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Lisa Alves – médica veterinária especializada em Neurologia pelo Colégio Europeu de Neurologia Veterinária (ECVN)

Lisa Alves - médica veterinária especializada em Neurologia pelo Colégio Europeu de Neurologia Veterinária (ECVN)

Formada em 2002 pela Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, trabalhou cinco anos em clínica de animais de companhia e fez a especialidade em Neurologia em Berna, na Suíça.

É médica veterinária diplomada em Neurologia. Porquê esta área?

Trabalhei durante cinco anos em clínica de pequenos animais em Lisboa e os casos clínicos onde me sentia com mais dificuldade eram na área da neurologia. Isso deixou-me assustada porque não me sentia preparada, achei que devia estudar mais. Fiz alguns estágios com colegas que faziam neurologia e pouco a pouco fui tendo cada vez mais interesse por esta área, que era um enigma. Fiquei fascinada.

 

Como surgiu a oportunidade de continuar os estudos no estrangeiro?

Uma das formas que encontrei para estudar neurologia foi através da inscrição em cursos no Colégio Europeu de Estudos Veterinários Avançados – European School for Advanced Veterinary Studies (ESAVS). Na altura tinham três cursos de neurologia e inscrevi-me. São quase sempre no mesmo país, com os mesmos diplomados, e acabamos por fazer contactos importantes. Foi a plataforma para conhecer pessoas e fazer contactos para residência, em Berna. Após os três anos ganhei um prémio que me possibilitou fazer um estágio de um mês na Universidade de Berna, o que me deu ainda mais oportunidades de conhecer melhor as pessoas. Estes estágios podem ser feitos por qualquer pessoa, basta enviar um email às faculdades ou centros veterinários e fazer um pedido de estágio às instituições. Foi o que me ajudou a conseguir residência, as pessoas conhecem-nos, há empatia e depois torna-se mais fácil.

 

Porque decidiu sair de Portugal?

Acabou por ser uma continuação da minha formação. Queria saber cada vez mais sobre neurologia e fazer clínica geral não me satisfazia completamente. Queria trabalhar apenas nesta área e decidi que queria fazer a residência. Saí de Portugal porque queria ser especialista.

 

Atualmente é doutoranda na Universidade de Berna. Como surgiu a oportunidade de entrar nesta instituição?

A especialidade teve a duração de três anos e depois fiz o exame de especialidade para o Colégio Europeu. Entretanto estava a trabalhar como neurologista em Berna e surgiu a oportunidade de entrar num programa de doutoramento a estudar o Paramixovirus, que é a causa de esgana nos carnívoros e sarampo nos humanos.

 

Quais as diferenças entre o ensino em Portugal e no estrangeiro?

Na Universidade de Berna tenho de trabalhar frequentemente com os estudantes. Acho que em Portugal temos uma muito boa preparação geral, mas os estudantes aqui começam a trabalhar muito cedo com especialistas e os hospitais estão completamente organizados em diferentes especialidades. O que permite aos alunos absorver o máximo sobre cada área e ter uma educação que engloba todas as diferentes especialidades veterinárias, o que no meu ver os enriquece bastante.

Teve dificuldades com a língua?

Fui um pouco ingénua porque quando comecei o ESAVS e o estágio a língua utilizada era o inglês e correu bem. No entanto, em Berna fala-se alemão e apesar da integração cultural ter sido fácil, viver num ambiente onde só se fala alemão é extremamente difícil. A língua é uma barreira porque temos de falar com os donos dos animais que estão à espera que se fale a língua local. Nunca tinha tido aulas de alemão, pelo que quando comecei a enviar candidaturas fiz um ano de alemão, mas é insuficiente pois sabia apenas o básico. Para vir para cá trabalhar ou já sabe alemão ou são necessários três anos no Instituto Alemão.

Como decorreu a adaptação?

Quando se faz a residência não se tem vida própria. O dia-a-dia é dentro do hospital, os amigos estão dentro do hospital, trabalhamos à noite e aos fins de semana. É muito difícil porque o trabalho na clinica é muito intenso, e quando se chega a casa tem-se sempre coisas para ler/preparar para o dia seguinte. São três anos de hibernação em que se vive apenas na especialidade que se escolheu. É necessário estar muito motivado ou então é fácil desistir.

Sente saudades de Portugal?

Sim, da família, dos amigos, da praia, do cheiro do mar, do café (risos). A Suíça só tem lagos e montanhas, é muito diferente.

Quais os seus planos para o futuro?

Como qualquer emigrante o sonho é voltar a Portugal, mas não sei como. Uma das razões que me levou a fazer doutoramento foi precisamente para me ajudar a voltar a Portugal. Achei que aumentando as áreas de ação poderia abrir mais algumas portas. Mas o sentimento é muitas vezes ambiguo porque adoro o meu pais e gostava de voltar amanha! Mas por outro lado para um especialista é muito aliciante e motivante trabalhar em estruturas hospitalares/universitarias que ja estam organizadas em especialidades e os clientes conhecem e procuram especialistas.

Se voltasse qual o projeto que gostaria de desenvolver?

Gosto bastante de investigação, mas adoro clínica e neurologia e o meu sonho seria desenvolver um projeto numa faculdade envolvendo investigação e clínica na área da neurologia, que é o que faço aqui.

Qual o conselho que dá aos recém-licenciados que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?

Se quiserem ser médicos veterinários de clínica geral estão bem preparados, mas se perceberem que a área generalista não é suficiente aí vão ter de procurar mais formação. A chave está na motivação, ir aos locais, dar-se a conhecer e não ter medo porque estamos bem preparados. Enviar emails para universidades ou clínicas onde gostariam de trabalhar também pode ajudar. Usei o Erasmus para fazer o último ano de estágio em Barcelona, há Faculdades por toda a europa onde se pode fazer o último ano do curso e que pode facilitar o contacto com especialistas.

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