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Da reprodução à locomoção – Um ponto de situação do progresso tecnológico nos equinos em Portugal

O progresso tecnológico é visível em todas as áreas da medicina veterinária e os equinos não são exceção. Desde 2020 que o projeto Equimais, liderado pela Universidade de Évora e em parceria com os Institutos Politécnicos de Portalegre e Santarém, se dedica a aumentar o conhecimento científico e tecnológico nesta área com vista a melhorar a produtividade e qualidade destes animais. Em entrevista, a Prof. Doutora Rute Santos, explica os detalhes do projeto e faz um ponto de situação da equinocultura em Portugal.

Equimais– Melhor produção equina é um projeto de transferência do conhecimento científico e tecnológico, liderado pela Universidade de Évora e desenvolvido em parceria com os Institutos Politécnicos de Portalegre e Santarém, e financiado pelo Programa Operacional Regional do Alentejo – Alentejo 2020. Como se posiciona o Equimais e a quem pretende chegar?

 

Este projeto tem como objetivo a transferência do conhecimento na área das biotecnologias da reprodução de equinos e diagnóstico da doença articular, para melhorar a produtividade e qualidade dos animais produzidos na fileira da produção de equinos no Alentejo. Os destinatários são todos os intervenientes da fileira, desde o proprietário/criador ao tratador e ao equitador, envolvendo os vários técnicos de produção e saúde animal: zootécnicos, técnicos de equinicultura, enfermeiros e médicos veterinários

Quantas ações estão previstas ainda este ano?

 

O projeto teve início em 2020 e aproxima-se do seu termo, que terá lugar no próximo mês de junho. Foram já realizados vários workshops, seminários e demonstrações práticas inseridas nas diferentes tarefas do projeto. Até ao seu termo estão ainda previstos um workshop sobre avaliação do sémen, a realizar no mês de março; um workshop sobre a transferência da imunidade passiva em poldros, a realizar em meados de maio; e um workshop sobre congelação do sémen, a realizar no final de maio/início de junho.

Como caracteriza a área dos equinos ao longo dos últimos anos? Não só do ponto de vista da evolução médica, mas também da procura da classe médico-veterinária por esta área?

 

A última década foi palco de um sucesso ímpar para o desporto equestre nacional, com particular ênfase para o cavalo Lusitano, sobretudo desde a participação do binómio Gonçalo Carvalho/Rubi no Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Desde então, o número de cavaleiros e cavalos a obter excelentes prestações a nível internacional tem sido crescente, o que contribuiu para o aumento do prestígio da raça, assim como do seu potencial desportivo. A par desta realidade, têm sido também relevantes as participações e resultados obtidos noutras modalidades, como a equitação de trabalho, os saltos de obstáculos ou a resistência equestre. Por tudo isto, é visível um maior investimento dos criadores e também uma maior aposta dos técnicos envolvidos, designadamente da classe médica veterinária, na sua formação e na oferta de serviços diferenciados e de maior qualidade.

“É visível um maior investimento dos criadores e também uma maior aposta dos técnicos envolvidos, designadamente da classe médica veterinária, na sua formação e na oferta de serviços diferenciados e de maior qualidade”

 

O que anda a ser desenvolvido na área dos equinos em Portugal?

Atualmente, na área dos equinos em Portugal estão disponíveis serviços médico-veterinários de elevado nível técnico e tecnológico em diversas áreas, das quais se podem destacar as tecnologias reprodutivas e o diagnóstico e tratamento de patologias locomotoras, mas também a área da reabilitação ou do diagnóstico genético/genómico. O progresso tecnológico nesta área, como em todas as outras áreas da medicina veterinária, tem sofrido uma evolução muito rápida, que cada vez mais está ao dispor dos médicos veterinários e dos seus clientes.

O último workshop realizado pelo Equimais destacou a “Avaliação Morfológica e Locomotora em Cavalos de Desporto”. Qual a importância da avaliação do movimento na criação e utilização do cavalo de desporto?

Assumindo que o grande mercado dos equinos reside na sua utilização desportiva, é fundamental que os criadores possam garantir a maior qualidade possível dos seus produtos visando esta utilização. Paralelamente, o desporto equestre tem vindo a ser cada vez mais escrutinado pela sociedade, no sentido de garantir a salvaguarda do bem-estar animal na prática desportiva. Assim, a avaliação do movimento é crítica para o criador, no âmbito da seleção de reprodutores tendo em vista a performance desportiva; mas é também fundamental para monitorizar os animais durante o treino, para permitir o conhecimento da resposta dos equinos ao mesmo e da sua evolução desportiva, a deteção precoce de problemas locomotores, evitando o aparecimento de lesões mais graves que comprometam a continuidade da vida desportiva e salvaguardando, simultaneamente, a segurança dos atletas durante o treino e a competição. É também uma ferramenta importante para acompanhar a recuperação de lesões e o ajuste dos tratamentos aplicados à evolução do paciente.

Que tecnologias têm vindo a ser desenvolvidas neste sentido?

As tecnologias disponíveis assentam, fundamentalmente, na utilização de sensores (acelerómetros, giroscópios ou sensores de inércia, IMU) e em softwares específicos que conseguem traduzir os sinais detetados em variáveis de interesse, tais como graus de assimetria, comprimento da passada, etc. Recentemente, têm vindo a ser desenvolvidas soluções de Inteligência Artificial, que permitem a análise do movimento do cavalo sem a utilização de sensores ou marcadores e utilizando uma aplicação instalada num smartphone. Os dispositivos, interfaces e outputs adquirem maior portabilidade e facilidade de utilização a um ritmo alucinante. No workshop realizado, e graças à excelente organização da empresa Al Equine, os participantes tiveram a oportunidade de assistir a demonstrações práticas de alguns destes sistemas. É quase certo que o futuro da medicina veterinária equina vai, cada vez mais, recorrer a estas tecnologias para melhorar o rendimento desportivo e a saúde locomotora dos cavalos.

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