Nina Brito é natural da madeira, licenciou-se em Medicina Veterinária na Universidade do Porto, estagiou no Canadá e no Brasil, e completou o internato em medicina e cirurgia de pequenos animais no Hospital Clínic Veterinari, em 2006, em Barcelona. Exerce atualmente no hospital Ars Veterinaria, também em Barcelona.
Qual é a sua área de especialidade e porque é que escolheu essa área?
Medicina geral de pequenos animais, felina e canina. Primeiro, escolhi a área clínica porque amo a medicina. Pequenos animais porque no ano de 2003 era o que tinha mais saída profissional, apesar de ser (sou) uma apaixonada pelos animais selvagens. Pensei inicialmente em especializar-me numa área clínica, mas decidi permanecer no âmbito geral, porque de alguma maneira podia continuar a ter uma visão global da medicina, coisa de que gosto.
Como e quando é que surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
No ano de 2005 decidi que queria aprender mais depois de trabalhar um ano e meio em Famalicão. Aceitaram-me para fazer o internato de 18 meses em medicina e cirurgia de pequenos animais do Hospital Clínic Veterinari da UAB, em Barcelona. Gostei e quis ficar por cá, porque encontrei um clima ameno e porque Barcelona é uma cidade cosmopolita e moderna, com muitas ofertas interessantes de trabalho na altura. Quando estava prestes a terminar, enviei vários currículos para hospitais e aceitaram-me no hospital Ars Veterinaria, um centro de referência na área da medicina de pequenos animais, onde trabalho há já quase 13 anos.
Como é que é um dia de trabalho normal para si?
Muito completo, porque desfruto do que faço e trabalho num sítio realmente excecional, com uma equipa humana fantástica e que se entrega, onde tenho acesso direto aos especialistas diplomados, aos meios de diagnóstico mais modernos e a uma variedade de casos muito interessantes, já que funcionamos como centro de referência para outros centros.
No meu departamento fazemos muita medicina de cachorros e medicina geriátrica, mas também funcionamos como veterinários de triagem e orientação de casos para especialidade para pacientes referenciados ou urgentes sem diagnóstico. Também recebemos veterinários em práticas constantemente (muitos deles portugueses) e veterinários no programa de internato, e acabamos por ter muito contacto com eles, tendo de ajudar à sua formação, através de exposições teóricas, mesas redondas, etc. A área em que eu dou formação aos internos é em comunicação com o cliente, inteligência emocional, resolução de conflitos e em como evitar o desgaste profissional do veterinário. Estamos em contacto constante com outras clínicas que nos enviam casos, o que implica bastante tempo de ligações telefónicas, e-mails e, sobretudo, redação de relatórios clínicos. Quase todos os dias temos atividades de formação de alguma especialidade na biblioteca e em alguns dias também consigo assistir.
Como é que foi a adaptação a um trabalho fora de Portugal?
No meu caso foi bastante rápida, não tinha outro remédio porque o ritmo do internato era uma loucura, o idioma…Mas, apesar de tudo ser muito mais intenso, era também melhor.
Quais os seus planos para o futuro?
Gostava de me dedicar cada vez mais à área de comunicação com o cliente para veterinários e ao marketing digital, sobretudo à produção audiovisual na área de saúde animal, porque é uma área bastante criativa e ao longo dos anos fui adquirindo formação e experiência paralelas ao trabalho nessas áreas.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Tem de se sair da zona confortável, apontar a onde se quer estar e, passo a passo, promover esse caminho, fazer os estágios nos sítios adequados, ser atrevido, perguntar, enviar o currículo a sítios teoricamente “impossíveis”. Mas, antes, é importante desenvolver uma imagem profissional adequada e relacionada com o objetivo. Estar no LinkedIn e ser ativo. Estudar um pouco de autopromoção e comunicação verbal e não verbal para as entrevistas e para o dia a dia com o cliente. Funciona!
Como vê o estado atual da medicina veterinária no mundo?
Temos grandes desafios como profissionais de saúde: o aquecimento global está a fazer ressurgir patologias vetoriais zoonóticas em sítios antes indemnes e o nosso papel será chave para prevenir e controlar essa expansão. Aprender a utilizar menos os antibióticos na cadeia alimentar e também nos tratamentos das nossas mascotes, ou só utilizar os fármacos adequados a doses corretas e de forma justificada, porque estamos a ajudar a criar cepas multirresistentes, por exemplo em dermatologia. Também me preocupa a gestão dos resíduos médicos que geramos a grande escala no meio ambiente. O veterinário é e será cada vez mais um grande agente na manutenção da saúde pública a pequena e grande escala.