A VETERINÁRIA ATUAL visitou a Clínica Veterinária Patas e Penas, em Setúbal, em 2010. Desde então, as mudanças no país e no setor foram muitas e seis anos depois regressámos para saber o que mudou e perceber como a médica veterinária Ana Mota orientou a sua clínica durante a travessia das águas agitadas dos anos de crise.
Em 2010, a Patas e Penas estava a comemorar uma década de existência e atualmente está de pedra e cal. A localização mantém-se, o que mudou é que a concorrência é cada vez maior. “Temos mais centros de atendimento médico veterinários (CAMV’s) do que em 2010 na zona de Setúbal”, reforça a diretora-clínica, explicando que “as estruturas ressentiram-se em 2011, mas há sensivelmente dois anos a situação tem vindo a melhorar e somos muitos mais CAMV’s atualmente. São os chamados low cost que causam mossa”.
Olhando para o período de crise económica e financeira, Ana Mota confessa que sentiu “um decréscimo de faturação, de 2011 para 2012, na ordem dos 20 a 30%. Depois começámos a recuperar e acredito que este seja um ano de ouro porque Portugal está a mudar: tem mais turismo e mais serviços”.
Dr. Google
Depois de uma análise sumária ao ambiente externo em que a clínica está inserida, parte-se para a análise interna. Hoje em dia, a Patas e Penas tem “uma equipa mais pequena e deixou de se justificar abrir ao domingo, mas ao sábado tem um horário de funcionamento mais alargado”, relata Ana Mota. Para a responsável, uma equipa mais pequena é uma mais-valia, na medida em que “é mais fácil estarmos todos em sintonia e termos uma relação mais estreita tanto entre nós, como com os nossos clientes”.
Quanto ao funcionamento no dia-a-dia, a médica veterinária constata que “fazemos mais cirurgias”, pois “as pessoas estão mais preocupadas e alertas para os sinais indicadores de doenças”. Por outro lado, também “estão mais suscetíveis a efetuar as medidas de profilaxia”. Não obstante, isto não impede que, de vez em quando, e até com alguma frequência, na clínica não se tenha de lidar com os diagnósticos ‘elaborados’ pelo Dr. Google. “As pessoas recorrem muito à Internet, onde a informação nem sempre está correta, indo ao Google. Muitas vezes é como se já viessem com o diagnóstico feito e só procuram a confirmação”, expõe Ana Mota, com alguma preocupação.
Ainda assim, a médica veterinária reconhece que os clientes “têm vindo a aumentar e a diversificar”. E explica: “quando abrimos a clínica, a ideia era oferecer medicina de animais exóticos que não havia ou havia muito pouca. Passados todos estes anos continua a não haver muita gente a fazer, pois é uma medicina que tem características próprias, passando pelas aves, repteis, pequenos mamíferos, etc.”. Daí que a Patas e Penas tenha muitos casos que lhe são referenciados na área dos exóticos. “Sempre tivemos muita casuística em pequenos mamíferos, como coelhos e chinchilas”, sublinha Ana Mota, acrescentando que “as pessoas também já procuram uma medicina preventiva em relação a estes animais”.
A infraestrutura
Em 2010, a clínica já dispunha de laboratório próprio de análises clínicas, ecografia, electrocardiografia e exames complementares de diagnóstico, sala de cirurgias e jaulas de internamento. Entretanto, Ana Mota refere que “adquirimos um monitor de anestesia, que na altura não tínhamos e material de dentisteria para exóticos”.
Também à semelhança do que já acontecia há seis anos, a médica veterinária continua a apostar na formação. E desde então fez “um curso de cirurgia na Universidade Lusófona” e este ano “vou fazer formação em dentisteria e cirurgia de animais exóticos”, sublinha. Para a responsável, “antigamente não havia formação tão específica” e por isso, para colmatar esta falha, muitas vezes os profissionais tinham de ir “duas ou três semanas para um local com muita casuística”. Porém, esta situação tem-se vindo a alterar nos últimos anos e “agora já há muita formação específica em Portugal, havendo inclusive colegas a aproveitar as estruturas que têm para fazer este tipo de formação”.
Contudo, além de apostar na sua formação e na da sua equipa, Ana Mota também se tem dedicado a formar os mais pequenos no que toca à saúde e ao bem-estar dos animais. “Fazemos cada vez mais formação nas escolas. O conteúdo das ações depende muito do ano de ensino em questão e da disciplina em que estamos enquadrados”.
Parcerias entre clínicas e hospitais
Mas Ana Mota não molda o futuro somente quando está a contribuir para a formação dos mais novos. Neste campo, a médica veterinária diz querer manter-se como clínica. “O facto de existirem hospitais não significa que as clínicas deixem de ter utilidade, pelo contrário. Todos temos um papel importante, mesmo os consultórios, porque estamos todos dirigidos para um determinado tipo de serviço”. E, neste sentido, salienta que “se podem criar parcerias interessantes” entre estas estruturas.
Quanto ao futuro da profissão, a diretora-cínica refere que espera “uma redução dos numerus clausus para controlar o número de médicos veterinários no mercado”. E, neste contexto, garante que “somos mais do que em 2010” e, em consequência, “há muitos colegas que estão a ir para o estrangeiro, não só os recém-licenciados, como aqueles já têm alguns anos de experiência. Há seis anos a profissão era mais bem paga do que atualmente”.
Perfil: Ana Mota
Licenciada em Medicina Veterinária pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Ana Mota enveredou por esta área de formação devido à sua paixão por gatos. Depois de ter realizado um estágio curricular em clínica de pequenos animais pelo Hospital ARS Veterinária, em Barcelona, e de ter passado por uma clínica na margem sul e posteriormente no Algarve, resolveu apostar na abertura do seu próprio espaço para, como diz, “poder fazer as coisas da minha maneira”. Com principal interesse nas áreas de Dermatologia, Medicina Interna Felina, Cardiologia e Leishmaniose, a médica veterinária realizou um estágio prático em Cardiologia, Oncologia e Imagiologia pela École Veterinaire d’Alfort, em Paris, na França, bem como o curso de ESAVS, Feline Medicine and Surgery I, em Zurich, na Suiça, a pós-graduação Page Vet I, na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, que segundo confessa a muniu de “importantes ferramentas na área da gestão, não apenas financeira”. Além disso, realizou o Course “Dermatology” do nível I e II, na European School for Advanced Veterinary Studies (ESAVS), em Vienna, na Áustria, e mais recentemente o curso de cirurgia na Universidade Lusófona.