Um trabalho de investigação realizado por um consórcio internacional de cientistas conseguiu desenvolver um novo tipo de antibióticos programáveis e criados à medida para atacar apenas as bactérias más e que permite evitar as resistências antimicrobianas. A luta contra as resistências a antibióticos é, atualmente, uma prioridade tanto na saúde animal como humana, uma vez que as bactérias multirresistentes são já responsáveis por 33 mil mortes todos os anos na Europa e têm um custo associado de 1500 milhões de euros.
Alfonso Rodríguez-Patón, Professor do Departamento de Inteligência Artificial da Escola Superior de Engenheiros Informáticos da Universidade Politécnica de Madrid, e um dos investigadores envolvidos no estudo, sublinha que “da mesma forma que se estão a desenvolver probióticos para regular as bactérias que temos na nossa microbiota intestinal, desenhámos ‘bactérias sentinela’ programáveis capazes de detetar e matar apenas as bactérias perigosas sem afetar as bactérias boas”. Para isso, os investigadores desenvolveram aquilo que apelidaram de ‘bomba genética programável’.
“O nosso antibiótico, transportado por ‘bactérias sentinela’, é uma toxina programada para se ativar e matar apenas quando reconhece uma bactéria má. Esta ‘bomba genética’ é transmitida por uma ‘bactéria sentinela’ às suas bactérias vizinhas mediante um processo que se chama conjugação. A conjugação é um mecanismo de transmissão de ADN usado pelas bactérias e que conseguimos programas nestas ‘bactérias sentinela’ para enviar a ‘bomba genética’ às bactérias vizinhas. Se esta bomba acede a uma bactéria má, detetará determinados sinais moleculares como a virulência ou a resistência a antibióticos que a ativarão, matando a mesma”, explica ainda o investigador.
Resultados testados em animais
A eficiência desta nova geração de antibióticos foi já comprovada em organismos vivos, nomeadamente crustáceos infetados com a bactéria aquática da cólera (Vibrio cholerae), tendo conseguido eliminar o vírus resistente a outros antibióticos. “Isto é relevante porque a cólera também afeta mais de um milhão de pessoas todos os anos e nos casos mais graves leva à morte”, acrescenta o investigador espanhol.