“É muito importante que as pessoas não entrem em pânico em relação aos seus animais. Não há provas de que estes possam transmitir a doença aos humanos”, disse a presidente da BVA, Daniella dos Santos. “O que é que se passa com os gatos e a Covid-19? Nada!”, diz a associação espanhola de animais de companhia AVEPA. As conclusões das três organizações internacionais vão ao encontro da dos peritos recentemente consultados pela VETERINÁRIA ATUAL: não há evidências de que os gatos possam transmitir a doença aos humanos.
Perante os novos estudos, não revistos, anunciados sobre felinos, e o novo caso positivo para a presença de SARS-COV-2 num tigre-malaio num jardim zoológico em Nova Iorque, a WSAVA (World Small Animal Veterinary Association) reiterou as informações já prestadas pelos Laboratórios dos Serviços Veterinários Nacionais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA): a fonte provável de infeção terá sido o tratador que cuidava dos animais e que se encontrava infetado pelo vírus, mas assintomático.
Os quatro tigres que apresentavam sintomas, tendo apenas um sido testado, vivem com um outro tigre, Amur, que não desenvolveu qualquer sintoma. Contudo, outros três tigres do mesmo jardim zoológico não apresentam até ao momento qualquer indicação de infeção.
“Assumindo que os outros três leões e tigres com sinais estavam doentes devido à SARS-CoV-2, isto pode apoiar os resultados de um estudo experimental, comentado por nós, sobre gatos domésticos. Neste estudo, alguns gatos inoculados com uma dose elevada de SARS-CoV-2 desenvolveram sinais clínicos de doença e alguns foram capazes de passar o vírus a outros animais alojados na proximidade imediata. Serão necessários mais estudos para determinar se os gatos exóticos são mais suscetíveis ao vírus do que os gatos domésticos”, refere a associação em comunicado.
No mesmo documento, a WSAVA fez referência a outro estudo, que testou a presença de anticorpos contra a SARS-CoV-2 em gatos de Wuhan, para o qual foram recolhidos 102 gatos, durante o surto de Covid-19 (entre janeiro e março de 2020). Estes foram comparados com outros 39 gatos recolhidos antes do surto, em 2019.
De acordo com o estudo, foram detetados anticorpos contra a SARS-CoV-2 em 15 (14,7%) das amostras de gatos obtidas após o surto, através de um ensaio experimental indireto de imunoabsorção enzimática (ELISA). Onze das quinze amostras apresentavam anticorpos por neutralização do vírus, porém, segundo citam no comunicado, “o RNA SARS-CoV-2 não foi amplificado por qRT-PCR específico de nenhum dos gatos”. Ou seja: embora os resultados deste estudo sugerissem que os gatos podem ser naturalmente expostos a SARS-CoV-2 e desenvolver uma resposta serológica, a “excreção de vírus” em gatos naturalmente expostos é de curta duração ou de baixos níveis.
A WSAVA refere ainda que foi questionada sobre a possibilidade de serem realizados testes em gatos que apresentem sintomas clínicos ou a qualquer gato que tenha tido contacto pessoas com Covid-19. A organização explica que não dispõe atualmente de informações sobre cada país e que as recomendações estão a mudar rapidamente, sugerindo o contacto com as autoridades de saúde pública locais para mais esclarecimentos.
“Até à data, doenças em cães ou gatos potencialmente relacionados com o SARS-CoV-2 através de infeções naturais têm sido inexistentes ou aparentemente autolimitadas”, acrescenta a associação, salientando que “os detentores doentes com Covid-19 devem evitar o contacto direto com os animais de companhia, nomeadamente aconchegar-se, ser beijado ou lambido, e partilhar os alimentos. Se precisam de cuidar do seu animal de companhia ou estar perto de animais enquanto estão doentes, devem lavar as mãos antes e depois de interagir com elas e usar uma máscara facial”.
AVEPA – “O que se passa com os gatos e a Covid-19? Nada!”
