Um hospital localizado no interior do País tem desafios e especificidades muito próprios. Com um passado enriquecedor, o hospital Animalvet atua sempre com a perspetiva de evolução e melhoria da resposta aos tutores e aos seus animais. Inovar, diferenciar e investir têm sido premissas seguidas pela direção clínica nesta história de quase três décadas.
De consultório, inaugurado a 1993, passou a clínica com novas instalações, em 1997 e a 4 de outubro de 2016 transitou para hospital. O Animalvet conta com uma longa história na prestação de serviços a animais de companhia e foi evoluindo à medida das solicitações dos tutores e a par dos avanços da medicina de animais de companhia. “Sentimos essa necessidade e nunca nos acomodámos, quisemos evoluir, dar o melhor aos nossos pacientes com todas as dificuldades e desafios que implicam manter um hospital veterinário numa cidade do interior”, começa por explicar Ana Cristina Correia, médica veterinária e diretora clínica. É simultaneamente uma das fundadoras da empresa Animalvet Assistência Veterinária Lda., em conjunto com o colega José Manuel Marques Nunes.
Localizado na Guarda, o hospital passou a ter uma diferenciação nos serviços prestados e foi sendo possível abraçar casos mais complicados. “Começámos a ser procurados pelos tutores que procuravam uma segunda opinião”, revela a responsável. Além do serviço de urgência, o Animalvet presta serviço ao domicílio, aposta na medicina preventiva, medicina interna e cirurgia, clínica de exóticos e garante que os pacientes hospitalizados estão em permanente vigilância por médicos e enfermeiros veterinários. Desde 2018 que o hospital dispõe também de um centro de fisioterapia e “a medicina de reabilitação tornou-se num dos serviços mais diferenciadores na região da Beira Interior”.
Com uma área total de 450 m2, o hospital inclui zonas distintas para gatos com sala de espera, consultório e internamento. Também a área para cão conta com uma receção e sala de espera com dois consultórios e sala de nutrição. Nas áreas comuns, além da sala de tratamento e bloco cirúrgico, a unidade dispõe de recobro e espaços para a realização de exames ecográficos e endoscopia, sala de raio-X, laboratório, sala de apoio ao pessoal com vestiários e copa. O piso -1 é dedicado ao internamento de cães e de doenças infectocontagiosas. No ano de 2012, a área hospitalar aumentou substancialmente e foram adquiridos novos e melhores equipamentos.
Com uma equipa composta por sete médicos veterinários, sete enfermeiros veterinários e um auxiliar e o facto de o hospital estar localizado fora dos grandes centros urbanos, torna mais difícil a concretização de consultas de especialidade que já é prática comum nos CAMV’s dos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto. “Estamos a 300 quilómetros de Lisboa e a 200 do Porto. Não é fácil um colega especialista deslocar-se para ver dois ou três animais. Por essa razão, a equipa tem de desenvolver competências abrangentes que colmatem estas dificuldades e, por isso, desde há vários anos, temos investido na formação. Quer a nível individual, quer ao nível da empresa, as pós-graduações e formações contínuas de medicina veterinária e enfermagem são uma constante no nosso hospital”, salienta Ana Cristina Correia. Além da direção clínica, a médica veterinária dedica-se à gestão hospitalar e à ecografia. “Temos um colega exclusivamente na cirurgia e os restantes colegas dedicam-se às restantes áreas da medicina de animais de companhia”, sublinha.
As enfermeiras veterinárias do hospital desempenham um papel fulcral na vida deste hospital, desde o primeiro contacto com os tutores até à alta dos pacientes, intervindo em todos os passos, explica Ana Cristina Correia. “São elas que iniciam todo o processo de admissão dos animais, fazem a triagem, recolhem a anamnese e acompanham as médicas veterinárias em todos os procedimentos médico-cirúrgicos, realizam exames complementares de diagnóstico, processam análises. Em suma, têm inúmeras tarefas imprescindíveis nos protocolos hospitalares.”
