva revelou ainda a fórmula para liderar pessoas mais experientes: Humildade+Respeito+Esforço Extra+Reconhecimento=No Stress.
A sessão terminou com Elisabete Capitão a explicar como os gestores das clínicas veterinárias podem dar mais autonomia aos colaboradores sem perder o foco. Passa tudo por uma questão de confiança. “A confiança permite que se colabore e que se assumam os riscos”. Na maior parte das organizações, os problemas são quase todos do foro ‘problemas de confiança’. “O trabalho nas nossas clinicas é feito por pessoas e através das pessoas, e as organizações são feitas de um infinito de relações humanas, conexões essas que são suportadas pela confiança. A confiança começa em nós e na nossa própria credibilidade!”