Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Patologia Clínica Veterinária. Tinha um amigo e colega a trabalhar nesta área, o que me fez ter uma ideia do tipo de trabalho que envolvia. Trabalhar em ambiente de laboratório atraia-me. A clínica estava a ser uma desilusão e apercebi-me que não era para mim.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? O que a fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
Eu nunca fui muito aventureira e ainda estive uns cinco anos a amadurecer a ideia. As possibilidades de trabalhar numa área que me interessasse eram reduzidas, algumas com condições precárias, outras exigindo pagamento de propinas e eu queria um salário. Decidi que teria que procurar não só em Portugal, mas também na Europa. Surgiu uma oportunidade de residência em Patologia Clínica na faculdade de veterinária da Universidade de Dublin (UCD), concorrei e fui aceite.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?
Há já bastante tempo que as especialidades em medicina veterinária são uma realidade no Reino Unido. Torna-se mais fácil trabalhar numa área como a minha quando os veterinários clínicos já estão habituados a trabalhar connosco. O tipo de interação e a comunicação estão mais facilitadas. O facto de haver vários laboratórios e vários patologistas clínicos também torna o trabalho em equipa e a evolução profissional mais sólida e de qualidade. Grande parte do nosso horário de trabalho é ocupado com citologias e algumas hematologias, e, por vezes na discussão de casos com os clínicos responsáveis, com base nos resultados dos testes/exames requeridos, história clínica, etc. Não encontro diferenças em termos de motivação, de ser mais ou menos trabalhador. Há, no entanto, diferenças no nível e abordagem da medicina veterinária e que, em parte, são consequência das significativas diferenças socioeconómicas entre os dois países.
Como é viver fora de Portugal?
A primeira vez que se sai do país é a mais difícil, pelo menos foi assim para mim. Depois habituamo-nos. O domínio da língua e alguma identificação cultural tornam a adaptação mais fácil. Cada vez que posso vou a Portugal. Faço questão de ir no Natal e passar algumas férias de Verão nas praias algarvias. Mas tenho sorte por viver num país cuja língua é-me familiar, trabalhar numa companhia onde há patologistas clínicos e patologistas de várias partes do mundo, e ter alguns interesses que encontro aqui em abundância.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Da família, dos amigos, do sol, das praias, da marginal, da luminosidade, dos pastéis de Belém, da comida, da familiaridade do que se reconhece. E podia continuar…
Quais os seus planos para o futuro?
Por enquanto tenciono ficar por aqui. Não sei se ficarei sempre a trabalhar num laboratório privado. Talvez sim, talvez não. A possibilidade de trabalhar numa faculdade também me agrada. A mudança não me amedronta e se surgir um projeto excitante, que abranja de alguma forma a minha área, não vejo como ficar parada e não tentar colaborar nesse projeto. A possibilidade de doutoramento também está sempre no meu subconsciente.
Equaciona voltar a Portugal?
Sim, um dia. Não terá que ser necessariamente para trabalhar em veterinária.
Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Em medicina veterinária um projeto de investigação que envolvesse doenças infectocontagiosas ou uma nova área estimulante, interessante, compatível, de alguma forma, com a patologia clínica.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Para mim, o mais importante é saberem exatamente o que querem. Vão trabalhar uma vida inteira numa determinada área e é bom que essa área os satisfaça. Se ainda não sabem bem o que os pode preencher experimentem. E embora não seja aceitável, encorajador ou desejável, isso pode passar por trabalharem em regime de voluntariado. Quando descobrirem o que realmente querem fazer dentro da vastíssima área da medicina veterinária, então tentem adquirir a melhor formação possível, seja em Portugal ou fora do país.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
A medicina veterinária tem evoluído muito, e nos países onde essa evolução é mais marcante é comum haver colaborações com outras áreas, sejam elas medicina, engenharia, física, biotecnologia, informática, etc. Nesses países, a veterinária é reconhecida como uma área de extrema importância e essencial à sociedade. Parece-me que em Portugal a veterinária ainda é o parente pobre da medicina, embora já tenha havido uma mudança substancial dessa mentalidade.
Qual o seu sonho?
Não tenho um sonho em veterinária. No entanto não me importaria de fazer parte de um projeto que envolvesse uma companhia ou faculdade portuguesa. Temos pessoas extraordinárias a trabalhar em Portugal, e embora gostasse de continuar no Reino Unido, a possibilidade de parceria com determinadas instituições portuguesas agradar-me-ia muitíssimo.