O diagnóstico de uma infeção por parasitas com sintomatologia clínica evidente, permitirá o estabelecimento de medidas destinadas à erradicação ou ao controlo do processo mórbido. Contudo, as infeções leves devido a parasitas, com pouca ou nenhuma sintomatologia clínica, produzem danos económicos em explorações que muitas vezes podem passar despercebidas ao produtor e ao médico veterinário. Por tudo isto, o diagnóstico tem uma importância dupla: uma a curto prazo ao melhorar o estado sanitário dos animais afetados e outra a longo prazo ao aumentar os rendimentos produtivos, melhorar o bem-estar animal e obter produtos de alta qualidade para consumo humano. Ou seja, um avanço na gestão pecuária e no balanço comercial.
No distrito de Évora detetámos em quatro explorações de ovinos, falhas no controlo antiparasitário: uma das explorações com 2100 ovinos; outra com 2600 ovinos; outra com 250 ovinos e outra com 50 ovinos, todas têm em comum uma carga animal/ha alta (encabeçamento), possuem pivot para pastoreio de verão e são feitas desparasitações de seis em seis meses.
Ao fazermos o diagnóstico coprológico (observação e contagem dos ovos – OPG) e posterior coprocultura, detetámos que a patologia parasitária de maior significado correspondia às Tricostrongiloses, com maior abundância o género Trichostrongilus e com menor o género Ostertagia. E apesar das desparasitações efetuadas de seis em seis meses, a magnitude das parasitoses rapidamente se tornava severa, tornando necessária uma nova aplicação de antiparasitários.
As falhas terapêuticas têm diferentes causas:
- Diagnóstico incorreto;
- Frequência e épocas de tratamento;
- Utilização inadequada dos medicamentos;
- O maneio do pastoreio;
- A subdosificação;
- Abuso de um fármaco da mesma família e a resistência aos anti-helmínticos.
Esta resistência aos antiparasitários tem dois indicadores essenciais:
- Coprologia positiva, logo a seguir ao tratamento;
- Fraca resposta ao tratamento dos animais infetados continuando com sintomatologia de parasitose.
O efeito das infeções produzidas por estes parasitas são, além de uma redução direta na produção de leite, atrasos de crescimento, redução do apetite, alterações reprodutivas e, em estados extremos, a morte!
Como medidas e estratégias adequadas tivemos em consideração alguns fatores de boas práticas de maneio e pastoreio:
- Diminuir o número de animais por rebanho e parcelas, isto porque a carga parasitária depende do tamanho do efetivo, quanto maior o efetivo mais ovos são excretados e mais larvas ficam disponíveis para ingestão dos animais;
- Fazer rotação de pastoreio e descanso das pastagens em cada parcela de dois a três meses sem animais, uma vez que as larvas infetantes são muito resistentes sobretudo em épocas mais frias, as temperaturas elevadas estimulam os movimentos e dessa forma gastam mais rápido as energias que têm acumuladas e morrem. As larvas podem estar no pasto durante bastante tempo sob condições favoráveis de temperatura, estas gostam de humidade e não de luz solar direta e temperaturas altas, (períodos de maior risco no pastoreio: manhã – início – e final do dia, não sobem acima dos 2 cm de altura nos pastos;
- Outra estratégia é o pastoreio intercalar com outras espécies como bovinos, equinos ou até asininos, porque as espécies de parasitas que infetam os pequenos ruminantes são maioritariamente diferentes;
- Ajudar os produtores na escolha de forragens para maior concentração em taninos condensados;
- Monitorizar estas explorações com avaliações regulares de contagem de ovos no efetivo;
- Alterar a frequência de tratamentos para três vezes por ano, ou seja, de quatro em quatro meses;
- Alternar a família dos antiparasitários nas desparasitações consoante a época do ano;
- Adequar as dosificações dos medicamentos consoante a condição corporal (peso) dos animais nas diferentes estações do ano.
Agradecimentos
Agradecemos a amabilidade e disponibilidade da Exmª Srª Professora Doutora Ludovina Padre, docente na Universidade de Évora.
Referências bibliográficas
1- Revista albeitar, Problemas atuais dos pequenos ruminantes Publicação para Médicos Veterinários do Sector de Animais de Produção, N.º 4 Jul./Ago. 2011; Revista albeitar Endoparasitas, Publicação para Médicos Veterinários do Sector de Animais de Produção, N.º 3 Mai. /Jun. 2010; Revista Ovis Control de Las Endoparasitosis de Ganado Ovino y Caprino; Diagnóstico de Las Helmintiasis Por Medio Del Examen Coprológico, D. THIENPONT, F. ROCHETTE, O. F. J. VANPARIJS.
*José Miguel Leal da Costa, médico veterinário | Sónia Viegas, auxiliar licenciada em Ciências Veterinárias no departamento de Animais de Produção do Hospital Veterinário Muralha de Évora
**Caso clínico publicado na edição 191, de março, da VETERINÁRIA ATUAL