É um banco de sangue privado e nasceu da vontade de desenvolver a Medicina Transfusional em Veterinária. Com uma característica: seguir as boas práticas e critérios de qualidade usados em Medicina Humana. Ou seja, o Banco de Sangue Animal (BSA) foi criado para dar resposta aos pedidos de componentes sanguíneos. “Algo que, tendo em conta a qualidade que já temos em Medicina Humana, não existia na área da Veterinária”. Um ‘nicho’ que Rui Ferreira, diretor técnico, médico veterinário e aluno de doutoramento de Medicina Transfusional não deixou escapar. “Até por força do doutoramento acabei por começar a perceber as necessidades dos colegas. O que tentamos inovar no Banco de Sangue Animal é a capacidade de dar componentes extremamente seguros e com muita qualidade. Ou seja, com controlo de dador, não só ao nível de despiste de doenças infecciosas, mas também ao nível do controlo dos próprios componentes sanguíneos”.
Os humanos como “barómetro”
O BSA usa os parâmetros de controlo de qualidade de Medicina Humana como “barómetro”, não só ao nível de culturas bacteriológicas – feitas em todas as unidades – como ao nível da análise de percentagem de hemólise. “Por exemplo, sabemos que percentagem de glóbulos vermelhos rompeu durante o processamento – e há uma percentagem mínima (0,8%) do total de eritrócitos presentes que poderão ruturar. Tentamos efetivamente cumprir esses critérios da mesma forma que se faz na Medicina Humana”. Algo que, segundo Rui Ferreira, tem marcado a diferença relativamente ao que antes se fazia no nosso país. “Todo este controlo e cuidado acaba por distinguir a BSA do mercado”. Outra mais-valia reconhecida por Rui Ferreira é a disponibilidade do Banco. “Estamos permanentemente disponíveis para atender às chamadas dos colegas. Entregamos unidades aos sábados, domingos, feriados, às quatro da manhã… Isso acaba por ser muito importante porque podemos dar resposta ao que o animal precisa em tempo útil. Não há que esperar 24 horas, o que nos permite salvar mais animais”.
Apesar do projeto apenas se ter materializado em 2011, na cidade do Porto, Rui Ferreira mostra-se bastante satisfeito com a prestação do Banco de Sangue Animal. Para este profissional, o mercado tem reagido bem à oferta do BSA começando agora a ser conhecido e reconhecido no meio. “Os colegas começam a ver a qualidade do serviço que conseguimos prestar. Admito que o ‘passa-a-palavra’, neste caso, tem funcionado muito bem. Desde que abrimos um espaço em Lisboa que temos sentido um aumento considerável, até porque agora conseguimos dar uma resposta mais rápida aos pedidos dos colegas naquela área. Notamos um incremento em termos do número de pedidos bastante satisfatório”.
Muito mais do que sangue inteiro
Rui Ferreira diz mesmo que a criação desta entidade foi um passo importante na terapia disponível para os colegas veterinários, já que agora podem facilmente ter acesso a componentes sanguíneos e não apenas a sangue inteiro. “Os médicos estavam habituados a lidar com sangue inteiro, mas agora podem usar apenas componentes e, a partir daí, a verdade é que há todo um leque de terapia que se abre e com um potencial imenso. Imagine o que é num animal conseguir receber só eritrócitos ou só plasma, ou concentrado de plaquetas”. Aliás, o veterinário enfatiza que mesmo no plasma, o BSA consegue dividir “em um concentrado de fatores de coagulação específicos para tratar determinada doença, que é o crioprecipitado, ou o criossobrenadante, que tem albumina e fatores de coagulação dependentes da vitamina k. Ou seja, conseguimos hemoterapia por componentes que é extremamente benéfica para o animal, já que lhe estamos apenas a dar o componente que ele precisa e, logo, retiramos todo o potencial de reações transfusionais que os outros componentes poderiam ter”.
Além de que com uma só unidade o BSA consegue tratar vários animais. “Um salto imenso. Tento, à luz da medicina humana, fazer com que os colegas cada vez mais peçam os componentes. Um animal que é um parvovirótico apenas precisa de plasma, não precisa de eritrócitos numa fase inicial da doença. Depois, a possibilidade de solicitar estes componentes a qualquer hora e ter um stock disponível penso que veio revolucionar o mercado”.
As provas de compatibilidade
O Banco de Sangue Animal disponibiliza ainda o acesso a testes de tipificação sanguínea de cão (anigénio DEA 1.1) e de gato (antigénios A e B) que podem ser usados em qualquer clínica. “Tratam-se de testes rápidos de migração imunocromatográfica, com início de comercialização em Junho de 2012 – (Rapid Vet H IC canine e Rapid Vet H IC Feline)”, explicou Rui Ferreira, adiantando que o representante oficial é o Laboratório INNO, sendo que o BSA surge como distribuidor exclusivo. A entidade está neste momento em processo de certificação pela norma ISSO 9001.
