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Médicos Veterinários

Ensino superior: Estreitar a ligação com a prática clínica para preparar melhor as equipas

Como tem evoluído a formação em medicina veterinária ao longo dos anos? É possível atualizar os currículos e corresponder na teoria àquilo que a prática clínica vai exigir depois? Neste artigo, damos a conhecer algumas novidades ao nível dos planos curriculares e dos conteúdos pragmáticos das universidades… mas não só.

É um desafio para quem ensina, mas também para os alunos que serão os profissionais de amanhã. A articulação das universidades com o mundo laboral foi um dos temas em destaque na última edição das Conferências Veterinária Atual no final do mês de setembro, o que veio reforçar ainda mais a relevância do papel dos cursos superiores na preparação para a entrada no mercado de trabalho. “Os conteúdos programáticos das unidades curriculares do plano de estudos do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária (MIMV) da Faculdade de Medicina Veterinária da ULisboa (FMV-ULisboa) estão em permanente atualização e evolução acompanhando o enorme desenvolvimento desta área do conhecimento. Esse desenvolvimento é muito nítido na área do diagnóstico e da terapêutica onde as novas tecnologias, fármacos e formas de administração inovadores ganharam expressão”, revela Rui Caldeira, presidente da FMV-ULisboa.

 

O atual plano de estudos inclui 5% de unidades curriculares opcionais que, pela  sua maior agilidade de criação, vão acompanhando mais rapidamente esse progresso, de que são exemplo, entre outras: Aplicações da Engenharia Genética em Ciências Veterinárias, Estratégias de Antibioterapia em Medicina Veterinária, Toxicologia Clínica, Clínica dos Novos Animais de Companhia, Medicina dos Animais Silvestres e da Conservação, Ciências Forenses em Medicina Veterinária, Perspetiva Multidisciplinar do Maneio da Dor, Imunologia Clínica em Animais de Companhia, entre outras. Rui Caldeira avança que está neste momento em preparação uma nova revisão do plano de estudos que, como as anteriores, “tem como objetivo reorganizar e atualizar as unidades curriculares e os seus conteúdos, garantindo que os graduados adquiram os conhecimentos, aptidões e competências relevantes exigidos para o nível inicial de um médico veterinário, de acordo com as recomendações da Associação Europeia de Estabelecimentos de Ensino Veterinário (AEEEV)”. Neste âmbito, está previsto ainda o reforço de “temáticas transversais cada vez mais necessárias ao exercício da profissão, como sejam, diversas competências pessoais e sociais, de gestão e empreendedorismo. Pretende-se simultaneamente continuar a inovação pedagógica tirando partido dos desenvolvimentos nestas áreas e das novas tecnologias de comunicação”.

Também no MIMV da Escola Universitária Vasco da Gama (EUVG), em Coimbra, têm vindo a ser registados “vários pontos de melhoria no plano curricular estendidos ao processo ensino-aprendizagem, com a formação pedagógica do corpo docente, além da atualização dos conteúdos programáticos às expetativas e necessidades da sociedade e da própria profissão, em resultado da auscultação dirigida às partes interessadas em diferentes momentos e contextos, nomeadamente estudantes, docentes, entidades empregadoras/de acolhimento de atividades práticas extramurais e intramurais”, explica Sofia Cancela Duarte,  diretora do Departamento de Ciências Veterinárias. A escola preparou ainda uma proposta de revisão e reestruturação curricular que já apresentou à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior com o objetivo de promover a inclusão de novas abordagens e novos conhecimentos contribuindo para o desenvolvimento complementar de aptidões e competências.

 

Reestruturar? Quando?

