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Animais de Companhia

Cancro de mama e linfoma não-Hodgkin: dois casos práticos em que os animais podem ser sentinelas

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No One Cancer – 1º Simpósio Português de Oncologia Comparada falou-se de como os animais podem funcionar como sentinelas para as doenças oncológicas em humanos. Kátia Pinello mostrou no encontro dois exemplos – com investigações realizadas no âmbito do cancro de mama e do linfoma não-Hodgkin – que mostram como a doença oncológica afeta de forma semelhante os elementos das duas espécies.

E se, ao estudarmos as doenças oncológicas nos animais, nomeadamente nos de companhia, pudermos descobrir mais sobre essas mesmas neoplasias nos humanos?

 

O princípio One Health tenta responder a esta e outras questões com a interligação entre a saúde animal, a saúde humana e a saúde ambiental e foi o foco do ONE CANCER – 1º Simpósio Português de Oncologia Comparada, que decorreu no passado dia 28 de junho na Universidade Lusófona.

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No encontro, Kátia Pinello, investigadora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e coordenadora da Vet-OncoNet (Veterinary Oncology Network), deu exemplos de como os dados recolhidos pelo projeto iniciado em 2019 têm servido de base a trabalhos realizados no âmbito da oncologia comparada no sentido de perceber como os animais podem ser sentinelas para as doenças, nomeadamente oncológicas, que afetam os humanos. Afinal, lembrou a investigadora, “todos os animais podem ser sentinelas, mas só se prestarmos atenção ao que está a acontecer e é isso que Vet-OncoNet está a fazer” com a recolha e análise de dados encaminhados pelos laboratórios parceiros, clínicas e hospitais sobre os diagnósticos de doença oncológica em animais de companhia.

 

Mas, reforçou, além de olhar para o que está a acontecer com os animais de companhia ao nível das doenças oncológicas, “também queremos que [a Vet-OncoNet] seja uma ferramenta para estudos sobre o cancro nos humanos” que, no futuro, possa repercutir-se em melhores medidas de prevenção para ambos os mundos, animal e humano.

“Todos os animais podem ser sentinelas, mas só se prestarmos atenção ao que está a acontecer e é isso que Vet-OncoNet está a fazer” – Kátia Pinello, investigadora do ICBAS e coordenadora da Vet-OncoNet

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Um exemplo de estudos comparativos que é possível realizar quando se tem acesso a dados estruturados e trabalhados – como os do Registo Oncológico Animal da Vet-OncoNet e o Registo Oncológico Nacional da medicina humana – foi o projeto de doutoramento de Kátia Pinello – “Incidence, characteristics and geographical distributions of canine and human non-Hodgkin’s lymphoma in the Porto region” – publicado na revista The Veterinary Journal em março de 2019.

“Neste projeto de doutoramento com linfomas não-Hodgkin vimos que a distribuição geográfica já padronizada era muito similar entre humanos e cães” na área do Grande Porto, o que levanta a hipótese, para outras futuras investigações sobre o papel dos fatores ambientais no desenvolvimento desta doença tanto em humanos como em animais.

 

Aliás, essa hipótese também foi aflorada no projeto de doutoramento da investigadora já que, junto com o mapeamento dos linfomas não-Hodgkin “também fizemos um questionário epidemiológico sobre os fatores de risco – nomeadamente o índice de exposição ao tabaco secundário – e verificamos que os cães que tinham linfoma estavam expostos a um índice de tabaco [secundário] dos coabitantes superior aos cães que não tinham linfoma, aumentando a evidência da importância da exposição ambiental” a este carcinogéneo para o desenvolvimento da doença oncológica, mesmo em exposição secundária e terciária,  à semelhança do que já foi demonstrado em crianças. “Nada disso é causa [para o desenvolvimento da doença], mas aumenta a evidência das nossas hipóteses”, acrescentou a investigadora.

Outro exemplo mais recente de um estudo em oncologia comparativa, já usando dados da Vet-OncoNet, é o trabalho de Paulo Carvalho – “Comparative epidemiological study of breast cancer in humans and canine mammary tumors: insights from Portugal” – no âmbito do mestrado realizado no ICBAS, que foi publicado na Frontiers in Veterinary Science em 2023,

Apesar de o cancro de mama ser uma doença com muitas premissas que poderão apontar para algumas diferenças de análise comparativamente com outras doenças oncológicas – são cancros com um forte pendor hormonal e não tanto ambiental e além disso há o impacto da castração das cadelas – o certo é que a investigação avançou e, nas palavras de Kátia Pinello, teve “resultados muito interessantes”.

Analisando os dados das tabelas do distrito do Porto do Registo Oncológico Nacional com as da Vet-OncoNet apurou-se que em relação à idade de diagnóstico do cancro de mama “a distribuição é muito similar” em mulheres e em cadelas, com a doença a surgir maioritariamente na meia-idade em ambas as espécies e, como seria de esperar, a patologia é igualmente muitíssimo mais frequente no sexo feminino do que no masculino em ambas as espécies.

Relativamente à distribuição geográfica, no caso das mulheres a incidência da doença é mais elevada nas zonas metropolitanas – caso do Porto e Matosinhos – e o risco de desenvolver a doença vai diminuindo quando se começa a caminhar para o interior. Exatamente como acontece nos diagnósticos de cancro de mama nas cadelas, também com maiores taxas de incidência nas zonas urbana. Tirando o caso de Marco de Canavezes, considerada uma região outlier, mas que Kátia Pinello explica com o facto de ser a zona onde Paulo Carvalho trabalha e, daí, conseguir recolher mais dados.

“Neste projeto de doutoramento com linfomas não-Hodgkin vimos que a distribuição geográfica já padronizada era muito similar entre humanos e cães” na área do Grande Porto, o que levanta a hipótese, para outras futuras investigações sobre o papel dos fatores ambientais no desenvolvimento desta doença tanto em humanos como em animais. – Kátia Pinello, investigadora do ICBAS e coordenadora da Vet-OncoNet

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Ainda assim, a investigação realizada, reconheceu Kátia Pinello, parece apontar uma “grande evidência do papel dos fatores de risco ambientais”, mesmo numa patologia de forte pendor hormonal, como é o cancro de mama.

E como ambas as espécies compartilham cada vez mais ambientes comuns, “estas descobertas apoiam a hipótese de que os cães podem servir como sentinelas valiosas para a epidemiologia oncológica humana”, lê-se nas conclusões do estudo.

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