São vários os métodos que o Banco de Sangue Animal utiliza para fazer chegar os componentes ao destino final. Ou os médicos se deslocam ao BSA, seja no Porto ou Lisboa, ou o próprio Banco de Sangue Animal envia os componentes. “Desde o carro particular, quando a deslocação é pequena, a transportadores MRW que trabalha para todo o país, com toda a segurança garantida, ou pelas empresas de camionagem, como a Rede Expresso ou Renex. De Beja, se me fizerem um pedido às 11 ou meio-dia consigo colocar uma unidade no destino às 19 horas”. Uma garantia que toma particular relevância quando, afinal, estamos a falar, na sua grande maioria, de animais que estão em cuidados intensivos. “Precisam de uma resposta imediata. Esta rapidez de colocar uma unidade, mesmo que seja em locais um pouco mais distantes, é muito importante”. Aliás, até aqui os proprietários acabam por ser preponderantes, diz Rui Ferreira, pois muitas vezes são eles próprios que se encarregam do transporte do sangue.
Para a captação de dadores não houve ainda qualquer divulgação orientada aos meios de comunicação social ou realizada qualquer publicidade. Rui Ferreira justifica que ainda não sentiu necessidade de fazer esse investimento já que “não temos qualquer dificuldade em arranjar donos que se disponibilizem, muitas vezes com algum sacrifício, a vir dar sangue com o seu animal. Há pessoas excecionais. Normalmente, um proprietário que gosta do seu animal, se for solicitado para que este dê sangue, responde de forma positiva”.
BSA “ultrapassa” crise
O facto de liderem com animais em risco faz com que o atual período económico menos agradável não influencie a prestação da BSA. Rui Ferreira diz que até compreende que as visitas de rotina a um veterinário sejam realizadas de forma mais esporádica, mas “quando precisamos fazer uma transfusão de sangue de concentrado de eritrócitos e essa unidade precisa ser ministrada nas próximas 12 horas, os proprietários acabam por ter uma postura diferente. É verdade que acabamos por não sentir a crise”.
O investimento para a criação do Banco de Sangue Animal foi disponibilizado através de capitais próprios e uma parte dentro de acordos comerciais, como se de uma clínica se tratasse. Apesar de não adiantar valores, e quando questionado sobre para quando o retorno desse mesmo investimento, Rui Ferreira referiu: “Neste momento nem lhe posso fazer uma previsão, até porque estamos numa fase de crescimento de volume de envios. Vai demorar alguns anos… Mas a verdade é que o investimento também foi feito no sentido de termos todas as condições para atender a um cada vez maior número de pedidos.”
O Banco de Sangue Animal conta com outros projetos, nomeadamente alargar os serviços para outras espécies que não cães e gatos. “Já que temos todo este equipamento disponível em Medicina Veterinária claro que é algo que tem um potencial imenso, nomeadamente para equinos ou espécies exóticas. Aliás, lanço aqui um repto a colegas que queiram utilizar este equipamento para outras espécies”. Mas para já, há que dinamizar a atividade. Isto apesar Rui Ferreira garantir que não imaginava que o ritmo de crescimento fosse tão acelerado. “Na verdade pensei que fosse ser mais lento. Tem sido uma aceitação fantástica e estou muito satisfeito”. Neste momento, o BSA lida com cerca de 50 a 60 unidades requisitadas por mês.
Dia da doação de sangue: passo-a-passo
O dia da doação será previamente agendado com o Médico Veterinário, podendo por vezes ser contactado de urgência, alerta o Banco de Sangue Animal.
• Fornecer uma refeição normal duas horas antes da dádiva. Manter a água sempre à disposição
• Transportar o animal até ao local combinado com o médico veterinário
• Dar um pequeno passeio antes ou depois do transporte por forma permitir que faça as necessidades fisiológicas antes da dádiva
• Receção do dador pelo veterinário ou outro funcionário responsável na hora e local previamente combinado
• Realização de pesagem
• Realização de um exame físico geral e hemograma pelo vetrrinário para avaliação do seu estado de saúde
• Preparação do local da doação: tricotomia, limpeza e desinfeção
• Colocação de cateter e administração de sedativo em caso de necessidade
• Colocação numa posição confortável, deitado de lado ou em posição de esfinge.
Contenção é realizada por um enfermeiro ou auxiliar de veterinária
• Colheita do volume de sangue adequado ao peso do dador; a dádiva dura cerca de 5-10 minutos
• Firme compressão do local da punção durante cinco minutos. Aplicação de uma ligadura compressiva em caso de necessidade. Esta deverá ser removida em casa após 1-2 horas
• Monitorização cuidada após a doação durante 30 minutos
• Remoção do cateter colocado no membro e aplicação de um penso que deverá ser removido em casa após 1-2 horas
• Administração de uma refeição e colocação de água à disposição
• Contacto com o proprietário e agendamento da hora de alta
• Recolha do animal no local e hora agendada