Nos últimos anos, a Escola Superior Agrária de Elvas do Politécnico de Portalegre (ESAE-IPP) tem apostado em áreas diferenciadoras como a reabilitação, a enfermagem em novos animais de companhia e o comportamento, ou o marketing e comunicação. “Uma maior transmissão de conhecimentos nestas áreas permite que os alunos finalizem a sua licenciatura com uma maior preparação para a diversidade de situações com que poderão vir a contactar na sua vida profissional. Adicionalmente, a aquisição de competências na área da gestão permite melhorar a prestação dos enfermeiros veterinários no contacto com tutores e parceiros”, explica Carolina Silva, coordenadora da licenciatura em Enfermagem Veterinária na ESAE-IPPortalegre.

 

“Este fortalecimento da relação com os parceiros a nível regional e nacional tem sido incentivado e ampliado internacionalmente com universidades e empresas estrangeiras” – Carolina Silva, ESAE-IPP

 

O IPPortalegre tem feito um investimento considerável em infraestruturas e na aquisição de equipamentos de diagnóstico clínico e laboratorial permitindo que os alunos possam colocar em prática nas aulas os procedimentos que irão realizar na vida profissional. “Contamos atualmente com uma unidade curricular (UC) específica sobre meios de diagnóstico e diversas UC clínicas onde os alunos realizam estas técnicas. No próximo plano de estudos serão incluídas UC de cariz 100% prático, como as “Atividades hospitalares e de campo” logo a partir do 2º ano, que permitirão que os alunos adquiram e desenvolvam competências em áreas médico-cirúrgicas e de diagnóstico, participando em atividades desenvolvidas em contexto real de prática clínica”, acrescenta.

A última reestruturação curricular do MIMV da Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD) data de 2015, tendo constituído um ponto importante para a aprovação europeia do MIMV-UTAD pela European Association of Establishments for Veterinary Education. “Foi reforçada a componente prática do currículo (hands-on training), nomeadamente através de atividades clínicas de estágio intra e extramuros (em particular nas vertentes de clínica de animais de companhia, espécies pecuárias, equinos e exóticos e selvagens) e integração de novas unidades curriculares obrigatórias como a Nutrição Clínica”, explica Adelina Gama, diretora do MIMV-UTAD. Cientes da relevância da revisão curricular e da introdução de melhorias ao processo de ensino e aprendizagem que se coadunem com as exigências da profissão, está equacionada uma nova reestruturação, para a qual contribuirá um vasto grupo de trabalho onde se incluem docentes, não docentes, estudantes e stakeholders.

O reflexo da prática clínica no Ensino Superior

No caso do MIMV da FMV-ULisboa, “a evolução da prática clínica reflete-se diretamente no ensino através da atualização permanente dos conteúdos programáticos, tanto da sua componente teórica como da prática, esta última também ao nível do Hospital Escolar onde a aposta em recursos humanos e em meios técnicos tem sido importante para a melhor formação dos estudantes”, foca Rui Caldeira. São vários os exemplos: “A contratação de diplomados dos colégios Europeus de Especialidades, o reforço de equipamentos no Centro de Simulação Clínica e a aquisição de novos equipamentos como sejam uma ressonância magnética e uma segunda tomografia axial computorizada”.

É considerável o número significativo de colegas docentes a lecionar e a exercer clínica em diferentes áreas no MIMV da EUVG, o que facilita “a importação para o processo ensino-aprendizagem da realidade da prática profissional. Por outro lado, a exposição dos estudantes, durante o seu percurso académico, ao contacto com a prática clínica profissional, no âmbito de aulas práticas, bancos clínicos e estágios intercalares e curriculares contribui para uma oportunidade adicional de enriquecimento curricular, adaptando-o à realidade da evolução da profissão”, defende Sofia Cancela Duarte. Nesta Escola, a evolução da prática clínica reflete-se tanto no plano curricular, como na expansão de infraestruturas (por exemplo, a expansão da área hospitalar e das salas de competências de ensino prático em contexto clínico) e no reforço do parque de equipamentos de ensino clínico com a inclusão de modelos simuladores.

