Um estudo piloto realizado pelo Department of Medical Oncology at the University Hospital Farhat Hached em Sousse, na Tunísia, em parceria com um centro de treino de cães na mesma cidade, analisou a sensibilidade e a especificidade da deteção de cancro da mama através da pele pelo olfato canino em mulheres da Tunísia com esta doença.
O cancro da mama na Tunísia é frequentemente diagnosticado numa fase tardia, com um longo atraso no tempo para a consulta e consequente diagnóstico. É o cancro mais frequente entre as mulheres tunisianas, representando 34,5% dos cancros do sexo feminino, segundo a investigação.
De acordo com o estudo, o sistema olfativo canino parece ser não só capaz de detetar certas substâncias numa proporção muito pequena, como é capaz de distinguir entre misturas químicas complexas encontradas em fluidos corporais humanos (por exemplo: urina, respiração e suor).
200 mulheres foram incluídas neste estudo: 100 pacientes com cancro de mama (especialmente avançado) e 100 voluntárias saudáveis.
As participantes receberam um kit que continha 1 sabonete sem perfume, um pacote de 5 compressas estéreis e 1 frasco plástico estéril.
Foi solicitado a cada participante que tomasse banho com o sabonete fornecido e, em seguida, aplicasse uma compressa em contacto com a pele da mama. As mulheres sem cancro da mama posicionaram uma compressa em ambas as mamas, enquanto as pacientes com cancro colocaram uma compressa na mama afetada. A compressa foi mantida no local durante toda a noite. Para as pacientes com cancro, este procedimento foi realizado na noite anterior à cirurgia ou na noite anterior a uma sessão de quimioterapia.
As compressas, contendo secreção cutânea, uma vez retiradas na manhã seguinte, foram colocadas no frasco de plástico e colocadas em envelopes especiais para impedir que a exposição solar pudesse alterar a amostra. Após entrega em laboratório, as amostras são mantidas em armazenamento durante 1 a 30 dias.
O treino durou cinco meses, com um intervalo de 2 meses e nunca existiu contacto entre o cão e as participantes no estudo. A partir das respostas dadas pelo cão, foram calculados quatro critérios: sensibilidade, especificidade, Valor Preditivo Positivo (VPP) e Valor Preditivo Negativo (VPN).
O cão treinado conseguiu detetar e distinguir as amostras de secreção cutânea de pacientes com cancro da mama do grupo, com uma sensibilidade de 84% e uma especificidade de 81%. Já o VPP registou-se nos 81,55% e o VPN foi de 83,51%.
O estudo identificou alguns fatores que influenciaram a sensibilidade e a especificidade do teste, como a idade, o historial de diabetes, hipertensão, tumores benignos, local da recolha da amostra e a realização de quimioterapia.
A concordância geral foi calculada entre os resultados dos exames transcutâneos e os resultados da mamografia, encontrando-se uma concordância entre os dois resultados em 165 mulheres (82,5%) e discordância em 35 mulheres (17,5%). Os números incluem 84 verdadeiros positivos, indicando a deteção correta de amostras de cancro e 16 falsos negativos, indicando a perda de deteção da amostra cancerígena.
Em suma, a análise concluiu que o cão treinado conseguiu detetar e distinguir, com sucesso, as amostras de secreção cutânea de pacientes com cancro da mama. A investigação não forneceu também suporte para qualquer diferença no desempenho do cão em relação ao tamanho do tumor, tendo mostrado que, em estado inicial, emitem secreções comparáveis a tumores avançados.
De acordo com o estudo, a análise efetuada “abre novos caminhos no desenvolvimento de uma ferramenta fiável de diagnóstico de cancro da mama, que integra a capacidade olfativa do cão em detetar a doença através da pele. Poderia ser um pré-teste para selecionar pacientes elegíveis para uma mamografia de rastreio, especialmente em países com baixos rendimentos, onde não exista um programa nacional de rastreio à mama”.
O estudo decorreu de outubro de 2021 a novembro de 2022.