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Vet Póvoa: “Quem não leva o animal ao médico veterinário é mal visto pela sociedade”

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Na Vet Póvoa ‘poucas gorduras’ existem, ou seja, acredita-se no conceito lean. Este está bem patente nesta clínica veterinária, que aposta na diferenciação. “Tentamos que cada pessoa tenha a sua tarefa e que esta seja o mais especifica possível”.

Ricardo Almeida considera-se um “cético da medicina veterinária” porque quando começou a trabalhar, há treze anos, a situação era “bem mais difícil do que hoje em dia porque era complicado conseguirmos convencer os tutores dos animais a avançar com determinados procedimentos – provavelmente também por inexperiência nossa, pois quando acabamos o curso temos receio de estar a promover certos tratamentos”.

 

Atualmente, a realidade mudou bastante (e depressa) e a verdade é que “as pessoas estão muito mais alerta para estas questões. Foram 13 anos onde houve uma explosão de legislação relativa à proteção do animal e o próprio tutor está muito mais alerta e quase que é uma vergonha ter um cão e não o levar ao médico veterinário, quando antigamente era ao contrário”. O diretor-clínico da Vet Póvoa, Clínica Veterinária em Póvoa de São Martinho do Bispo (Coimbra), relata mesmo episódios como o de ter pessoas “que diziam ‘não diga ao meu marido o dinheiro que gastei com o cão’”.  E, muitas vezes, isto acontecia não por problemas financeiros dos clientes, mas porque as pessoas simplesmente “não estavam preparadas mentalmente para gastar aquele dinheiro com um animal. E hoje é ao contrário: quem não leva o animal ao médico veterinário é mal visto pela sociedade”.

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Esta evolução em termos da postura da comunidade para com os animais tem contribuído, na opinião do médico veterinário, para “a promoção das boas práticas”. Daí Ricardo Almeida acreditar que “quem está a trabalhar pelo preço tem os dias contados, apesar de até ter a sua clientela relativamente fixa, ou seja, aquelas pessoas que querem o barato. Noto isto porque começámos nesta clínica há 11 anos e presentemente temos uma equipa, enquanto houve pessoas que começaram quando nós, mas ainda não conseguiram ter equipa”.

Poucas gorduras

 

A Vet Póvoa tem 21 anos nas instalações atuais, sendo que Ricardo Almeida e os dois sócios tomaram conta das rédeas do seu destino há 12 anos, com o médico veterinário a assegurar a gestão do espaço. “Sou muito apologista de que o custo do zero é um custo muito caro para se pagar”, salienta o diretor-clínico, acrescentando que quando “surgiu a oportunidade de ficar com a clínica, visto que o médico veterinário que cá estava se ia reformar, agarrei-a pois o preço pareceu-me bastante agradável tendo em conta a faturação”.

E assim, há pouco mais de uma década, “começámos com um médico veterinário e uma auxiliar e fomos crescendo à medida que o mercado nos ia aceitando”.

 

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A política desta clínica é “um pouco diferente da das novas estruturas que estão a aparecer, dado que acreditamos muito no lean, ou seja, em ‘poucas gorduras’”. O que é visível em termos de edifício e das infraestruturas existentes. “A casa já tem muitos anos, mas todos os anos fazemos obras”, revela o médico veterinário. Tanto que inicialmente havia apenas um consultório e hoje existem três. E a filosofia é muito esta: (continuar a) crescer ‘para dentro’. “Ainda não crescemos ‘para fora’ e parece-nos pouco provável que o façamos”, diz Ricardo Almeida.

Em prol da diferenciação

Na Vet Póvoa trabalha-se em prol da diferenciação. “Trabalhamos mais pela diferenciação do que pelos preços”, reforça o médico veterinário. Não obstante, a diferenciação tem muitas dimensões, nomeadamente o espaço físico, a formação dos colaboradores e a sua experiência, o equipamento, etc.. Neste centro de atendimento médico veterinário (CAMV) preferem apostar na formação e nos equipamentos. “Preferimos ter um ecógrafo topo de gama ou um raio-X, apesar dos gastos brutais”. Isto porque, na opinião de Ricardo Almeida, “a veterinária para ser rentável, ou minimamente rentável, os médicos veterinários precisam de optar se apostam numa estrutura física fantástica e depois têm equipamentos mais fracos ou então deixam de ter vida pessoal porque começam a trabalhar 24 horas por dia para conseguir pagar tudo”. Ou se, pelo contrário, adotam uma postura como a da Vet Póvoa.