A coordenação de curso de Enfermagem Veterinária na ESAE e dos docentes tem valorizado “o estabelecimento de protocolos com possíveis entidades empregadoras que permitem a realização de visitas de estudo e de estágios por parte dos alunos e que eventualmente terminam com a celebração de um contrato. Este fortalecimento da relação com os parceiros a nível regional e nacional tem sido incentivado e ampliado internacionalmente com universidades e empresas estrangeiras”, sublinha Carolina Silva.

“É essencial que os ciclos de estudos incluam formação nestas temáticas [competências pessoais e sociais, gestão e saúde mental] e que confiram um mínimo de conhecimento e competências para o médico veterinário saber lidar melhor com as realidades sociais das múltiplas atividades que poderá vir a exercer” – Rui Caldeira, FMV-ULisboa

Na Universidade de Lisboa é promovido a nível central um inquérito anual sobre a empregabilidade dos graduados em medicina veterinária da FMV-ULisboa sendo a mesma “muito elevada, como demonstra a informação publicada na página da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) e pela ULisboa (ver caixa)”, explica Rui Caldeira.

Em algumas Escolas da ULisboa são organizadas as denominadas “Feiras de Emprego” onde as entidades empregadoras se apresentam aos estudantes, facilitando o seu conhecimento e comunicação. “A FMV mantém na sua plataforma e-learning (MOODLE) uma secção de ofertas de emprego, estágios e de projetos de investigação promovendo a comunicação entre empregadores, os estudantes e graduados. Nela, são inseridas todas as ofertas que chegam à Faculdade, as quais são também transmitidas à Associação de Estudantes.”

O plano curricular do MIMV-UTAD permite “um ensino abrangente, suportado por infraestruturas em que se incluem o Hospital Veterinário e o Centro de Recuperação de Animais Selvagens e Laboratórios (Histologia e Anatomia Patológica, Parasitologia, Tecnologia, Qualidade e Segurança Alimentar, entre outros), que prestam serviço de extensão à comunidade”, salienta João Requicha, vice-diretor do Curso do MIMV-UTAD. A direção deste mestrado considera que “as entidades empregadoras são uma peça importante na definição do perfil do futuro graduado em Medicina Veterinária, razão pela qual devem ser convidados pela Academia a dar o seu contributo”, acrescenta Adelina Gama. A UTAD tem estabelecido diversos protocolos com stakeholders para a realização de estágios curriculares e extracurriculares, projetos de investigação no âmbito de dissertações de mestrado e teses de doutoramento e na colaboração na docência extramuros. “No sentido de fortalecer esta ligação com os empregadores, encontram-se em preparação debates/mesas redondas sobre o ensino médico-veterinário, com inclusão de diversas entidades empregadoras.”

Segundo os dados mais recentes do Sistema Interno de Garantia de Qualidade da EUVG, a taxa de empregabilidade dos diplomados mantém-se constante acima dos 91%. Para Sofia Cancela Duarte, esta percentagem traduz “o inegável nível de aceitação dos profissionais da EUVG no mercado de trabalho”. Através da estratégia institucional de internacionalização em curso, prevê-se manter o nível de empregabilidade associado a novos mercados de trabalho. “Por outro lado, a ampla gama de saídas profissionais, com inclusão de áreas emergentes a par das áreas identificadas como de interesse pelos estudantes ingressados, permite continuar a formar médicos veterinários com o perfil de competências pessoais e profissionais para responder às necessidades do exercício da profissão e aos problemas globais que a sociedade enfrenta à escala global.” Existe ainda a preocupação por parte da EUVG em capacitar os estudantes na procura ativa de locais para os estágios curriculares finais e intercalares – práticas veterinárias integradas.

Formação na área de gestão

Não raras vezes, a gestão tem de ser assegurada pelos diretores clínicos que nem sempre têm estas competências desenvolvidas. Mas essa responsabilidade deve ser assegurada por médicos profissionais ou há que apostar em profissionais dedicados a cada área em particular? “Na nossa opinião, essa gestão deve ser exercida por equipas que incluam profissionais dessa área e médicos veterinários para que as competências e sensibilidades próprias de cada área se conjuguem e otimizem. Para isso é necessário que os médicos veterinários tenham a formação necessária no ciclo de estudos para conhecerem os princípios básicos da gestão e saberem dialogar com os gestores, ou, no caso de quererem assumir essa gestão, adquiram posteriormente uma formação mais especializada que lhes permita essa atividade”, defende Rui Caldeira.