A AVEPA (Associação de Veterinários Espanhóis Especialistas em Pequenos Animais) emitiu também um novo comunicado, intitulado “O que se passa com os gatos e a Covid-19? Nada!”, sobre os casos documentados de alguns gatos e outros felinos que terão acusado positivo em testes para a presença do vírus. “Todos estes casos tiveram detentores ou tratadores positivos para o vírus e que muito provavelmente causaram a infeção destes animais”, afirma fonte da associação espanhola em comunicado.
Sobre o estudo no qual foram infetados gatos, reiteraram que para o mesmo foi inoculada “uma quantidade de vírus em gatos que seria improvável que ocorresse na vida real” e que, ainda assim, “apenas um gato saudável foi infetado, o que parece indicar que a transmissão entre gatos é muito menos eficiente do que entre pessoas”.
Sobre o outro estudo realizado em Wuhan, China, que identifica que cerca de 15% dos gatos testados tinham desenvolvido anticorpos para o coronavírus, a AVEPA explica que “o estudo não testou se esses gatos tinham ou não tido sintomas, e se os gatos cujos donos tiveram resultados positivos tinham os níveis mais elevados de anticorpos contra o vírus”.
Apesar das reservas, a associação destaca que é possível, porém, que “o gato, e outros felinos, possam ser afetados pelo vírus muito ocasionalmente, especialmente quando infetados por proprietários ou tratadores que têm a doença. Estes gatos não apresentam sintomas ou apresentam sintomas muito ligeiros e a sua capacidade de infetar outros gatos parece muito limitada”.
BVA: os gatos podem sair à rua
Também a British Veterinary Association (BVA) se viu no meio de uma polémica em torno das suas recomendações em relação aos felinos. Depois de a BBC ter noticiado que os médicos veterinários estavam a aconselhar a permanência dos felinos em casa, a BVA veio esclarecer que esta recomendação só se aplica a gatos em lares com pacientes de Covid-19 ou em que as pessoas estão de quarentena, por algum motivo.
“Não recomendamos que todos os gatos sejam mantidos no interior. Apenas gatos de lares infetados ou em que os donos estão em quarentena, e apenas se o gato se sentir confortável em estar sempre no interior da habitação. Alguns gatos não podem ficar sempre dentro de portas devido a razões médicas relacionadas com o stresse”, afirmou Daniella dos Santos, a presidente da BVA no site da associação. “É muito importante que as pessoas não entrem em pânico em relação aos seus animais. Não há provas de que estes possam transmitir a doença aos humanos.”
Recomendações
– As pessoas com Covid-19, que tenham animais de estimação, devem evitar ou reduzir o contacto com os seus animais. Recomenda-se que outro membro da família cuide destes animais. Se tal não for possível, devem lavar bem as mãos antes e depois de ter contacto com os animais e o contacto deverá ser o mínimo possível;
– Os gatos de interior devem permanecer no interior. Já os gatos habituados a sair para o exterior com regularidade só devem ser mantidos em casa se estiverem em contacto com infetados com Covid-19 no seu lar ou se os seus cuidadores estiverem de quarentena, por algum motivo. Nos cães, os passeios devem ser, como indicado pelo regulamento, tão curtos quanto possível, mantendo a distância recomendada em relação às outras pessoas e, posteriormente, deve ser feita a devida higienização;
– Se estes animais precisarem de ir ao veterinário, deve telefonar com antecedência para informar que estiveram em contacto com uma pessoa infetada, para que o veterinário possa avaliar se é necessário ver o animal e, nesse caso, tomar as medidas adequadas;
– Animais assintomáticos não devem ser alvo de testes neste momento.
– A situação da pandemia tem sofrido alterações diariamente e os veterinários continuarão atentos às informações que surgirem, sendo rigorosamente avaliadas para adaptar os seus protocolos e recomendações, se necessário. Atualmente, não existem provas de que o gato possa transmitir a doença aos seres humanos.