Medicina da reabilitação em ascensão
As instalações do centro de fisioterapia – FisioVet – ocupam 100 m2 “e permitem um tratamento completo, com os instrumentos mais importantes para uma terapêutica eficaz como em qualquer outro ‘centro de referência’ da área de fisioterapia”, salienta a médica veterinária mais dedicada a esta área, Ana Lúcia Henriques. “Realizamos técnicas de reabilitação pós-cirúrgica de casos ortopédicos e neurológicos, em lesões músculo-esqueléticas e articulares, em pacientes geriátricos e, também, em alguns pacientes hospitalizados sempre que necessário.” Também é frequente o acompanhamento de casos clínicos referenciados por colegas. Não só nesta como em outras valências, os CAMV da região sabem que o Animalvet é um hospital acessível 24 horas por dia, 365 dias por ano. “Estamos sempre disponíveis para receber e apoiar os seus clientes no que entenderem e posteriormente reencaminhá-los de volta aos seus médicos veterinários de sempre”, salienta Ana Cristina Correia.
A medicina de reabilitação é uma área que tem vindo a crescer, embora mais recentemente. O objetivo passa por prevenir lesões nos diversos sistemas – ortopédico e neurológico – aumentando a possibilidade de cura e a qualidade de vida e bem-estar dos animais. “A fisioterapia tornou-se num complemento relevante no acompanhamento / tratamento de lesões ortopédicas, oncológicas e neurológicas na clínica médica e também em pacientes geriátricos”, salienta Ana Lúcia Henriques. Além de métodos e modalidades mais “simples”, mas não menos importantes, como a eletromioestimulação, a termoterapia por calor e a crioterapia, as massagens, os alongamentos e os exercícios de cinesoterapia passivos, foi opção da direção clínica evoluir e investir na formação especializada, recorrendo a formação internacional, sendo que um membro da equipa realiza a especialidade de Fisioterapia e Reabilitação inerente à Universidade de Tennessee, CCRP (Certified Canine Rehabilitation Practitioner). “No decorrer dessa aposta, foi feito um investimento em aparelhos específicos para obter maior sucesso na fisioterapia e reabilitação ortopédica e neurológica. Passámos assim a dispor também de passadeira terrestre, de analisador de estação, de circuitos de reabilitação e de laser terapêutico”, explica a médica veterinária. Destaque ainda para a passadeira aquática que permite providenciar serviços de hidroterapia.
  “A fisioterapia tornou-se num complemento relevante no acompanhamento / tratamento de lesões ortopédicas, oncológicas e neurológicas na clínica médica e também em pacientes geriátricos” – Ana Lúcia Henriques, médica veterinária
Estar próximo dos tutores
Através da divulgação nas redes sociais, é possível estar mais próximo dos clientes divulgando o trabalho que é desenvolvido dia-a-dia, informando sobre a prevenção de determinadas patologias e interagindo com os tutores. “Temos consciência de que muitas vezes descuramos essa área por falta de tempo ou conhecimento, mas acreditamos que tem e terá um papel fundamental no futuro”, defende Ana Cristina Correia. Durante a pandemia, estes meios têm levado a que os clientes se sintam mais apoiados. Estes meios “permitiram que lhes disséssemos que estávamos cá para eles e que continuamos a ter todas as condições para continuar a tratar dos seus animais em segurança”, reforça.
Para Maria João Beirão, um dos desafios atuais passa pela presença cada vez mais constante nas redes sociais, quer como fonte de aprendizagem e formação, quer como “montra” do portefólio e apresentação dos CAMV aos tutores e a quem procura o hospital. “O desafio passa por saber gerir e inovar estas redes sociais de forma a tirarmos o maior partido delas enquanto veículo de informação e ligação”, denota.
