Entrevista a Luís Silva, Médico veterinário a trabalhar em Inspeção Sanitária no Reino Unido
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
A minha área de especialidade são os bovinos leiteiros. Sempre tive uma paixão pela Buiatria talvez devido ao facto de ter tido contacto desde cedo com bovinos e do meu pai ser detentor de uma exploração de bovinos de carne.
Como surgiu a oportunidade de ir trabalhar para o estrangeiro? Onde trabalha neste momento?
A oportunidade surgiu por intermédio de colegas que já se encontravam a trabalhar no Reino Unido há alguns anos e me aliciaram a seguir esta aventura. Neste momento trabalho na área de Yeovil (Somerset) a realizar Inspeção Sanitária em vários matadouros desta zona.
O que o fez tomar a decisão de ir para fora de Portugal?
As fracas condições de trabalho em Portugal, os baixos rendimentos, mas sobretudo a incerteza das minhas qualificações me assegurarem condições de vida iguais ou superiores à que os meus pais tiveram.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal? O que faz?
Apesar de me encontrar a realizar Inspeção Sanitária, neste país este tipo de trabalho é levado a cabo maioritariamente por pessoas sem quaisquer qualificações veterinárias, um modelo totalmente diferente do português. O Veterinário Oficial no Reino Unido apenas é responsável por realizar a inspeção ante-mortem e por tomar algumas decisões oficiais em caso de dúvida no post-mortem. O meu dia-a-dia como Inspetor é passado na linha de abate a realizar inspeção sanitária de vísceras e carcaças para consumo humano.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
A adaptação não é difícil visto que, em geral, os britânicos são muito amistosos e simpáticos. O clima é muito parecido com os Açores, de onde sou natural. O pior estar longe da família e dos amigos.
Do que mais tem saudades de Portugal?
Da família, do sol, do mar e sobretudo da comida.
Quais os seus planos para o futuro?
Para já os meus planos passam por tentar arranjar um trabalho numa clínica de grandes animais e trabalhar alguns anos em Buiatria de modo a conhecer a realidade inglesa.
Equaciona voltar a Portugal?
De momento não equaciono voltar a Portugal.
Que conselhos dá aos recém-licenciados em medicina veterinária que estão a ter dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Sobretudo para inovar e não tentar competir com os colegas mais experientes realizando preços mais baixos. Há que apostar, sobretudo na especialização, no mercado de pequenos animais (que engloba a grande parte dos médicos veterinários portugueses), mercado esse que já se encontra estabelecido, por exemplo, no Reino Unido.
Como vê o estado atual da medicina veterinária em Portugal e no mundo?
Tive oportunidade de realizar um estágio extracurricular nos EUA em 2011, em bovinos leiteiros, e o que vi não foi muito diferente da realidade da medicina veterinária portuguesa, pelo menos nesse campo. Acho que temos uma excelente formação base em Portugal ministrada pelas nossas faculdades e que formam médicos veterinários de topo. Como disse anteriormente há que virar a medicina veterinária portuguesa para a especialização para que os colegas possam providenciar serviços complementares e não competirem entre si.
Qual o seu sonho?
O meu sonho seria um dia poder voltar à terra natal, a ilha do Pico, e estabelecer uma exploração de bovinos de carne, bem como criar um Pólo de investigação em associação com outras entidades de modo a poder dar o meu contributo para a evolução da produção animal nos Açores.