Em declarações ao “Diário de Notícias”, Carlos Santos, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), fala em feitiço contra o feiticeiro, isto porque após a implantação da referida medida, os médicos apenas picam o ponto, estando menos disponíveis para alargar horário.
Graças àquela iniciativa, os médicos transformaram-se em «picadores de ponto» e «há muito mais dificuldade em gerir os médicos e contar com a sua disponibilidade, agravando os problemas causados pela falta de médicos».
O director de serviço de cirurgia no Hospital de Guimarães assegura que antes daquele sistema ter entrado em vigor «era uma tradição aqui no Norte os médicos abdicarem de livre vontade do direito legal a tirarem um dia de compensação quando faziam uma urgência num domingo».
Agora, descontentes com o controlo biométrico imposto, «todos os médicos passaram a exigir esse dia de compensação, a que legalmente têm direito», explicou o dirigente hospitalar.
«O sistema inventado pelo Ministério da Saúde transformou os médicos em picadores de ponto e o pior é que os directores de serviço não têm autoridade para exigir mais, porque a rigidez reduz-nos a margem de manobra e a flexibilidade necessária para gerir situações em que às vezes precisamos de pedir mais», contou, referindo que «não é por acaso que os ingleses e os americanos não têm este sistema implementado».
Em adição, nem o mecanismo de incentivos previsto no regime de exclusividade para os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) está, segundo Carlos Santos, adequadamente desenhado para melhorar a produtividade.
«Onde é que já se viu um regime de exclusividade que em vez de estar concebido para incentivar uma maior disponibilidade dos médicos, é antes uma forma de pagar para não se trabalhar no privado?», questionou o sindicalista, argumentando que «não são exigidas obrigações específicas em matéria de disponibilidade aos médicos com exclusividade. Enquanto o horário normal seja de 35 horas semanais, os médicos em exclusividade podem fazer 42 horas, mas também no regime anterior poderiam fazer 42 horas e ser remunerados em função desse horário os profissionais sem exclusividade».
Ministério da Saúde confia na melhoria dos níveis de produtividade
Se para o SIM e para a Ordem dos Médicos o balanço do chamado controlo biométrico não traz quaisquer vantagens, sendo mesmo encarado de forma negativa, o Ministério da Saúde (MS) acredita numa melhoria dos resultados ao nível da produtividade.
Mas, aproximadamente um ano após o início da implementação do controlo biométrico nos hospitais, ainda não existe um balanço dos possíveis ganhos para a pontualidade e produtividade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Fonte oficial do MS avançou ao “DN” ter começado a fazer uma avaliação em Julho que prevê concluir até final do ano.
O controlo biométrico consiste na identificação pessoal de cada funcionário através de um código pessoal e da respectiva impressão digital.