Com a aproximação do Natal e da passagem do ano aproximam-se também momentos de stresse para muitos animais de companhia. Tratando-se o Natal da tradicional reunião familiar, as casas irão encher-se naturalmente de pessoas. Mas as reações dos animais de estimação que vivem nestas casas “invadidas” poderá não ser a melhor. São vários os problemas que poderão decorrer durante esta época, e que podem mesmo manter-se como uma alteração comportamental após o fim da mesma. Perguntámos a Gonçalo da Graça Pereira, médico veterinário especialista europeu em Medicina Comportamental, o que as famílias podem fazer para minimizar o stresse dos seus animais de companhia.
Garantir um bom esconderijo
“O primeiro passo é garantir que o animal tem um local onde se possa esconder e sentir-se seguro”, explica Gonçalo da Graça Pereira, também diretor do Centro Para o Conhecimento Animal. “Este local deverá estar sempre disponível quando o animal se sente ameaçado, o que não significa fechá-lo numa divisão da casa”. No caso dos gatos, não se esqueça de garantir que nesta zona de segurança à prova de “invasores” (i.e. só entram apenas os animais e os tutores) há locais altos para onde possam subir. Desta forma conseguirão sentir-se mais protegidos.
“Além disso, neste local deverão estar disponíveis vários cobertores e mantas que permitam esconderem-se e conseguirem abafar um pouco os ruídos que os possam incomodar ou garantir a cortina invisível de segurança, que tanto gatos como cães muitas vezes desejam”, refere o médico veterinário docente de Comportamento na FMV-ULHT.
“Poderá deixar também uma peça de roupa sua, com o seu odor, para que o animal se sinta mais confortável pela sua presença indireta. Poderá deixar nesta divisão algumas guloseimas, ou algum “prato especial”, para que faça uma boa associação e reduza a tensão, mas não se admire se não comer”. Para Gonçalo da Graça Pereira, na maioria dos casos em situações de elevado stresse não haverá apetite disponível.
Cuidado com os alimentos tóxicos
Uma vez que falamos de comida é necessário um cuidado especial no que diz respeito a alimentos e produtos tóxicos que estão facilmente disponíveis nesta altura: chocolate e passas. “Algumas plantas sazonais natalícias poderão também ser tóxicas, por isso é necessário alguma atenção nos locais onde são colocadas”, refere o presidente da PsiAnimal, Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento e Bem-Estar Animal.
Janelas fechadas durante os fogos-de-artifício
Uma vez que na passagem de ano é frequente o lançamento de foguetes e fogos-de-artifício, as luzes que para as pessoas são de uma beleza extraordinária, poderão ser mais um estímulo causador de stresse e desenvolver medos ou fobias nos animais. “As janelas deverão estar fechadas, bem como as cortinas, de forma a manter a divisão escura e abafar ao máximo o som produzido. Durante os fogos de artifícios, poderá recorrer ainda ao uso de tampões auriculares, tendo especial atenção para que não entrem demasiado no conduto auditivo e depois sejam impossíveis de ser retirados”. Atenção: a aplicação destes tampões “deverá ser treinada e feita gradualmente, sempre associada com um reforço positivo, uma vez que dificilmente o animal irá aceitar a colocação deste tipo de material logo à primeira vez”.
Gonçalo da Graça Pereira lembra que nunca se deve castigar o animal ou obrigá-lo a sair do local onde se sente seguro. “Poderá tentar distraí-lo recorrendo a jogos ou guloseimas que lhe mudem a emoção que está a sentir. E deverá tentar mostrar-se sempre o mais calmo possível e nada preocupado”.
Devo usar feromonas?
O uso de feromonas sintéticas poderá ser útil, uma vez que “conseguimos o apaziguamento e a tranquilidade transmitida por este “odor” libertado no ambiente”. O difusor deverá ser ligado pelo menos uma semana antes das festas e continuar até cerca de um mês após terminar a época festiva. Estes difusores poderão ser adquiridos em qualquer clínica veterinária.
Caso saiba que o seu animal irá ficar demasiado ansioso neste período, o conselho de Gonçalo da Graça Pereira é: “falar antecipadamente com o médico veterinário, que lhe recomendará medicação adequada ou um suplemento alimentar, denominado nutracêutico (como o L-triptofano, caseína ou teanina), que poderão ser fundamentais para ajudar a ultrapassar estes momentos de terror na perspetiva do animal”. Seja medicação ou suplementação alimentar, deverá ser iniciada com alguma antecedência para conseguir uma disponibilidade fisiológica do princípio ativo, que irá garantir o efeito desejado durante toda a época.
Todas as medidas referidas são de emergência e cabe ao dono do animal compreender que necessita de ajuda especializada. “Com um plano adequado de modificação comportamental e algum apoio médico poderemos, antecipada e atempadamente, conseguir resultados toleráveis quer para o animal, como para o tutor. No Centro para o Conhecimento Animal © encontra vários profissionais que estão à sua disposição para o ajudar quer na prevenção como na resolução destes e de outros problemas de comportamento”.
Para terminar, Gonçalo da Graça Pereira deixa uma lembrança: “os animais não são prendas apenas para serem dadas pelo Natal, mas sim para a vida. Por isso, antes de decidir oferecer um animal pondere e decida que está realmente preparado para esta nova aventura da sua vida e um aumento do seu agregado familiar, pois cada vez mais temos mais família multi-espécies nos nossos lares. A adoção de um animal abandonado tornará obviamente o Natal ainda mais repleto de magia para todos, mas esta adoção tem de ser ponderada. Desejo um Natal mágico para todos e que em 2016 haja menos abandono e mais lares para os animais”.