No que respeita às competências pessoais e sociais, já não existe margem para dúvida sobre a sua relevância no êxito da atividade profissional e também na preservação da confiança e saúde mental dos médicos veterinários face aos desafios cada vez mais exigentes. “É essencial que os ciclos de estudos incluam formação nestas temáticas e que confiram um mínimo de conhecimento e competências para o médico veterinário saber lidar melhor com as realidades sociais das múltiplas atividades que poderá vir a exercer”, acrescenta o presidente da FMV-ULisboa. No caso desta faculdade, estas soft skills são desenvolvidas sobretudo pelos estudantes em ambiente hospitalar, no âmbito das Atividades Hospitalares I a VI que decorrem do 3º ao 5º ano do plano de estudos do MIMV, e reforçadas por palestras promovidas pelo Gabinete de Apoio ao Estudante do Conselho Pedagógico e pela Associação de Estudantes.

Já no que respeita aos temas de saúde mental e burnout são logo abordados no 3º ano, nas unidades curriculares de Atividades Hospitalares I e II, posteriormente desenvolvidos nas rotações clínicas no 5º ano, nas unidades curriculares de Atividades Hospitalares V e VI e merecerão um destaque no novo plano de Estudos que resultará da revisão curricular atualmente em curso. “Além disso, o Gabinete de Apoio ao Estudante e o Grupo de Mentores do Conselho Pedagógico, também trabalham em articulação no sentido de promoverem a prevenção destas situações ainda durante o ciclo de estudos e o esclarecimento e informação precoces junto dos estudantes do MIMV, através de cursos e formações no âmbito desta temática”, refere Rui Caldeira.

Dotar os alunos e futuros profissionais com competências para melhorar o atendimento e a produtividade dos CAMV são alguns dos objetivos da ESAE – IPP. “A organização de atividades formativas e aulas em contexto de prestação de serviços médico-veterinários permite o desenvolvimento de habilidades interpessoais nos nossos alunos e dotar os futuros enfermeiros veterinários da capacidade para desenvolver uma relação positiva e duradoura com os tutores nos CAMV”, explica Carolina Silva.  Na reestruturação curricular da ESAE-IPPortalegre que entrará em vigor no próximo ano letivo de 2022-2023, os temas do burnout e da saúde mental “foram especialmente considerados e serão abordados numa UC específica.” Atualmente, esta abordagem já é realizada, mas de uma forma mais transversal nas UC clínicas e terminais do plano curricular.

A direção do MIMV-UTAD considera que “as entidades empregadoras são uma peça importante na definição do perfil do futuro graduado em Medicina Veterinária, razão pela qual devem ser convidados pela Academia a dar o seu contributo”, explica Adelina Gama

Os estudantes da UTAD têm acesso a diversas iniciativas que fomentam as competências interpessoais em complemento das competências técnicas e especializadas “estando prevista para este ano a 8ª edição do ‘Plano SoftSkills’, na qual também os estudantes do MIMV-UTAD podem adquirir atributos e competências pessoais que permitem melhorar as suas interações com os outros e com o mundo ao seu redor disponibilizando-lhes conhecimentos que melhor os ajudem a competir no exigente mercado de trabalho”, refere João Requicha.

