Um médico que trabalha num hospital em Lisboa revelou à “Lusa” que é constantemente solicitado para fazer bancos em várias zonas do país. O profissional chega mesmo a receber propostas de 2.500 euros por banco de 24 horas, mais do que ganha num mês, embora garanta que nunca aceitou.
Nas especialidades mais carenciadas (Anestesiologia, Obstetrícia e Pediatria), os valores rondam os 55 euros por hora, mas podem chegar aos 100, o que para Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), citado pelo “Diário de Notícias”, são números «altíssimos e inaceitáveis».
Contudo, esta é a solução encontrada por muitas unidades que pretendem assegurar o funcionamento das urgências, admitiu. Em alguns casos, segundo o administrador do Hospital Curry Cabral, Manuel Delgado, as entidades hospitalares que se encontram numa situação limite ficam sujeitas a este tipo de «chantagem» por parte das empresas que «pedem o que querem».
Por outro lado, há outras em que se recorre a este expediente para não ultrapassar os limites para as horas extraordinárias, já que estes montantes não são incluídos na rubrica das despesas com pessoal, mas nos gastos com aquisição de serviços, explicou Pedro Lopes.
«Não me parece correcto porque há mais custos. Os médicos contratados, muitas vezes, não têm a mesma qualidade e não há continuidade», acrescentou.
A «desagregação» das equipas de urgência preocupa também o bastonário da Ordem dos Médicos (OM). «Ninguém se conhece. Está instalada uma lógica quase mercenária», lamenta Pedro Nunes.
O bastonário lembra que «não foram os médicos que inventaram a empresarialização dos hospitais», mas que quem o fez «se esqueceu que o mercado quando nasce é para todos».
E, face à escassez de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), estes passam a ser pagos bem remunerados. Curiosamente, segundo Pedro Nunes, o número de médicos por mil habitantes em Portugal não difere muito da média europeia. «Estão muito envelhecidos e é preciso é mantê-los no SNS para ensinarem os mais novos».
Por outro lado, o Ministério da Saúde sabe que há unidades a recorrerem a estas empresas. Neste sentido, segundo o jornal “Público”, está a ser elaborado «um conjunto de iniciativas» que permita aos hospitais deixar de recorrer a estas empresas de contratação de mão-de-obra para assegurar as escalas de algumas urgências. Sem adiantar mais pormenores, a tutela informa apenas que aquelas serão reveladas em tempo oportuno.
Falta de médicos nos hospitais obriga contratações milionárias
A falta de médicos tem obrigado os hospitais a contratar tarefeiros a empresas de prestação de serviços para manter as urgências a funcionar. Resultado: há médicos que cobram 2.500 euros por banco de 24 horas, 100 euros por hora.