As relações que criamos com os tutores de animais de companhia são algo que nos caracteriza. O facto de estarmos mais disponíveis e estarmos presentes em vários pontos do CAMV fomenta a nossa interação com os tutores. Estamos sempre lá, é simples. Desde que entra pela primeira vez no CAMV, à urgência às 02h00, ou da recomendação da alimentação ideal à visita ao paciente internado. Os enfermeiros veterinários possuem, além das suas competências técnicas adquiridas na universidade e outras formações, as competências interpessoais, tão mais difíceis de adquirir, como a liderança pessoal, inteligência emocional e comunicação.
A liderança pessoal consiste nos valores, comportamentos e maneira como tratamos os outros. Como fazemos o nosso trabalho com a determinação de fazer a diferença. A inteligência emocional refere-se à capacidade de reconhecer em nós e nos outros o significado das emoções e o impacto que estas têm nas relações que criamos. A comunicação é a troca de informação e pode ser realizada de forma verbal e não-verbal. Para ser eficaz deve ser focada e bidirecional para que todos os envolvidos percebam a mensagem. Estas competências interpessoais são essenciais para que se construa uma relação com os tutores e assim transmitir os valores do nosso CAMV eficazmente.
A relação inicia-se com as simples conversas de circunstância: “Como foi o seu dia?” ou “O seu Pirata como tem estado?”, até que se desenvolve, tal como uma relação normal entre pessoas: “Ainda ontem nos lembrámos do seu Pirata e daquela aventura!”. À primeira vista pode parecer simples conversa de balcão, na receção, enquanto o Pirata espera para ser atendido, mas assim se inicia uma relação de respeito e confiança que leva à satisfação e permanência no CAMV que ele escolheu para cuidar da saúde do seu melhor amigo.
Onde mais se destaca esta relação é com os pacientes com doença renal crónica. A partir do momento que o animal é diagnosticado, o CAMV passa a ser uma extensão da sua casa. Muitos vezes os animais são internados, passam a fazer medicação crónica, há uma alteração de alimentação, cuidados a ter em casa e os check-up’s são frequentes. Em todas as etapas, o enfermeiro veterinário tem um papel essencial:
- Internamento. É durante esta etapa que o tutor é confrontado com a doença, com a diminuição do tempo de vida estimado e com o facto de ter de adaptar a sua vida à nova condição do seu animal de companhia. É aqui que precisa do apoio de um enfermeiro capaz de o preparar para ter sucesso no cuidado do seu animal. Os tutores chegam por vezes sensibilizados e é a nossa responsabilidade sermos o ombro amigo praticando a escuta ativa, compreendendo as suas dúvidas e fazendo equipa com o tutor para dar o melhor cuidado que o seu animal merece.
- Medicação Crónica. Aquando da alta do paciente com doença renal crónica é comum ver o nervosismo com o que tutor chega ao CAMV sobre se conseguirá tratar do seu animal. Isso faz com que não interiorize grande parte da informação sobre a medicação e cuidados a ter em casa. Um bom trabalho de equipa consiste em reforçar a informação passada pelo Médico Veterinário e desenvolver estratégias que passem pela comunicação permanente sobre a importância de cada medicamento, a dose certa, a necessidade de administrar com água ou comida, possibilidade de ocorrência de efeitos secundários à medicação (ex: vómitos, diarreia, inapetência) e técnicas de administração de medicação oral. É importante auxiliar os donos nesta etapa e mostrar que os desafios vão ser superados em equipa.
- Maneio Alimentar. É crucial que o enfermeiro veterinário tenha um excelente conhecimento das várias dietas que o seu CAMV oferece de modo a ser a pessoa ideal para recomendar o alimento que mais se adequa ao paciente, bem como explicar como se realiza a transição de um alimento para outro. Nos casos dos pacientes renais é importante dar alternativas (alimento seco versus húmido), partilhar experiências de casos anteriores e dar dicas que ajudem o tutor a fazer uma transição eficaz.
- Cuidados a ter em casa. A maneira como acompanhamos o tratamento dos nossos pacientes quando vão para casa vai determinar o grau de compliance dos tutores. Compliance consiste na recomendação dada pela equipa do CAMV mais a sua aceitação por parte do tutor, juntamente com a sua aplicação prática (consumir produtos/serviços essenciais para o tratamento do animal), ou seja, a percentagem de animais que recebem o tratamento que os CAMV consideram ser o melhor para eles. Contactar o tutor para averiguar como está a correr a transição de alimento, se consegue dar a medicação de maneira regular ou se o animal tem algum sintoma que necessite uma visita ao CAMV mais célere é através de um simples telefonema, sms ou correio eletrónico (porque temos de nos adaptar a cada tutor) faz com que este sinta que não está sozinho a cuidar do seu animal de companhia.
- Check-up’s. O acompanhamento periódico do animal com doença renal crónica é essencial para a sua esperança média de vida. Estes acompanhamentos serão para toda a vida e é necessário explicar ao tutor a sua importância. Muitas vezes quando o tutor vem buscar o alimento, uma simples conversa de balcão pode ser o suficiente para perceber que o animal deve ser visto pela equipa médica antes do previsto.
Percebe-se então como a nossa relação é especial, pois acompanhamos os tutores em todas as etapas do maneio do animal com doença renal crónica. A conservação desta relação traz consigo benefícios, pois os tutores depositam-nos confiança e estão à vontade para expor todas as suas preocupações, fazendo com que sejamos parte da solução dos seus problemas. Traz oportunidades uma vez que, ao conseguimos comunicar eficazmente, estes estão mais recetivos a serviços e produtos que lhes são propostos. Mas atenção que esta relação especial também acarreta responsabilidades. Ao sermos os seus “advogados” não podemos deixar de ser autênticos no apoio prestado e, se falharmos com eles, a relação acaba e será muito difícil recuperar a sua confiança novamente.
A relação dos enfermeiros veterinários com os tutores está assente na educação, apoio e orientação. Tutores mais educados conseguem melhorar a qualidade de vida dos seus animais. E quando isto se consegue temos animais mais saudáveis, tutores mais felizes e uma equipa veterinária de sucesso. Isto tudo contruído na base de relações especiais.