A medicina Humana e Veterinária devem andar de mãos dadas? O mais possível! Foi neste sentido que Ângela Martins, do Centro de Reabilitação Animal da Arrábida, e a sua equipa foram convidados a participar no 2nd Indo Global Summit and Expo on Veterinary, em Hyderabad, na Índia. A área da neuro-reabilitação funcional esteve em destaque, com o abstract português a ser publicado no Science Veterinary Technologic 2015.
Como surgiu a oportunidade de viajar para a Índia?
A oportunidade de viajar para a Índia surgiu após a publicação de dois artigos numa revista da medicina humana International Archives of Medicine – The importance of the quadruped animal model in functional neurorehabilitation for human biped e Functional neurorehabilitation – The locomotor quadrupedal animal training adapted to the bipedal human. Fui convidada para escrever nesta revista e em revistas da área das neurociências, devido ao trabalho que estamos a realizar no Centro de Reabilitação Animal da Arrábida.
O apoio dos médicos neurologistas portugueses tem sido fundamental para estimular a evolução nesta área. Aí surgiu a neuro-reabilitação no seu conceito funcional, para a realizar é necessário ter conhecimentos teórico-práticos neurológicos e tem sido uma mais-valia trabalhar com o Dr. João Ribeiro na Referência Veterinária. Ao realizar um trabalho de abordagem científica é essencial ter o apoio, que tem sido exemplar, do Professor Dr. António Ferreira, da Faculdade de Medicina Veterinária.
Juntamente com os apoios referidos, todo o trabalho científico tem sido comentado pelo Professor Dr. Artur Varejão, da UTAD. O facto de ser docente da cadeira opcional de Medicina Física e Reabilitação Animal, na Universidade Lusófona, permitiu desenvolver esta área com mais rigor e, além de um aspeto clínico, abordá-la sobre critérios de uma comunidade científica.
Ao ter este percurso, a medicina humana interessou-se e convidou-me para a realização de artigos com uma realidade clínica de modo a fazer a ponte entre a medicina veterinária e a medicina humana. A vantagem desta ponte para a medicina humana é que a neuro-reabilitação funcional animal tem um sucesso clínico elevado, e como a nível de neuro-anatomia e neuro-fisiologia, após uma lesão neurológica, a neuro-reabilitação em ambos vai estimular as mesmas vias neurológicas. Deste modo, ambas as áreas ganham uma com a outra.
Qual o âmbito da visita?
A viagem para a Índia surgiu através do convite da OMICS International, organização científica subsidiada pela iMedPub, que organiza mais de mil conferências por ano nos EUA, Europa e Ásia, suportando mil sociedades científicas e que publica mais de 700 jornais que contêm mais de 50 mil personalidades e cientistas que atuam como membros editoriais. O congresso onde participei foi o 2nd Indo Global Summit and Expo on Veterinary em Hyderabad. Um evento diferente do habitual, uma vez que consistia numa sala com 70 professores universitários, de diversas nacionalidades, que em 20 minutos apresentavam o seu trabalho científico, que iria ser criticado e avaliado com perguntas pela comunidade científica.
No fim do congresso, os trabalhos com credibilidade científica e comprovada na sua exposição recebiam um certificado de reconhecimento oferecido pela OMICS International. Portanto a ida para a Índia foi num conceito de trabalho e de avaliação, que permite transpor para a realidade clínica do dia-a-dia, permitindo que esta vertente evolua de forma científica e que o sucesso se torne superior, além de valorizar o papel do médico veterinário na sociedade.
Qual o balanço que fazem da viagem?
A viagem foi realizada com a minha colega Ana Cardoso, que também foi oradora e colaboradora neste projeto, assim como a enfermeira Ana Catarina Oliveira e a enfermeira Inês Rijo. Todo este trabalho implica horas noturnas, um estudo profundo e individualizado, e o apoio da equipa do HVA e do CRAA, realçando o trabalho de Marina Moisés, Rita Fernandes, Bruno Melo e ainda dos enfermeiros Sara Gil e Filipe Cerdeira.
A nossa apresentação foi extremamente elogiada, recebemos o certificado de reconhecimento científico, representando assim a Universidade Lusófona, as identidades científicas e neurológicas de Portugal, assim como o próprio país. Foi a primeira vez que Portugal foi representado. Para nossa surpresa, o abstract da nossa apresentação foi publicado no jornal Science Veterinary Technologic 2015.
O que aprenderam?
Formámos e ensinámos a neuro-reabilitação funcional. Aprendemos a obter um espírito de discórdia científica na faceta positiva, aprendemos a respeitar e sermos respeitadas.
Quais as próximas iniciativas?
A nossa avaliação foi excelente, ao ponto de nos convidarem caso, durante o próximo ano, apresentarmos novidades na área da neuro-reabilitação funcional ou mesmo ortopédica. Fomos convidados a apresentar o nosso trabalho que, após a avaliação de uma comissão científica rigorosa, será validado como oradores para 2016.
Atualmente estamos a organizar o Curso de Reabilitação Funcional Animal da Arrábida, em que serão abordadas estas novidades no aspeto académico e prático. A área de neuro-reabilitação funcional é muito interessante e na medicina humana está extremamente evoluída. Esperemos que daqui a uns anos possamos referir o mesmo em relação à medicina veterinária.