No que concerne à saúde e bem-estar, os Serviços de Ação Social da UTAD dispõem de uma unidade de saúde certificada pela Entidade Reguladora da Saúde que presta serviços a toda a comunidade académica. São disponibilizadas consultas de psicologia clínica que se destinam, prioritariamente, aos estudantes da UTAD, estando também disponíveis para todos os trabalhadores (docentes e não docentes). “A classe médico-veterinária enfrenta níveis de stresse elevados que podem conduzir a situações de depressão ou exaustão mental, pelo que se torna fundamental a sensibilização e acompanhamento dos estudantes de medicina veterinária durante o percurso académico, no sentido de aprenderem a identificar sinais de depressão, de conhecerem estratégias de gestão de stresse e saberem quando é necessário pedir ajuda profissional”, explica Adelina Gama. Na UTAD, esta questão também tem sido abordada através da implementação do Programa de Tutoria-Mentoria, que tem como missão promover a integração dos novos estudantes e orientar o seu percurso académico, permitindo a deteção precoce de problemas de ansiedade, depressão ou outros.

A EUVG defende a interdisciplinaridade e promove a realização de atividades práticas em contexto real de trabalho em vários âmbitos e momentos do percurso académico. “São igualmente realizados diversos trabalhos de grupo e trabalhos interdisciplinares que promovem o desenvolvimento das tão necessárias soft skills. O plano curricular do MIMV inclui unidades curriculares como gestão de capital humano, economia e gestão de empresas agroalimentares”, explica Sofia Cancela Duarte.

A Escola dispõe ainda, em permanência, de um Gabinete de Apoio Psicossocial, que, ao longo do ano letivo, além do acompanhamento e apoio psicológico promove ações de sensibilização e capacitação a toda a comunidade académica. “Durante os momentos de suspensão letiva em resultado da pandemia covid-19, a saúde mental foi um tema sempre presente e privilegiado nos boletins semanais da EUVG remetidos aos estudantes, com sensibilização e divulgação de recursos e ferramentas disponibilizados pela Direção Geral da Saúde e Ordem dos Psicólogos Portugueses”, acrescenta.

Oferta paralela ao Ensino Superior

Numa área em que a atualização dos conhecimentos é constante, a formação contínua mantém as equipas mais bem preparadas. Surgem então alguns cursos de empresas que se dedicam a formar vários profissionais. “Só assim poderemos, como profissionais, ambicionar estar na vanguarda do conhecimento de forma a dar aos nossos pacientes os melhores cuidados”, explica o médico veterinário Rui Máximo, um dos sócios da UpdateVet, juntamente com a médica veterinária Margarida Monteiro Máximo. A empresa foi criada com o objetivo de procurar colmatar as necessidades dos médicos e enfermeiros veterinários na prática clínica.

Uma vez que as formações eram todas presenciais, a pandemia impossibilitou a realização das formações teórico-práticas, mas também as exclusivamente teóricas. “Embora tenha afetado bastante o nosso calendário, fomos conseguindo gerir estas dificuldades e estamos a tentar voltar à normalidade”, explica Rui Máximo. Este tem sido o principal desafio – retomar as formações presenciais. “A medicina/enfermagem veterinária tem uma componente teórica indispensável, mas uma forte componente prática impossível de exercer sem ser de forma presencial.” Outro desafio relevante prende-se com as deslocações dos oradores que sendo nacionais ou internacionais se encontram fora do País e que a qualquer momento podem ser impossibilitados de viajar devido à pandemia, o que obriga a mudanças súbitas nos planos de formação.

A UpdateVet enfrenta ainda a exigência de sensibilizar as entidades empregadoras e os profissionais para que a formação seja encarada como um investimento com retorno. “Inclusive, a educação contínua deve fazer parte do dia-a-dia de trabalho e não de um extra que tem de ser feito fora do horário de trabalho ou num período de férias”, explica o sócio.

Os cursos da UpdateVet caracterizam-se por serem um “update” em diversas áreas, contendo temas que vão do mais básico ao mais avançado. O perfil dos formandos que procuram estes cursos é composto por veterinários/enfermeiros com alguma experiência que já trabalham há algum tempo e que pretendem adquirir uma atualização de conhecimentos.