Por outro lado, o serviço de consulta ao domicílio na Animalvet surgiu há mais de 18 anos com o objetivo de aproximar os serviços médico-veterinários de pequenos animais a toda a população. “Tendo em conta que nos encontramos numa zona rural, onde há uma grande percentagem de cães de grande porte e em que se torna um pouco mais difícil a sua deslocação às nossas instalações, optamos por deslocar os nossos serviços até à residência dos nossos pacientes para vacinação, consultas e acompanhamento de animais quando o quadro clínico nos permite chegar a um diagnóstico sem recurso a meios de diagnóstico mais específicos (raio-X, ecografia, entre outros)”, explica a médica veterinária. Sempre que é necessária uma deslocação às instalações, o hospital dispõe de duas ambulâncias que permitem o seu transporte de forma segura. Também tem havido um aumento do pedido de domicílios por parte da população mais idosa cuja deslocação às instalações se tornou mais difícil com o passar dos anos. “Muitas vezes, somos contactados pelos filhos e netos que vivem longe (inclusive no estrangeiro) a solicitar a nossa ajuda a esse nível”, acrescenta a médica veterinária.
Ainda que esta valência tivesse sido criada quando a Animalvet funcionava como clínica veterinária, a opção foi a de a manter enquanto hospital porque a equipa tem consciência da mais-valia que representa para “a constante melhoria dos nossos serviços na saúde e bem-estar dos nossos animais”. Esta decisão tem permitido uma relação muito mais próxima com os clientes. “É o serviço que mais nos aproxima das famílias dos nossos clientes e até dos nossos pacientes. É muito gratificante quando, por exemplo, entramos no jardim do Farrusco e do Valentim [dois cães adultos da raça Serra da Estrela] e somos recebidas em euforia com muitos pulos e lambidelas e, logo em seguida, surgem os seus tutores que também nos acolhem com um forte abraço e um enorme sorriso no rosto”, recorda Maria João Beirão. Durante a pandemia, aos serviços ao domicílio, acrescentou-se a entrega de alimentação e de medicação, sempre que solicitado.
Mesmo sendo uma estrutura maior enquanto hospital, Ana Cristina Correia confessa que um dos maiores objetivos passa por “manter relações estreitas com os tutores pois só criando esse tipo de ligações é que o trabalho faz sentido”. O facto de o percurso ter iniciado como uma pequena clínica veterinária permitiu estabelecer uma relação de confiança – e até de amizade – com muitos clientes. “Quanto aos novos clientes, fazemos questão de os recebermos também com o mesmo carinho e empatia, o que faz com que a relação seja construída ao longo do tempo”, assegura Maria João Beirão. Para concretizar este desafio, o hospital tem um protocolo que pressupõe o seguimento rigoroso dos animais doentes que se encontram a fazer o seu tratamento em casa, via telefone ou e-mail, entre consultas de controlo e seguimento. São enviados também recordatórios via SMS a lembrar que os animais devem vir para consultas de seguimento, vacinas, desparasitações e outras rotinas. “O facto de o Animalvet estar localizado numa cidade do interior do País com baixa densidade populacional e de uma grande percentagem dos membros da nossa equipa clínica terem nascido e crescido na Guarda, tem criado um elo entre a nossa equipa e a nossa cidade”, salienta.
Os ajustes necessários com a pandemia
Na primeira fase de confinamento todos os procedimentos médicos e cirúrgicos não urgentes foram cancelados e até o centro FisioVet foi desativado. “O nosso dia a dia era passado entre consultas de animais doentes, urgências e apoio aos internamentos”, refere Maria João Beirão. Quanto à casuística clínica, não se notou uma alteração significativa. “Apenas sentimos que os clientes, por vezes, demoravam um pouco mais até nos contactarem e virem à consulta com o seu animal doente, devido ao grande receio de contágio por covid-19 verificado nos primeiros meses desta pandemia. Felizmente, ao longo das primeiras semanas, conseguimos transmitir um ambiente de segurança quando os nossos clientes nos contactavam e se dirigiam às nossas instalações, o que lhes permitiu continuarem a procurar e usufruir atempadamente dos nossos serviços e cuidados de saúde para os seus animais”, diz.
A diretora clínica Ana Cristina Correia acrescenta que a rotina teve de ser adaptada com a divisão da equipa em turnos de trabalho de doze horas, semana sim, semana não, o que acabou por ser “muito desgastante”. Foram instituídos novos protocolos hospitalares de atendimento ao público, consultas, visitas a animais hospitalizados, vendas de alimentos, entre outros, para que todas as medidas emanadas pela Direção Geral da Saúde fossem cumpridas. “Para já, ainda mantemos a maior parte das medidas, mas não voltámos a ter turnos de 12 horas. Neste período, tentamos desfasar ao máximo as horas de entrada e saída de todos os membros da equipa”, explica a responsável.
