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Inovação tecnológica ao serviço do tratamento e investigação

Inovação tecnológica ao serviço do tratamento e investigação

A Fundação Alter Real possui uma das maiores e mais inovadoras unidades clínicas equestres da Europa, na Coudelaria Alter Real. A unidade tem equipamentos de última geração e «estão à disposição de veterinários e investigadores nacionais e estrangeiros».

A Unidade Clínica da Fundação Alter Real (FAR) está integrada na Coudelaria Alter Real (CAR), em Alter do Chão, a mais antiga do mundo a funcionar sempre no mesmo sítio, desde a fundação em 1748.
Todo o ambiente de Alter Real, totalmente virado para o cavalo (especialmente o Lusitano) e integrando a coudelaria, com área de selecção e melhoramento e outra de investigação, bem como um pólo de formação profissional e várias infra-estruturas hípicas e desportivas, dá condições únicas a este hospital. A unidade funciona desde 2007, fazendo parte do pólo da Universidade de Évora na CAR, e está dotada de equipamentos de excelência para o tratamento e investigação equestre.
«Tudo isto está ao serviço da medicina privada, uma vez que qualquer médico veterinário pode trazer aqui um cavalo», explica Mário Barbosa, coordenador da Coudelaria. Além disso, salienta ainda que «estando integrada na coudelaria, a unidade é também de elevado interesse para investigadores que pretendam realizar trabalhos, na área da genética e outros, uma vez que possuímos um efectivo de cerca de 500 cabeças. Uma “amostragem” difícil de encontrar em qualquer parte do mundo».
Em Portugal, existem pouco mais de meia dúzia de clínicas equestres ou com capacidade para tratar equinos mas como a unidade de Alter não existe nenhuma, garante o coordenador da CAR. «Este não é um hospital como os outros, aqui há um acompanhamento total aos animais internados – temos cinco boxes na zona de internamento –, mesmo durante a noite, uma vez que temos quartos para seis internos, que vigiam os animais no pós-operatório, etc.», frisa.
Para além disso, a unidade tem a responsabilidade de manter a saúde de todo o efectivo da coudelaria, cooperando com a Unidade de Reprodução, Obstetrícia e Neonatologia (que desenvolve novas tecnologias de reprodução), a Unidade de Desbaste e Testagem (que promove estudos da fisiologia do esforço e da biomecânica da locomoção) e o Laboratório de Genética Molecular (que faz pesquisa de informação do foro genético para a poio à selecção). Todas estas unidades têm protocolos com a comunidade científica, nomeadamente as Universidades de Lisboa, Açores, Évora, Córdoba e Extremadura (Cáceres). Aliás, o hospital hipiátrico pratica telemedicina com as três últimas. Quando visitámos a unidade, assistimos à operação de um cavalo que estava a ser transmitida por videoconferência para a Universidade de Évora (ver caixa).
Outra mais-valia, no entender de Mário Barbosa, é a quantidade de pessoal disponível para trabalhar na equipa liderada por Vítor Grácio, já que a unidade recebe estagiários das licenciaturas em Medicina Veterinária e Engenharia de Produção Animal, mas também da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão (pólo de formação profissional).
E por último, mas não menos importante, «os equipamentos “topo de gama” que conseguimos reunir aqui na unidade e que estão à disposição dos médicos que vierem cá com qualquer cavalo. Temos um sistema de radiologia digital que permite a transmissão em tempo real para qualquer parte do mundo, equipamento de ecografia (humana), de endoscopia, aparelho de ondas de choque e na sala de cirurgia também a possibilidade de videoconferência, que nos permite consultar em tempo real especialistas de outras universidades sobre a cirurgia que estamos a efectuar», explica o coordenador da Coudelaria.
A FAR está também aberta à possibilidade de as ligações por videoconferência poderem ser alargadas a outras universidades e centros clínicos em qualquer parte do mundo.
Mário Barbosa informa ainda que está também prestes a começar a trabalhar um laboratório de análises clínicas «que funcionará como apoio para nós mas trabalhará também para fora. Para isso, estamos à procura de alguém que se queira dedicar ao laboratório, com formação em bioquímica ou farmacêutica. Não tenho nada contra os médicos veterinários, bem pelo contrário, mas a experiência diz-me que passado um tempo só vão querer estar na clínica…».