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Ao longo dos últimos anos, a clínica foi crescendo lentamente, mas de forma consistente, sobretudo desde que o seu diretor-clínico apostou num MBA em gestão. Um dos conceitos que implementou diz respeito ao chamado produto minimamente viável: “creio que esta ideia devia ser mais aplicada na veterinária, pois começamos por fazer o básico e vamos crescendo à medida que a situação se vai proporcionando”.

Assim sendo, na prática, “avaliamos o custo de um equipamento, por exemplo, de um aparelho de TAC e o volume de TACs que temos. Como verificámos que ainda não se justifica interiorizarmos o equipamento, então trabalhamos em regime de outsourcing”. Até porque, como relembra, não é só o valor do equipamento que é preciso ter em consideração, mas o do investimento na formação do pessoal para saber funcionar com a tecnologia.

Áreas de interesse bem definidas

Na Vet Póvoa, relativamente aos serviços e às valências, faz-se “um pouco de tudo”, sendo que “há realmente situações em que recorremos ao outsourcing”, reitera Ricardo Almeida, acrescentando que “aquilo que não fazemos cá tentamos sempre acompanhar o nosso cliente”.

Apesar de ter “tudo o que é consultas”, mesmo que algumas, como a de animais exóticos ou a de oftalmologia serem em regime de outsourcing, e outras valências como a acupuntura, o core deste CAMV é a cirurgia, nomeadamente na área da ortopedia. “Trabalhamos muito em parceria com colegas, estamos neste momento a receber casos de cerca de 15 clínicas que nos referenciam sobretudo na área cirúrgica”, revela o diretor-clínico.

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Presentemente, a equipa é constituída por seis médicos veterinários, quatro dos quais pós-graduados, dois enfermeiros veterinários e dois auxiliares. Na verdade, na Vet Póvoa “temos áreas de interesse muito definidas”, sublinha o médico veterinário, reforçando que “tentamos diferenciar-nos o mais possível, e, por isso, tentamos que cada pessoa tenha a sua tarefa e que esta seja o mais especifica possível”. Quanto ao futuro, a ideia é continuar, sendo que Ricardo Almeida levanta apenas a ponta do véu: “há dois ou três projetos que estão na gaveta, no entanto ainda não posso falar sobre eles”.

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Ricardo Almeida é da Figueira da Foz e quando a Vet Póvoa, em Coimbra, surgiu no seu caminho não hesitou. Apesar de a sua área de interesse ser a ortopedia, a gestão também ocupa bastante do seu tempo. “Atualmente, o médico veterinário tem duas profissões: a de médico veterinário e a de gestor”, sublinha. Sendo que considera que “não fomos preparados para isto e muita gente não gosta, o que poderá ser um problema”.

Um dos desafios na Medicina Veterinária, para o diretor-clínico, diz respeito aos recursos humanos “porque trabalhamos com pessoas que têm os seus problemas e é preciso gerir bem essas situações”. Na Vet Póvoa trabalha-se por turnos, precisamente “para conseguir conciliar a vida profissional com a pessoal”. Hoje em dia, Ricardo Almeida aposta muito em formação, na área de gestão “por necessidade” e na da ortopedia “por gosto”. Quanto ao facto de a sua área de interesse ser a ortopedia, explica que “na faculdade somos muito maleáveis, sendo que tive um professor que era muito apaixonado pelo que fazia e foi ele que me incutiu o gosto pela ortopedia”.

Olhando para a medicina veterinária, Ricardo Almeida declara-se “um liberal”, explicando que, por exemplo, “acho que a publicidade deveria ser livre”. Por outro lado, chama a atenção para o facto de haver um excesso de oferta. “Se antigamente as pessoas não estavam satisfeitas continuavam a ir à mesma clinica porque não tinham alternativa, hoje à mínima coisa estão menos tolerantes e não têm paciência para reclamar ou para avisar, mudando simplesmente de CAMV”.

 

 

 

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