Após tantos anos, as histórias mais curiosas podem surgir, como a do Ruby, um cão de pequeno porte que desde cachorro adorava comer as meias de vidro da sua tutora. “Depois de três cirurgias abdominais para remoção das meias que lhe causavam obstrução, a tutora resolveu deixar de usar meias de vidro”, conta a diretora clínica.
É com agrado que tem assistido “à evolução colossal da medicina veterinária nos últimos 30 anos”, tanto ao nível de equipamentos, como de evolução tecnológica e de avanços em procedimentos médicos. “A forma como são tratados os animais pelos tutores e como a sociedade em geral trata os animais evoluiu muito, o que fez com que a exigência dos tutores seja também cada vez maior, tornando-se num dos nossos maiores desafios”, explica Ana Cristina Correia. Para a médica veterinária Maria João Beirão é de destacar a abertura de um grande número de novos CAMV, muitos deles com a denominação de hospital, em que se adota um serviço cada vez mais especializado e diferenciado. “Temos também assistido ao evoluir do trabalho de muitos colegas freelancers em algumas áreas (ortopedia, ecografia / ecocardiografia, cirurgia laparoscópica, entre outras) o que ajuda na progressão positiva desta constante melhoria e diferenciação de serviços veterinários do CAMV.” Relativamente ao maior interesse dos tutores, chama a atenção para os riscos de algumas pesquisas aleatórias e prévias ao Google e da exigência de uma resposta rápida e um diagnóstico clínico assertivo, independentemente do tipo ou gravidade do quadro clínico apresentado pelo seu animal.
“Temos também assistido ao evoluir do trabalho de muitos colegas freelancers em algumas áreas (ortopedia, ecografia / ecocardiografia, cirurgia laparoscópica, entre outras) o que ajuda na progressão positiva desta constante melhoria e diferenciação de serviços veterinários do CAMV” – Maria João Beirão, médica veterinária
Continuar a crescer enquanto estrutura e equipa clínica, mas também individualmente, é um dos estímulos diários. “Considero que a medicina veterinária irá evoluir no sentido de especializações nas diversas áreas clínicas, tendendo a desaparecer o chamado veterinário generalista. Sabemos que há sempre margem para melhorar, todos os anos fazemos investimentos em novos equipamentos e na formação da equipa”, explica Ana Cristina Correia. Em relação a projetos futuros, a diretora clínica prefere ser cautelosa e não planear a longo prazo considerando o ano que passou e as previsões económicas para os próximos tempos. “A nossa perspetiva é a de continuar a melhorar na esperança que a economia local e nacional não seja muito afetada, para que os nossos clientes possam continuar a tratar dos seus animais da melhor forma possível”, conclui.
“Sabemos que há sempre margem para melhorar, todos os anos fazemos investimentos em novos equipamentos e formação da equipa” – Ana Cristina Correia, diretora clínica
Consultório veterinário Animalvet dá apoio em Belmonte
Para colmatar a pouca oferta de serviços médico-veterinários em Belmonte, o hospital conta com o apoio do Consultório Veterinário Animalvet, inaugurado em 2007. “Desta forma, conseguimos levar até lá alguns serviços do nosso hospital. Desde a nossa abertura que fomos muito bem recebidos pela população e temos mantido uma estável e crescente carteira de clientes”, explica a médica veterinária Maria João Beirão. Relativamente ao horário, este consultório funciona durante a semana ao final da tarde com os serviços de consultas de clínica geral e consultas de vacinação sendo os animais que requerem hospitalização e cirurgias transportados pela equipa para as instalações do hospital. “Foi mais uma aposta ganha no objetivo de nos aproximarmos de quem mais de nós necessita melhorando a qualidade de vida, saúde e bem-estar dos nossos pacientes”, sublinha.
*Artigo publicado originalmente na edição n.º 150 da revista VETERINÁRIA ATUAL, de junho de 2021.