Segundo o “El Mundo”, Matt Freidman encontrou um fóssil de um pregado, com quase 50 milhões de anos, que comprova o processo de evolução que estas espécies de peixes-chatos sofreram. Trata-se de um elo perdido entre os que têm um olho de cada lado do crânio e os que têm os dois olhos do mesmo lado.
O estudo, publicado na revista “Nature”, revela que por serem animais que repousam sempre do mesmo lado no fundo oceânico, necessitam dos dois olhos num só plano lateral para poder vigiar os predadores quando caçam as suas presas.
O curioso dos pregados é que as suas larvas nascem com uma visão simétrica, mas quando crescem conseguem migrar um olho para o outro lado. Os opositores da teoria da evolução das espécies acreditavam que esta característica tão peculiar se devia a uma mutação súbita da espécie, algo acidental desmentido agora por Friedman.
Para chegar a esta conclusão, o investigador teve acesso a fósseis de museus britânicos, franceses, italianos e australianos, tendo encontrado na Áustria e na França restos de pregados primitivos.
Um dos pregados primitivos era do género do Amphibistium e outra de um género novo que foi baptizado de Heteronectes. Ambas as peças já eram conhecidas mas nunca tinham sido relacionadas com os pregados modernos.
«O surpreendente foi observar a migração orbital, esse movimento de um olho para um lado do crânio na sua etapa larval, que se podia ver de forma incompleta em ambos os fósseis porque ainda não havia cruzado a linha do meio. Isso confirma que a assimetria craniana destes peixes se forma gradualmente na natureza», contou o jovem biólogo.
Friedman conseguiu detectar esta etapa de transição porque, além de poder tratar com ácido o exemplar austríaco, também pôde analisar imagens através de tomografia computadorizada de dois dos peixes-chatos do Museu de História Nacional de Londres.
As dúvidas de Darwin
Através daquele método, Friedman obteve uma informação anatómica sem precedentes e que esclarecia as dúvidas de Charles Darwin. O famoso cientista britânico do século XIX não conseguiu explicar o mecanismo pelo qual a mudança na simetria ocular destes peixes parecia repentina, sugerindo que tal se devia a uma adaptação gradual, como assim é, de acordo com as conclusões de Friedman.
O investigador espanhol Ignacio Doadrio, do Museu Nacional de Ciências Naturais (CSIC), argumenta que apesar do estudo parecer comprovar as teorias darwinistas, «tem de se levar em conta que o número de fósseis estudados é pequeno e que corresponde a um período de tempo muito concreto».
«Ele pode dever-se ao facto de não se terem conservado mais fósseis ou porque a mudança se produziu demasiado rapidamente para ser fruto dessa selecção natural», constatou o cientista especialista em peixes híbridos e de lagos.