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Animais de Companhia

APMVEAC cria grupo de interesse especial em medicina de reprodução

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No mais recente congresso da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC) foi anunciada a criação de mais um grupo de interesse especial, desta feita dedicado à medicina de reprodução de animais de companhia. Emir Chaher, presidente da Associação, e Paulo Borges, coordenador do grupo, falaram em exclusivo à VETERINÁRIA ATUAL sobre os objetivos do GIRAC.

“Foi criado o Grupo de Interesse Especial em Reprodução de Animais de Companhia”, o anúncio foi feito por Emir Chaher à margem do XXVII Congresso APMVEAC 2024, que decorreu em Lisboa a 1 e 2 de junho, em declarações à VETERINÁRIA ATUAL.

 

O presidente da APMVEAC avançou a notícia durante o congresso anual da associação “para que os colegas que participam no encontro e têm interesse nesta área possam colaborar e fazer parte do Grupo”, que recebeu o acrónimo de GIRAC.

Tal como acontece com todos os Grupos de Interesse Especial da Associação, também este “dependerá dos membros que trazem a dinâmica. A APMVEAC dá a estrutura e a organização, mas cada um dos Grupos tem independência para ter iniciativas próprias de formação, de criação de guidelines ou de pareceres técnicos para toda a comunidade veterinária”, explicou o responsável.

 

“Nos últimos anos, tem havido muitos avanços e muitos desenvolvimentos nesta temática e nem todos os colegas tiveram oportunidade de ter contacto com esses avanços. Este grupo será uma forma de trazer para os clínicos de animais de companhia novas ferramentas e novos conhecimentos para melhor servir os nossos clientes” – Emir Chaher, presidente APMVEAC

Sobre as razões que levaram à criação de mais este grupo de interesse, no total estão já criados 14, Emir Chaher lembrou que “todos os médicos veterinários de animais de companhia que façam prática clínica têm contacto com a área da reprodução ou a área de controlo reprodutivo, mas, nos últimos anos, tem havido muitos desenvolvimentos nesta temática e nem todos os colegas tiveram oportunidade de ter contacto com esses avanços. Este grupo será uma forma de trazer para os clínicos de animais de companhia novas ferramentas e novos conhecimentos para melhor servir os nossos clientes”.

 

A VETERINÁRIA ATUAL também conversou com Paulo Borges, que irá coordenar o GIRAC e cujo curriculum apresenta uma larga experiência nesta área do saber veterinário: é especialista europeu graduado pelo Colégio Europeu de Reprodução Animal, tem uma longa ligação ao grupo de interesse congénere da Associação Francesa de Animais de Companhia (AFVAC), o GERES – Groupe d’Etudes en Reproduction, Elevage, Sélection, e é atualmente vice-presidente do Grupo Europeu de Reprodução (EVSSAR). O médico veterinário contou que foi durante o congresso da WSAVA, que decorreu em Lisboa no ano passado, que aconteceu uma conversa com Emir Chaher na qual ambos reconheceram “a importância de ter uma presença e um desenvolvimento da disciplina em Portugal”.

Direitos reservados | Paulo Borges (à esquerda) e Emir Chaher (à direita) com a comissão organizadora da APMVEAC

Isto porque, apesar de haver alguma oferta formativa em Portugal nesta área de interesse da medicina veterinária, o especialista europeu reconheceu que “ainda há pouca e, por isso, decidimos criar este Grupo de Interesse Especial em Medicina da Reprodução, em primeiro lugar, para unir os colegas que querem trabalhar em reprodução e, depois, para tentar dar apoio a todos os outros que precisam de algum auxílio em consultas relacionadas com esta área”.

 

Neste momento de arranque de funções, a prioridade é dar a conhecer o grupo aos membros da APMVEAC, para que estes se juntem ao GIRAC, sendo que também já estão em andamento contactos para que profissionais com interesse na medicina de reprodução que estão no meio académico se possam juntar à equipa.

Evolução constante exige mais formação

Atualmente, as matérias relacionadas com a medicina de reprodução ocupam muito do tempo dos médicos veterinários na prática clínica, por albergarem “uma grande percentagem dos casos clínicos da rotina diária”, admitiu Paulo Borges. Desde as cirurgias eletivas, passando pelos tumores mamários até  à piómetra, são cada vez mais as situações acompanhadas nos consultórios veterinários e são também cada vez mais notórias as evoluções científicas nesta temática. Nessa medida, sublinhou o especialista europeu, “é preciso atualizarmo-nos em medicina veterinária com muita frequência para estarmos a par das mais recentes novidades”.

Paulo Borges destacou sobretudo a evolução em duas matérias em particular. A reprodução assistida, com enfoque nos criadores “que estão cada vez mais exigentes”, e a neonatologia “que teve um boom nos últimos 10 anos”. Segundo explica o médico veterinário, “há um grande foco no início de vida do animal, pois sabemos que esses momentos vão condicionar, no futuro, a qualidade de vida do mesmo”. Daí a aposta crescente na medicina profilática, no acompanhamento genético, na gestão das curvas de crescimento, na aposta dos estímulos durante o período de socialização, apoiando sempre o desenvolvimento emocional e ambiental que rodeia o animal de companhia, “para que este possa crescer e tornar-se um adulto saudável”, acrescentou.

Estas preocupações com a saúde do animal de companhia não são exclusivas dos criadores que procuram o melhor para os exemplares das raças que criam. Também são comuns aos tutores, que procuram cada vez mais aconselhamento para melhorar os cuidados neste momento da vida dos animais de companhia, reconheceu o coordenador do GIRAC.

Melhorar a comunicação entre os criadores e os médicos veterinários

Na conversa com a VETERINÁRIA ATUAL, Paulo Borges elegeu como um dos objetivos do GIRAC melhorar a comunicação entre os médicos veterinários e os criadores. O coordenador do grupo de interesse constata que “existe um fosso entre médicos veterinários e criadores”, que tem na sua essência uma falta de capacidade de comunicação, com culpados de parte a parte. “É, sem dúvida, necessário diminuir esse fosso”, pensando sobretudo na otimização do bem-estar e desenvolvimento saudável dos animais de companhia.

“Decidimos criar este Grupo de Interesse Especial em Medicina da Reprodução, em primeiro lugar, para unir os colegas que querem trabalhar em reprodução” – Paulo Borges, coordenador do GIRAC

Para encurtar essa distância, o Centro de Reprodução Animal, do qual Paulo Borges é fundador, já realizou no passado formações para criadores – o ACADOC, Atestado de Conhecimentos em Animais Domésticos na opção Cães, e o ACADOF, Atestado de Conhecimentos em Animais Domésticos na opção Felinos – que incluíram matérias como a nutrição, a reprodução, a profilaxia médica, a legislação, o comportamento e a genética. “Espero que o GIRAC possa continuar o trabalho que já foi iniciado junto dos criadores e possa expandi-lo ainda mais”, afirmou o especialista europeu.

Sobre as iniciativas direcionadas aos profissionais de medicina veterinária, irão ser delineadas formações específicas sobre os temas mais sensíveis na medicina de reprodução – nomeadamente as novas guidelines europeias de contraceção cuja publicação estará para breve – e o GIRAC também espera ser um veículo para que os médicos veterinários possam publicar casos clínicos, artigos científicos e ser uma estrutura de debate que ajude a delinear fluxogramas que possam auxiliar na decisão clínica.

 

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