No próximo ano, os cursos vão realizar-se no Porto e em Lisboa e terão vários temas. “Na medicina interna teremos cursos de Medicina Respiratória, Endocrinologia, Urologia, Nefrologia, Nutrição, Cardiologia e Análises Clínicas. Vamos reeditar os cursos de Ecografia abdominal e ter algumas novidades com cursos de ecocardiografia.” A UpdateVet apostará ainda em duas novidades de formação intensiva com a realização de um “Bootcamp” de cinco dias intensivos na área de Anestesiologia e de Endoscopia.

Para enfermeiros veterinários, a oferta incluirá cursos teórico-práticos de Anestesia, Pensos e Cicatrização de feridas e Procedimentos práticos, assim como, cursos teóricos de Emergências e Nutrição Clínica. Reconhecendo a relevância do tema de saúde mental e do burnout e apesar de não estarem contemplados no plano de formação de 2022, Rui Máximo assume que podem vir a ser considerados em formações

PERGUNTAS&RESPOSTAS

Francisco Antunes é coordenador e investigador do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. É ainda professor catedrático jubilado na mesma facultade e partilha algumas informações sobre o I Curso Pós-Graduado One Health – Saúde humana, Saúde animal e Saúde Ambiental, a arrancar em novembro deste ano.

 A questão One Health é cada vez mais abordada tanto em medicina humana como em medicina veterinária. Este novo curso/pós-graduação surgiu com que objetivos e finalidades?

O Curso Pós-Graduado “One Health – Saúde humana, Saúde animal e Saúde ambiental”, organizado pelo Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, é único no País e surge pelo reconhecimento da necessidade de se disponibilizarem ferramentas conceptuais e práticas a todos aqueles que se dedicam ou projetem abraçar a investigação em um ou mais vértices da forma conceptual One Health.

Qual será o perfil de alunos desta pós-graduação?

Este curso destina-se a todos os profissionais das áreas das ciências médicas, biológicas e engenharias e que estejam direta ou indiretamente envolvidos na investigação e/ou na intervenção nos domínios da Saúde humana, Saúde animal e Saúde ambiental e sejam detentores de, pelo menos, o grau académico de licenciado. As vagas estão previstas para 25 – 60 alunos, estando já garantido o número mínimo de inscrições.

Na sua opinião, o que torna este curso diferenciador e que mais-valias pode trazer aos alunos no futuro?

Este curso One Health, centrado na interface humano-animais-ambiente, apresenta-se como um conceito de abordagem sinérgico, multissectorial e interdisciplinar, com o objetivo de se otimizarem os resultados em saúde, reconhecendo a ligação entre aqueles três elos. Só por si, a transmissão deste conceito aos alunos é a mais-valia da oportunidade deste curso, permitindo que a aprendizagem, depois de assimilada, possa ser replicada nos seus ambientes de trabalho.

Considera que é urgente um trabalho cada vez mais multidisciplinar entre os profissionais destas três áreas?

Claramente, assume-se como urgente a necessidade de um trabalho multidisciplinar, concertado e de estreita colaboração entre as duas medicinas – a humana e a veterinária – para tornar a saúde pública mais robusta e mais bem preparada para responder aos desafios colocados por um mundo globalizado e que enfrenta as ameaças das alterações climáticas.

 

Índices de empregabilidade em graduados do MIMV da FMV-ULisboa

A DGES, com base na informação registada no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), registou em 2019 um valor de desemprego de 2,1% (estudantes que se graduaram no ciclo de estudos nos anos letivos de 2014/15 a 2017/18) e, em 2020, de 3,2% (estudantes que se graduaram nos anos letivos de 2015/16 a 2018/19). “No referido inquérito anual da ULisboa sobre empregabilidade, os graduados do MIMV da FMV-ULisboa que concluíram o seu ciclo de estudos no ano letivo 2017/18, tiveram uma taxa de emprego de 96%, dos quais 83% na área de formação. Estes valores refletem claramente uma elevada e rápida empregabilidade”, explica o presidente da FMV-ULisboa, Rui Caldeira.

*Artigo publicado originalmente na edição n.º 154 da revista VETERINÁRIA ATUAL, de novembro de 2021.

 

 

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