A construção da unidade clínica e os equipamentos tiveram financiamentos europeus, nomeadamente do programa EuroAgri, no âmbito do Eureka, que agora passa a chamar-se EuroAgri – FoodChain e que terá uma maior abrangência (ver caixa).
Centro de excelência para a investigação
Um dos pontos que Mário Barbosa frisa com grande ênfase é que a Coudelaria Alter Real tem condições «de excelência» para a realização de trabalhos de investigação nacionais e estrangeiros. «Está a ser feito um trabalho sobre radiologia digital, aproveitando o equipamento inovador que temos, um outro sobre uma determinada patologia que afecta os cavalos e a sua transmissibilidade genética. A possibilidade de ter à disposição um elevado número de animais para investigação, com 120 éguas em produção, é uma mais-valia muito grande, porque isso é que é quase único no mundo e acaba por encarecer e até inviabilizar alguns projectos de investigação».
O facto de poder trabalhar com todas as unidades de investigação que a FAR tem e que, já por si, desenvolvem vários trabalhos na área da investigação é também claramente vantajoso. A Unidade de Reprodução, Obstetrícia e Neonatologia, por exemplo, pode ser utilizada para trabalhos de investigação na área das novas tecnologias de reprodução.
Esta unidade está também em condições de executar avaliação andrológica (espermograma) a garanhões de particulares; acompanhamento reprodutivo das éguas, por ultra-sonografia e análises do foro parasitológico e hematológico, entre outros serviços veterinários.
O Laboratório de Genética Molecular, por seu lado, possui cerca de 45 mil amostras de ADN de cavalos lusitanos que poderão também ser usadas em trabalhos de investigação. «Esta base de dados permite-nos chegar às linhagens de cada cavalo de forma muito fácil e fazer assim a identificação de cada animal», explica Sofia Ferreira, directora do laboratório.
Esta unidade é membro da International Society for Animal Genetics e procede assim ao controlo de filiação e identificação, com recurso a tecnologias baseadas no ADN, um mecanismo necessário à garantia de fidedignidade das genealogias a inscrever no Registo Nacional de Equinos e nos respectivos stud-books. Possibilita ainda a diferenciação de linhagens por maior ou menor grau de parentesco, contribuindo decisivamente para a salvaguarda da variabilidade genética das raças, condição necessária ao seu progresso.
O laboratório trabalha com todos os países onde é criado o cavalo lusitano, como por exemplo o México e o Brasil, recebendo amostras de sangue para análise, o que lhe permitirá, em breve, ter um banco de ADN com todo o efectivo populacional da raça lusitana.
Segundo Mário Barbosa, existem cerca de quatro mil éguas lusitanas em produção em todo o mundo, sendo que mais de duas mil estão em Portugal, seguindo-se o Brasil «a uma distância cada vez menor» e depois Espanha.
O laboratório tem também um protocolo com o Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências de Lisboa, que garante a actualização permanente das suas técnicas.
A investigação que vise o cavalo Lusitano interessa particularmente à FAR, uma vez que a sua missão é precisamente de produção e melhoramento de raças autóctones (Lusitana, Garrana e Sorraia), trabalhando na Coudelaria Nacional e na Coudelaria Alter Real.
Por isso, na área da formação profissional, a FAR organiza ocasionalmente cursos temáticos de aperfeiçoamento, trazendo personalidades estrangeiras reconhecidas na área. Há também vários estágios de Verão em várias áreas como a ultra-sonografia equina para médicos veterinários, bem como exame em acto de compra de equinos, julgamento de cavalos de modelo e andamentos, tratadores de cavalos e aperfeiçoamento de ferradores.
Mário Barbosa considera que «Portugal tem cavalos de qualidade, principalmente para ensino, ou seja, destinados ao mercado do utilizador, que é, de longe, o mais significativo, mas, como acontece com muitos outros produtos nacionais, não estamos organizados para vender. Temos um bom produto mas não o sabemos vender». A aposta da Fundação é, por isso, dignificar e credibilizar as estruturas nacionais que se dedicam à criação e apuramento da raça Lusitana, para que se imponha cada vez mais no mundo.

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